segunda-feira, 22 de maio de 2017

Competitividade

Salve, Buteco! Não é a primeira vez que abordo o tema de relevar as derrotas. Uma brincadeira feita pelo presidente Eduardo Bandeira de Melo durante entrevista ocorrida no último período eleitoral, quando lhe perguntaram qual seria o melhor presidente da história e ele respondeu "sem contar eu, é claro, né?", enquanto os outros candidatos responderam "Márcio Braga", permite uma importante reflexão sobre o perfil dos profissionais que trabalham ou lidam com o Departamento de Futebol do Flamengo. EBM, justiça seja feita, pareceu ter feito uma simples brincadeira e provavelmente será por muito tempo lembrado como o presidente que liderou uma verdadeira revolução em nível administrativo no Flamengo, a qual mudou a mentalidade e a forma pela qual o clube lida com administração e finanças, passando inclusive pela estrutura do Departamento de Futebol. Mas fica a pergunta: e o futebol dentro das quatro linhas? A torcida tem motivos para estar (in) satisfeita?

É verdade que EBM somente acumula a vice-presidência de futebol depois da saída de Flávio Godinho, que, porém, foi por ele escolhido. Também é verdade que, logo no primeiro ano da primeira gestão EBM, em 2013, o Flamengo foi campeão da Copa do Brasil e na edição seguinte chegou à semifinal, além de ter conquistado o Estadual no mesmo ano de 2014. Ocorre que nas edições seguintes da Copa do Brasil, após a semifinal de 2014, as eliminações ocorreram nas oitavas-de-final, sendo que neste século os piores resultados obtidos pelo clube na competição haviam sido as quartas de final nos anos de 2000, 2001, 2009 e 2011. Em 2003 e 2004 chegou à final (vice-campeão) e em 2006 levantou a taça.

Na Libertadores, o Flamengo só havia sido eliminado na primeira fase em 1983, 2002 e 2012. Nas duas gestões EBM quase foi igualado o resultado histórico negativo com as eliminações na primeira fase nos anos de 2014 e 2017. Para se ter uma ideia, a gestão Patrícia Amorim, considerada pela torcida como uma das piores da história, não trouxe um expressivo título como o da Copa do Brasil, porém, apesar do resultado de 2012, também obteve uma vaga em G4 (Brasileiro/2011) e levou o time as quartas-de-final na Libertadores/2010 com a vaga do título de 2009, e vale lembrar que o Estadual também foi conquistado em 2011. Enfim, esperava-se que a diferença fosse maior, com melhor desempenho esportivo.

Apesar de não haver mais a remota perspectiva de luta contra o rebaixamento no Brasileiro de pontos corridos, inclusive nos próximos anos, e a chance de classificar para a Libertadores pelo Brasileiro nunca ter sido tão alta em sucessivas edições da competição, em contrapartida a impressão é que o Flamengo está menos competitivo em partidas decisivas e torneios eliminatórios. Não deixa de ser uma surpresa, pois quando o clube era desorganizado financeiramente e não tão bem gerido fora de campo, apesar das campanhas boas alternadas com ruins no Brasileiro, não ia tão mal na Copa do Brasil e nem na Libertadores. Além disso, o risco de repetir 2016 e não disputar o título, mas ficar no G4 ou mesmo um pouco abaixo, é concreto. As quedas de rendimento nas retas finais dos Brasileiros de 2015 e 2016 justificam o receio.

Por isso pergunto: o que fazer para mudar e implementar uma mentalidade vencedora? Qual seria o perfil ideal de jogadores, comissão técnica e diretoria do Flamengo?

Começando pela vice-presidência de futebol e diretoria executiva, contratações como as de Carlos Eduardo, Juan e Ederson, com histórico de muitas contusões e afastamentos do gramado por longos períodos, parece que são vistas como excelentes oportunidades de mercado e negócio, porém apresentam quase nenhum resultado esportivo. No mesmo contexto, é justo perguntar se as contratações de Donatti, Rômulo e Mancuello foram avaliadas sob o ângulo do histórico de contusões. E o que dizer de Conca? Será que a saída da empresa Exos foi bem planejada? Será que era o momento certo? Certeza absoluta é que a falta da maioria desses jogadores foi sentida no último jogo da fase de grupos da Libertadores/2017, em Buenos Aires.

Presidente, vice-presidente de futebol e diretor executivo escolhem o treinador; vice-presidente de futebol, diretor executivo e treinador planejam a temporada e definem o elenco. Pode-se dizer que o critério competitividade foi seguido com a efetivação de Zé Ricardo, treinador em início de carreira? Os erros em Buenos Aires e a postura nos jogos fora de casa não deveriam surpreender.

Em relação ao elenco, alguns exemplos: se Diego e Guerrero, jogadores que têm fome de vitória, foram "tiros certeiros", será que dá pra afirmar que Marcelo Cirino (muito disputado na época) é um jogador de mentalidade competitiva? E a opção por Márcio Araújo, um dos líderes do elenco, e de Rômulo ao invés de Felipe Melo, assim como a renovação do contrato do Gabriel? Pode-se dizer que o critério competitividade preponderou?

Como o problema antecede a efetivação de Zé Ricardo no comando do time, é mais do que justo afirmar que a causa dessa falta de competitividade em jogos decisivos e eliminatórios advém do modelo de gestão do Departamento de Futebol ou no mínimo da maneira pela qual esse modelo é colocado em prática. Zé Ricardo é parte do problema, até porque não conseguiu resolvê-lo, participou da montagem do elenco e escala o time, mas sem dúvida não é a origem. O pensamento de "dever cumprido" por ser correto e a falta de vontade genuína de conquistar títulos o antecedem.

Se a decisão é apostar em Zé Ricardo, uma Diretoria com mentalidade vencedora e competitiva tentaria compensar a falta de experiência não apenas com estrutura física, mas também profissional no Departamento de Futebol, além de reforçar e reformular o elenco sem receio reconhecer a existência de erros nesse quesito. O sucesso no segundo semestre de 2017 dependerá do tamanho da vontade de ser campeão e da coragem para promover as mudanças de rumo necessárias. Lembro 2018 será ano eleitoral, tradicionalmente difícil para o futebol.

Que essa semana termine com a classificação na Copa do Brasil e três pontos na Arena da Baixada.

Bom dia e SRN a tod@s.