Salve, Buteco! O histórico do Flamengo na Arena da Baixada é desfavorável e o time jogou com vários desfalques. Porém, para quem deseja ser campeão, a liderança, que seria obtida com a vitória, não é algo do qual se possa abrir mão. Resultado bom, ruim ou aceitável? Zé Ricardo pareceu satisfeito ou quem sabe aliviado. Na minha opinião, é nas situações adversas que o campeão se impõe e se mostra, exibe o seu ímpeto e a fome de vencer. Percebam que eu estou falando em título, em conquista, e não mais em fuga do rebaixamento ou mesmo classificação para a Libertadores. No primeiro caso, trata-se de realidade impensável para a estrutura e o elenco que o Flamengo possui; no segundo, o resultado mínimo que a torcida espera nesse campeonato, valendo a ressalva de que seria decepcionante terminar 2017 na mesma situação que 2016.
Longe de ter sido um desastre, ao mesmo tempo a atuação do Flamengo na Arena da Baixada confirmou a postura do marasmo, do sentimento morno em relação à vitória, da pouca vontade de vencer. Independentemente de como se encare o empate como resultado final, é preciso enxergar além as circunstâncias que o envolveram. O futebol do Flamengo não convence e nem favorece expectativas mais otimistas.
Com Diego em campo o Flamengo já tinha dificuldades para vencer fora de casa e marcar gols, comparando com as outras equipes que são cotadas para a disputa do título Brasileiro. Logo, não se trata de um fato novo, até porque vem de 2016 e não se consegue perceber evolução significativa na equipe de 2017. O Flamengo/2017 continua sem vocação ofensiva e cria pouco. Parece estagnado no modelo e no patamar de 2016, os quais dificilmente levarão a um título importante, fato cabalmente comprovado pela eliminação na fase de grupos da Libertadores.
Ontem, na Arena da Baixada, o Flamengo foi novamente burocrático, tanto no primeiro tempo, quando marcou seu gol e o Atlético/PR teve chances para empatar e virar, como no segundo tempo, quando adotou postura um pouco mais ofensiva e criou algumas chances, mas permitiu o empate do adversário, que pouco criou. Muitos passes, muito toque de bola improdutivo, poucas jogadas de gol. Ninguém jogou realmente bem e alguns foram mal.
O que fazer para sair da estagnação?
Uma das causas é a aposta em alguns jogadores que não têm nível técnico para serem tratados como titulares absolutos ou pilares de sustentação do time. São eles Muralha, Rafael Vaz e Márcio Araújo. Muralha, com todo o respeito, foi superestimado desde o início. Nenhuma surpresa o seu rendimento oscilante. Rafael Vaz até consegue jogar de forma segura alguns jogos, quando não lhe são atribuídas funções que estão além de sua capacidade; o problema é que o jogador, além de superestimado pela comissão técnica, crê sinceramente que é um fora-de-série. Essa dupla foi responsável pelo gol de empate do Atlético/PR ontem, na Arena da Baixada, o que está longe de ser fato isolado. Enquanto Muralha quase empurrou pra dentro a bola que vinha em sua direção, Rafael Vaz "decidiu" não marcar quem Zé Ricardo determinara. Para um time que cria pouco, as falhas individuais defensivas tiram as poucas chances de vitória, principalmente fora de casa.
O caso de Márcio Araújo é o mais latente. Costuma ser louvado por sua rapidez e por nunca se machucar, mas prestando atenção na sua movimentação dentro de campo, nota-se que o nosso primeiro volante se limita a preencher espaços e a cercar o adversário. É como o time fosse montado em torno de sua improdutividade. De vez em quando, na base da velocidade, rouba ou intercepta uma bola do adversário, mas nunca disputa uma dividida e quando tem a bola praticamente se limita a conduzi-la, sem capacidade de ir além dos passes laterais. Postura de Yaya Touré, futebol de Márcio Araújo. Nenhum outro grande clube brasileiro lhe dispensaria tratamento tão generoso, inclusive porque a quantidade de vezes em que é utilizado, em comparação com outros volantes do elenco, é absurdamente desproporcional. Ontem se escondeu como sempre e quase entregou um gol ao adversário, mas não duvidem de sua presença certa na próxima partida. Algo está errado.
