segunda-feira, 3 de abril de 2017

Prioridade: Libertadores!

Salve, Buteco! Desde o ano passado tenho lançado alguns contrapontos ao trabalho do treinador Zé Ricardo, como por exemplo a ressalva de que, apesar da melhora que o time apresentou no Brasileiro/2016, e sem retirar o seu mérito, basicamente o trabalho foi desenvolvido dentro de um contexto favorável em relação a Muricy Ramalho, seu antecessor, e em cima do planejamento que o veterano treinador, que buscava se renovar profissionalmente, havia traçado. O contexto favorável foi composto por: a) contusão do então titubeante goleiro titular (Paulo Victor), b) zaga nova (Réver e Vaz), c) Diego, d) uma só competição (Brasileiro) por 2 (dois) meses assim que assumiu o time e e) definição de Cariacica/ES como sede dos mandos de jogo, cessando ao menos temporariamente as estafantes viagens, até então enfrentadas apenas por Muricy. Também ressaltei que conheceríamos melhor o nosso então novo treinador quando tivéssemos a oportunidade de acompanhar o seu trabalho em 2017, com os reforços que indicou (como declarou recentemente em entrevista) e a execução do que planejou juntamente com a Diretoria, inclusive eventuais mudanças táticas. Em suma, embora não houvesse motivos para glorificar o trabalho de Muricy (muito pelo contrário, nenhuma saudade), sempre me preocupou a maneira como (ao meu ver) se superestimou o trabalho do atual treinador, reputado como portador de um talento precoce, sem levar em consideração o contexto em que o trabalho começou a ser desenvolvido.

Outras ponderações foram feitas, como a dificuldade do time para marcar gols e se impor não apenas em jogos eliminatórios, mas em jogos decisivos em geral, inclusive para segurar o placar fora de casa quando abre vantagem. A queda de rendimento na reta final do Brasileiro/2016 por muitos foi atribuída à fadiga e às viagens e consequente perda de tempo para treinos. Ocorre que veio 2017 e, apesar da impressão que contra adversários mais fracos o time se impõe com facilidade e de forma indiscutível e avassaladora, em proporção inversa as dificuldades se multiplicam contra adversários mais fortes. As vitórias se limitaram aos times reservas de Grêmio e Botafogo, bem como sobre um Vasco e um San Lorenzo então combalidos, em que pese a ampla superioridade demonstrada nessas duas últimas partidas após a abertura do placar. Pela Libertadores, repetiu-se contra o Universidad Católica um cenário comum em 2016: domínio de boa parte da partida fora de casa e incapacidade de produzir o resultado, tendo o time saído derrotado no primeiro confronto genuinamente disputado em território inimigo. Nenhuma novidade. Mais do mesmo.

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Já ocorria em 2016, mas em 2017 acentuou-se e se tornou principal característica do time a opção tática por concentrar a saída de bola não nos volantes, mas na zaga, principalmente por Rafael Vaz, que se encarrega de efetuar lançamentos longos, aguardados pelas linhas de meio-campo e ataque, as quais jogam distantes entre si, mas se encarregam de pressionar a defesa adversária visando criar ou converter situações de gol. A movimentação dos jogadores não ocorre para facilitar a construção de jogadas por via de passes, mas para receber os lançamentos longos da zaga. Trabalha-se cada vez menos a bola e utiliza-se cada vez mais os recursos dos lançamentos longos e cruzamentos.

Ontem, contra o time misto do Fluminense, mais uma vez as limitações que esse formato escolhido por Zé Ricardo se mostraram evidentes. A saída de bola é concentrada em Rafael Vaz, zagueiro que, acaso fosse incumbido apenas das funções básicas da posição, poderia ser uma peça razoavelmente segura. Porém, erigido a peça fundamental do esquema tático e sobrecarregado pela necessidade de seguidamente iniciar a construção de jogadas ofensivas do time, comete seguidas falhas tentando cumprir o que lhe determina o treinador. Já é alvo de pesadas críticas da torcida, que não suporta mais as seguidas falhas individuais que comete em seus lançamentos longos, que na verdade, em sua maioria, não passam de "chutões pra frente".

