sexta-feira, 14 de abril de 2017

Consulta médica





Thiago Ribeiro





Irmãos rubro-negros,


que grande vitória na quarta-feira.

Vitória rubro-negra.

A torcida e o time jogaram muito, muito mesmo.

A nota triste foi a contusão do Diego. Sorte que, no meio dessas quatro ou seis semanas de recuperação, haverá dez dias só de treinos, sem jogos importantes.

Confio que o Diego voltará melhor e mais forte que antes, com mais desejo ainda de jogar pelo Mengão.




Reginaldo Pimenta





Dito isso, tenho a honra de dizer-lhes que a coluna de hoje é um texto sensacional do nosso amigo, Max Amaral.

O Max nos conta uma pitoresca história que ocorreu com ele em Denver, Estados Unidos, onde reside, na quarta-feira, pouco antes do jogo do Flamengo. 

Saboreiem sem moderação o texto muito legal escrito pelo Max.

Com vocês, a...



Consulta médica


A velhice é uma merda.

Umas dorezinhas aqui, uma dor de cabeça constante ali, ronco, respiração curta...

Minha mulher não para de buzinar na minha cabeça nos últimos 3 meses que  “ ‘tá na hora de marcar um check up com a sua médica”.

Eu concordo e, finalmente, marco a consulta.

A data mais próxima é no dia 12 de abril”, me diz a secretária. Mais de um mês de espera, mas vamo lá. Não tem tu, vai tu mesmo...

Não me dei conta de que seria no dia do jogo da Libertadores.

Chega a quarta feira. Dormi mal, acordei às 4 da manhã e não consegui pregar o olho de novo. Dia de jogo, então desisto de ficar enrolando na cama e preparo o ritual da vitória.

Veja bem, o ritual da vitória não é um conjunto de superstições. Como mui sabiamente diz o Arthur Muhlemberg, quem tem superstição é torcedor de timinho. Nós, Flamengos, seguimos tradições e processos científicos e religiosos comprovados.

No meu caso, tenho que colocar minha camisa branca do Hexa logo depois do banho da manhã. Eu a coloco depois da cueca, mas antes das calças, e não posso tocar em nenhum outro “objeto” Flamengo no dia – nenhuma outra camisa, boné, nada. Também não funciona se o intervalo entre o último uso e o próximo for curto – uma semana ou menos. Há outros parâmetros menores, mas esses são os principais.

Ah! Importante: eu não posso tirar a camisa de maneira alguma até o final do jogo.

Vou para o escritório, reuniões intermináveis, as horas se arrastam. Meio da tarde, e... a consulta! Porra, esqueci da consulta! Tenho que sair correndo do meio de uma reunião.

Chego no consultório miraculosamente no horário e a enfermeira me leva para a sala de exames. Faz todas as perguntas protocolares e, por fim,  me diz que a médica já vem me ver. É para eu tirar a roupa e colocar um daqueles aventaizinhos que te deixam com a bunda de fora.

A enfermeira sai. Eu fico ali, com cara de besta.

Alguns minutos depois, uma batida na porta e a médica entra, perguntando se já estou pronto.

Eu, constrangido, explico para ela que não posso tirar a camisa. E explico o motivo. Se ela não puder me atender desse jeito, eu volto outro dia, desculpa aí o transtorno.

Ela ri e diz que entende. O marido é inglês, ela sabe a importância do futebol. Topa me examinar daquele jeito mesmo, eu só tenho que levantar a camisa para ela ver/auscultar/examinar o que tiver que examinar. Tiro até as calças e a cueca, mas a camisa fica.

No meio da consulta, ela deixa escapar que o marido é de Liverpool. Puta coincidência, é o segundo inglês de lá que eu “conheço” desde que me mudei para os States em 2008  (o primeiro foi o meu primeiro chefe aqui, falar do 3x0 em 1981 na entrevista de emprego foi das coisas mais idiotas que eu já fiz na vida).

Termina a consulta, ela sai do consultório, a enfermeira entra para tirar o meu sangue e, tentando disfarçar o riso, me pergunta se é sério o que a doutora falou sobre a camisa. É mexicana, adora futebol, me entende perfeitamente.

- “Qual o seu time?”
- “Flamengo, do Brasil...”
- “Flamengo?! Eu conheço o Flamengo!...” ela diz, e abre um sorriso meio estranho... e ficamos falando um pouco de futebol.

Sai a enfermeira, termino de me vestir e vou saindo. Encontro a médica no corredor e ela, rindo, me conta que ligou para o marido. Sim, ele é torcedor do Liverpool. Sim, ele se lembra do jogo de 1981 e diz que foi das maiores tristezas da vida dele. Sim, ele disse para ela respeitar a minha vontade e não tirar a camisa. Não se brinca com coisa séria.

Volto para casa e me preparo para assistir ao jogo. Tenho certeza de que fiz tudo certo, o Flamengo vai ganhar, e bem.


Começa o jogo e, nos primeiros trinta minutos, é o melhor jogo do Flamengo no ano. Tudo dá certo, tudo parece certo. A camisa funcionou.

Mas, aí, alguma coisa desandou. O segundo tempo foi um sufoco e, até o final, com o Guerrero dando uma aula de como se joga uma Libertadores, um sofrimento só.

Acaba o jogo e o alívio pela vitória é enorme, mas fiquei com uma pulga atrás da orelha. Que catzo aconteceu para a goleada desenhada no primeiro tempo não se concretizar?

Foi então que eu me lembrei:  A enfermeira! A feladaputa da enfermeira! Ela contaminou a camisa quando ficou puxando de um lado para o outro para colocar o aparelho de pressão, tirar o sangue, essas coisas. Foi ela. Me lembrei dela contando que era mexicana e torcedora... do América do México...


Max Amaral.








Que todos tenham uma Páscoa de paz e muito amor.

...


Abraços e Saudações Rubro-Negras.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.