Quando a geração mais vitoriosa da história do clube passou, o Flamengo se tornou pródigo em dar tratamento de ídolo a jogadores que não dão muito retorno técnico, mas têm liderança fora de campo. Por exemplo, aconteceu há pucos anos atrás com o Renato Abreu em final de carreira. Depois de alguns meses e poucos jogos pelo Santos, nunca mais atuou por clube algum. Só que o "Urubu-Rei", além de ter história no clube, cansado e quase pifando era mortal dentro da área e na bola parada. O nível está despencando.
Acredito que o mal-estar que surgia quando se apontava a falta de experiência de Zé Ricardo já tenha sido superado. Qualidades o nosso treinador possui, mas sua insegurança para fugir dessa estagnação é evidente e incontestável. A causa da inércia pode até advir da insegurança de quem está no início da carreira e de algumas convicções conservadoras, mas acredito que outro fator importante é a gestão do elenco. Um treinador novo buscar respaldo e apostar em jogadores experientes ou com mais tempo de casa é previsível e pode até não ser um problema, desde que essa opção também dê retorno técnico e resultados compatíveis com o tamanho e as ambições do clube. Nada de errado em se cercar de Réver, Diego ou Guerrero, e sim com o empoderamento da mediocridade.
Justiça seja feita, Zé Ricardo não toma essas decisões sozinho. No mínimo, houve omissão de seus superiores no momento da montagem do elenco. O perigo é que permaneçam de braços cruzados até o final do ano. Repito o que já escrevi nesse espaço: se o Flamengo, um dos clubes de futebol com maior pressão no mundo, aposta em um treinador inexperiente na profissão, o mínimo que deveria fazer é lhe dar estrutura e elenco de primeiro nível, além de apoio. Mas se a Diretoria, ótima em nível administrativo, também é novata no meio futebolístico, inviabiliza-se a supervisão do trabalho da comissão técnica e gerência executiva, como também a identificação dos problemas e correção de rumos. Eduardo Bandeira de Mello pode ser um ótimo administrador, mas deveria passar longe de uma vice-presidência de futebol, ainda mais quando resolve xingar e qualificar pejorativamente parte da torcida. Fred Luz é o dirigente que defendeu a venda de ingressos em maior proporção a torcedores adversários em 2016, o que no mínimo sinaliza como encara a competitividade no meio do futebol. E Fernando Gonçalves, o "coaching" responsável pela parte psicológica no Departamento de Futebol? Pode-se afirmar que imprimiu ao Flamengo uma mentalidade competitiva e vencedora?
Rodrigo Caetano é o mais experiente da direção em nível de futebol, sem a menor sombra de dúvida, e é claro que teve seus acertos, como nas contratações de Guerrero, Diego e Trauco. Muitas de suas opções, porém, são no mínimo questionáveis. Diz a imprensa que está prestes a contratar mais um jogador com histórico recente de contusões, o que é simplesmente inacreditável. Para cada Elias, Guerrero, Diego ou Everton Ribeiro a torcida terá que aguentar um jogador com condições físicas duvidosas?
No mínimo, as diretrizes e os parâmetros do Departamento de Futebol precisam de sérios ajustes, mas quem no Flamengo tem conhecimento e autoridade para supervisionar Rodrigo Caetano e Zé Ricardo? A Diretoria que tem o mesmo discurso de "consciência tranquila, dever cumprido e o trabalho continua"?
Não reconhecer onde está errando é ruim; não ter autocrítica e bater-boca com a torcida é ainda pior, mas nada é mais danoso do que a omissão.
Alguém poderia contra-argumentar que o campeonato está apenas no começo e o clube já esteve em situação bem pior neste século. Só que não existe (ou não deveria existir) espaço para esse tipo de pensamento, terreno fértil para a acomodação. O Flamengo continua a ser um clube de futebol, e futebol é competição, rivalidade, briga por títulos. Nos últimos anos, quando empurrou com a barriga problemas evidentes, não conseguiu terminar a temporada vencedor. Torço para tudo dar certo, mas prefiro não me calar enquanto ainda dá tempo pra reagir.