É curioso que, mesmo quando Rômulo ou Willian Arão, volantes de inegável qualidade técnica, estão em campo, a saída via Vaz sempre prevalece, prova de que se trata de uma opção tática do treinador. Quando Márcio Araújo joga, a opção se transforma em imposição circunstancial, já que o "Marujo" não tem dentre suas virtudes a qualidade técnica suficiente para executar a função. Atribuí-la Réver ou Donatti dificilmente resolverá o problema. Ontem, tentando executá-la, o argentino falhou, errou o passe, perdeu a posse de bola e cometeu uma falta para impedir o contra-ataque tricolor, tendo sido advertido com o cartão amarelo.

Volta e meia os lançamentos longos ou chutões (como preferirem) encontram Diego, Berrío ou Willian Arão, e uma jogada perigosa é construída, mas a verdade é que, a cada jogo que passa, o Flamengo de Zé Ricardo é cada vez mais óbvio, previsível e, por isso mesmo, passível de ser neutralizado. É irônico constatar que, após ser atribuída a Zé Ricardo a melhora do time por saber executar melhor que Muricy os conceitos modernos do futebol, aos poucos o que se tinha desse projeto vai se perdendo. O jogo baseado na construção com passes curtos e aproximação dos atletas a partir de uma transição defensiva de qualidade, que Muricy não conseguiu implementar com eficiência e regularidade, senão em ocasiões esporádicas, vai desaparecendo à medida em que o tempo passa e Zé Ricardo fica à frente do time, mesmo ganhando estrutura (condições de trabalho) e reforços, como volantes de boa qualidade técnica. À medida em que o tempo passa com Zé Ricardo como treinador, o Flamengo se aproxima cada vez mais do antigo e pragmático conceito de futebol que predominou no futebol europeu dos anos 90, copiado no passado por grande parte dos treinadores brasileiros, inclusive o Muricy Ramalho de outrora. Cada vez mais me convenço de que os contextos no qual Muricy trabalhou e Zé Ricardo iniciou o seu trabalho precisam ser cuidadosamente ponderados em qualquer análise que se faça de seus desempenhos.

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O diagnóstico da situação é importante para encontrar soluções; todavia, longe de querer fomentar um debate ideológico ou conceitual sobre tática futebolística, apresso-me em ressaltar que quem define o esquema tático é o treinador e não os torcedores do clube. É bem provável que a maioria da torcida prefira jogar com qualidade e conquistar títulos, mas imagino que essa mesma ampla maioria, se fosse obrigada a optar por uma alternativa entre as duas, escolheria a segunda - vencer, ver o Flamengo campeão das competições mais importantes, mesmo jogando feio. O problema é que a hora das decisões está chegando, mas o time e o treinador apenas dão razões para desconfiança, pois cada vez mais se apresenta um futebol feio e ineficiente, especialmente em jogos de maior porte.

Por isso mesmo, se alguém na Diretoria e/ou Comissão Técnica cogitou a possibilidade de utilizar o time titular na sequência decisiva do Estadual e jogos contra Atlético/PR, Universidad Católica e San Lorenzo, pela Libertadores, e também no início do Brasileiro/2017, já deve ter abortado a ideia, se tiver um mínimo de juízo. A bola que o Flamengo está jogando não é suficiente para suportar o desgaste dos jogos por três competições em sequência com o time titular. Portanto, é hora de priorizar porque o time precisa urgentemente de ajustes, sob pena da classificação na competição mais importante (Libertadores) ser posta em risco e o início no importantíssimo Campeonato Brasileiro vir a ser prejudicado.

A questão é: o que fazer? Como melhorar esse time até o dia 12 de abril, data do confronto contra o Atlético/PR pela Libertadores, no Maracanã? O que o treinador pode fazer?

A palavra, como sempre, está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.