terça-feira, 28 de março de 2017

Público e Renda: mais um capítulo acerca do estádio próprio

Semana passada, a imprensa esportiva fez uma carga excessiva a respeito dos últimos públicos do Flamengo no campeonato carioca, culminando em um texto intitulado “O dia em que o Juventus levou mais público do que o Flamengo...”, de um conhecido jornalista.

Não querendo fazer juízo de valor, o referido texto me impulsionou a olhar com atenção para os borderôs dos jogos do Flamengo na temporada, especialmente neste momento em que o clube está em guerra com a futura administradora do Maracanã. Desta forma, levantamos público e renda líquida do Flamengo em todos os jogos do ano em que teve direito à bilheteria:


Um resumo do apresentado pode ser visto na tabela abaixo:


Não é nenhuma surpresa o fato dos jogos contra os clubes pequenos do Rio serem deficitários. A novidade é o Flamengo levar pouco mais de mil pagantes nos seus jogos.  Naturalmente, há que se analisar o contexto: sem o Maracanã, impossibilitado de usar o Engenhão e com a Arena Ilharão ainda em fase final de acabamento, tivemos que jogar mais da metade das partidas do carioca em Volta Redonda, o que saturou o público local. 

Outro ponto a destacar está na venda das partidas. Os jogos contra Boavista e Vasco, renderam R$ 650.000,00 de cotas fixas ao Flamengo, o que corresponde a 86% de todo o lucro aferido com a bilheteria da competição, até aqui. Pela Primeira Liga, o Flamengo foi o operador do jogo contra o Grêmio, em Brasília, e conseguiu um bom lucro em torno de R$ 550.000,00. Isto mostra o quão prejudicial será, para nós, a regra que não permite que o clube leve os jogos do brasileiro para outras praças. 
Para o futuro próximo, nossa aposta é o Ilharão. O estádio está sendo remodelado de forma a ser um verdadeiro alçapão e aposto que, em termos esportivos, o Flamengo estará bem servido. O problema é que, com uma capacidade máxima em torno de 20.000, o estádio não nos atenderá nos jogos mais importantes, nesta e nas próximas temporadas, especialmente nas fases mais agudas da Libertadores.


Há pelo menos outros três fatores a serem observados, quando se pensa em colocar a maioria das fichas no estádio da Ilha: com um estádio de baixa capacidade, além da geração de renda ser menor que as dos demais clubes grandes do país, fica mais difícil cooptar novos sócios e atingir a meta compatível com o tamanho do Flamengo. Ainda, por mais que o contrato com a Portuguesa pareça ser de médio prazo (3 + 3), a verdade é que seis anos passam rápido demais. Se o Flamengo não se planejar agora, em breve se verá novamente com o mesmo problema de não ter lugar para jogar. 

Por tudo isto, urge o debate pela questão do estádio próprio. A meu ver, esta é uma questão importante demais para ser tocada apenas pela diretoria atual do clube. Os conselheiros, ex-presidentes, oposição e todos os demais torcedores deveriam ser chamados às discussões, para o bem do clube. Se há uma corrente política que defenda um acordo com a nova concessionária do Maracanã, a hora de expor suas razões é essa, em debates onde as vaidades pessoais seriam deixadas na entrada da Gávea. Da mesma forma, devem se fazer ouvir aqueles que entendam que o Flamengo deva se acertar com o Botafogo e assinar um contrato longo para utilização do Engenhão. 


A meu ver, todas as possibilidades devem ser analisadas com muita cautela. Pessoalmente, entendo que um estádio na Gávea, para 45 mil pessoas, seria acessível do ponto de vista financeiro e nos satisfaria a médio prazo. Porém, esta é apenas mais uma das inúmeras possibilidades quando se pensa em estádio próprio.

No meu mundo ideal, todas as correntes políticas do clube seriam trancadas em uma sala e só sairiam de lá com uma solução consensual.