Domingo tem clássico contra o Botafogo e a palavra, como sempre, está com vocês, inclusive quem acha que está tudo dentro da normalidade e nada deve ser mudado.
Bom dia e SRN a tod@s.
Longe de ter sido um desastre, ao mesmo tempo a atuação do Flamengo na Arena da Baixada confirmou a postura do marasmo, do sentimento morno em relação à vitória, da pouca vontade de vencer. Independentemente de como se encare o empate como resultado final, é preciso enxergar além as circunstâncias que o envolveram. O futebol do Flamengo não convence e nem favorece expectativas mais otimistas.
Com Diego em campo o Flamengo já tinha dificuldades para vencer fora de casa e marcar gols, comparando com as outras equipes que são cotadas para a disputa do título Brasileiro. Logo, não se trata de um fato novo, até porque vem de 2016 e não se consegue perceber evolução significativa na equipe de 2017. O Flamengo/2017 continua sem vocação ofensiva e cria pouco. Parece estagnado no modelo e no patamar de 2016, os quais dificilmente levarão a um título importante, fato cabalmente comprovado pela eliminação na fase de grupos da Libertadores.
Ontem, na Arena da Baixada, o Flamengo foi novamente burocrático, tanto no primeiro tempo, quando marcou seu gol e o Atlético/PR teve chances para empatar e virar, como no segundo tempo, quando adotou postura um pouco mais ofensiva e criou algumas chances, mas permitiu o empate do adversário, que pouco criou. Muitos passes, muito toque de bola improdutivo, poucas jogadas de gol. Ninguém jogou realmente bem e alguns foram mal.
O que fazer para sair da estagnação?
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Uma das causas é a aposta em alguns jogadores que não têm nível técnico para serem tratados como titulares absolutos ou pilares de sustentação do time. São eles Muralha, Rafael Vaz e Márcio Araújo. Muralha, com todo o respeito, foi superestimado desde o início. Nenhuma surpresa o seu rendimento oscilante. Rafael Vaz até consegue jogar de forma segura alguns jogos, quando não lhe são atribuídas funções que estão além de sua capacidade; o problema é que o jogador, além de superestimado pela comissão técnica, crê sinceramente que é um fora-de-série. Essa dupla foi responsável pelo gol de empate do Atlético/PR ontem, na Arena da Baixada, o que está longe de ser fato isolado. Enquanto Muralha quase empurrou pra dentro a bola que vinha em sua direção, Rafael Vaz "decidiu" não marcar quem Zé Ricardo determinara. Para um time que cria pouco, as falhas individuais defensivas tiram as poucas chances de vitória, principalmente fora de casa.
O caso de Márcio Araújo é o mais latente. Costuma ser louvado por sua rapidez e por nunca se machucar, mas prestando atenção na sua movimentação dentro de campo, nota-se que o nosso primeiro volante se limita a preencher espaços e a cercar o adversário. É como o time fosse montado em torno de sua improdutividade. De vez em quando, na base da velocidade, rouba ou intercepta uma bola do adversário, mas nunca disputa uma dividida e quando tem a bola praticamente se limita a conduzi-la, sem capacidade de ir além dos passes laterais. Postura de Yaya Touré, futebol de Márcio Araújo. Nenhum outro grande clube brasileiro lhe dispensaria tratamento tão generoso, inclusive porque a quantidade de vezes em que é utilizado, em comparação com outros volantes do elenco, é absurdamente desproporcional. Ontem se escondeu como sempre e quase entregou um gol ao adversário, mas não duvidem de sua presença certa na próxima partida. Algo está errado.
Quando a geração mais vitoriosa da história do clube passou, o Flamengo se tornou pródigo em dar tratamento de ídolo a jogadores que não dão muito retorno técnico, mas têm liderança fora de campo. Por exemplo, aconteceu há pucos anos atrás com o Renato Abreu em final de carreira. Depois de alguns meses e poucos jogos pelo Santos, nunca mais atuou por clube algum. Só que o "Urubu-Rei", além de ter história no clube, cansado e quase pifando era mortal dentro da área e na bola parada. O nível está despencando.
Acredito que o mal-estar que surgia quando se apontava a falta de experiência de Zé Ricardo já tenha sido superado. Qualidades o nosso treinador possui, mas sua insegurança para fugir dessa estagnação é evidente e incontestável. A causa da inércia pode até advir da insegurança de quem está no início da carreira e de algumas convicções conservadoras, mas acredito que outro fator importante é a gestão do elenco. Um treinador novo buscar respaldo e apostar em jogadores experientes ou com mais tempo de casa é previsível e pode até não ser um problema, desde que essa opção também dê retorno técnico e resultados compatíveis com o tamanho e as ambições do clube. Nada de errado em se cercar de Réver, Diego ou Guerrero, e sim com o empoderamento da mediocridade.
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Justiça seja feita, Zé Ricardo não toma essas decisões sozinho. No mínimo, houve omissão de seus superiores no momento da montagem do elenco. O perigo é que permaneçam de braços cruzados até o final do ano. Repito o que já escrevi nesse espaço: se o Flamengo, um dos clubes de futebol com maior pressão no mundo, aposta em um treinador inexperiente na profissão, o mínimo que deveria fazer é lhe dar estrutura e elenco de primeiro nível, além de apoio. Mas se a Diretoria, ótima em nível administrativo, também é novata no meio futebolístico, inviabiliza-se a supervisão do trabalho da comissão técnica e gerência executiva, como também a identificação dos problemas e correção de rumos. Eduardo Bandeira de Mello pode ser um ótimo administrador, mas deveria passar longe de uma vice-presidência de futebol, ainda mais quando resolve xingar e qualificar pejorativamente parte da torcida. Fred Luz é o dirigente que defendeu a venda de ingressos em maior proporção a torcedores adversários em 2016, o que no mínimo sinaliza como encara a competitividade no meio do futebol. E Fernando Gonçalves, o "coaching" responsável pela parte psicológica no Departamento de Futebol? Pode-se afirmar que imprimiu ao Flamengo uma mentalidade competitiva e vencedora?
Rodrigo Caetano é o mais experiente da direção em nível de futebol, sem a menor sombra de dúvida, e é claro que teve seus acertos, como nas contratações de Guerrero, Diego e Trauco. Muitas de suas opções, porém, são no mínimo questionáveis. Diz a imprensa que está prestes a contratar mais um jogador com histórico recente de contusões, o que é simplesmente inacreditável. Para cada Elias, Guerrero, Diego ou Everton Ribeiro a torcida terá que aguentar um jogador com condições físicas duvidosas?
No mínimo, as diretrizes e os parâmetros do Departamento de Futebol precisam de sérios ajustes, mas quem no Flamengo tem conhecimento e autoridade para supervisionar Rodrigo Caetano e Zé Ricardo? A Diretoria que tem o mesmo discurso de "consciência tranquila, dever cumprido e o trabalho continua"?
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Não reconhecer onde está errando é ruim; não ter autocrítica e bater-boca com a torcida é ainda pior, mas nada é mais danoso do que a omissão.
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Alguém poderia contra-argumentar que o campeonato está apenas no começo e o clube já esteve em situação bem pior neste século. Só que não existe (ou não deveria existir) espaço para esse tipo de pensamento, terreno fértil para a acomodação. O Flamengo continua a ser um clube de futebol, e futebol é competição, rivalidade, briga por títulos. Nos últimos anos, quando empurrou com a barriga problemas evidentes, não conseguiu terminar a temporada vencedor. Torço para tudo dar certo, mas prefiro não me calar enquanto ainda dá tempo pra reagir.
Domingo tem clássico contra o Botafogo e a palavra, como sempre, está com vocês, inclusive quem acha que está tudo dentro da normalidade e nada deve ser mudado.
Bom dia e SRN a tod@s.