segunda-feira, 27 de março de 2017

Além do Roubo

Salve, Buteco! Clássico dos Milhões no Mané Garrincha, em Brasília, após o Flamengo se classificar antecipadamente para as semifinais do Campeonato Estadual e o Vasco da Gama correndo o risco de ser vergonhosamente eliminado da Taça Rio, perdendo a vaga para o "poderoso" Nova Iguaçu. É verdade que o contexto não se mostrava exatamente convidativo, mas ainda assim a torcida do Flamengo, como sempre, foi maioria no estádio. Já o time, como pudemos constatar, deixou a desejar, especialmente no primeiro tempo, no qual foi incomodado pela postura tática vascaína de marcação na nossa saída de bola via zagueiros, quando não ocorria por meio de chutões de Muralha para a frente. E foi em uma dessas saídas que Réver se enrolou, perdeu a bola e, na sequência, o ataque vascaíno foi mais firme, com Henrique cruzando sem ser incomodado por Márcio Araújo, e Renê e Muralha sendo surpreendidos por Yago Pikachu, que se infiltrou na pequena área para abrir o placar.

***


Muito embora tenha voltado com mais ímpeto no segundo tempo, somente após a expulsão de Luiz Fabiano o Flamengo conseguiu efetivamente tomar as rédeas da partida, tendo em seguida empatado em uma jogada de bola parada perfeitamente executada por Mancuello e Willian Arão, e virado o placar com uma belíssima conclusão de Berrío da entrada da área. Antes disso Réver marcou um gol legítimo, mal anulado, e depois da virada o time ainda criou algumas situações de perigo, mas após a saída de Berrío para a entrada de Marcelo Cirino consolidou-se a inexplicável tendência de recuo que já se desenhava no jogo. Incapaz de ter a posse de bola contra um adversário com um a menos em  campo, o Flamengo chamou para si a pressão como estratégia para segurar o resultado. Apesar do gol de empate vascaíno ter saído de uma marcação de pênalti absurdamente ilegítima, espúria, cafajeste e mal-intencionada, acabou evidenciando a incompetência do sistema tático rubro-negro em se impor pela superioridade numérica dentro de campo.

***

O Flamengo, durante o jogo, foi mais do mesmo: lançamentos, principalmente feitos pelos zagueiros, contra-ataques rápidos e jogadas pelas pontas, com muitos cruzamentos para a área. Durante o primeiro tempo viu-se a repetição de uma cena comum em 2016: Márcio Araújo conduzindo a bola e uma linha de jogadores inerte a sua frente, marcada pela zaga adversária. O Flamengo/2017, assim como sua versão 2016, pouco "gira", pouco se movimenta. Sem movimentação, muito menos organizada, o meio, com Mancuello, que está longe de ser o Diego, e Willian Arão, torna-se limitado na armação, embora ambos sejam jogadores de bom passe. Aliás, a ausência de Diego, que imprime enorme volume de jogo ao time, foi muito sentida exatamente por não existir um esquema tático baseado no jogo coletivo, na troca de passes, na movimentação organizada e concatenada dos setores do time, o que poderia suprir o desfalque individual.

***

Diego e Guerrero fazem muita falta, como fariam a qualquer time no continente, mas ainda assim o elenco do Flamengo não deixa a desejar em níveis nacional e sul-americano. Zé Ricardo está perto de completar um ano dirigindo o Flamengo, porém seu time pouco evoluiu em relação a 2016 e não apresenta compactação (especialmente ofensiva) nem capacidade de trabalhar a posse de bola de forma criativa e objetiva, o que se dá, via de regra, somente por jogadas de velocidade e cruzamentos para a área. A precariedade da saída de bola decepciona e o time continua apresentando desempenho incipiente em jogos decisivos ou contra adversários mais fortes.

Enxergo qualidades no treinador, que se esforça para se atualizar, busca ser criterioso e justo na administração do elenco e tem dado boas oportunidades para a prata-da-casa. Entretanto, parece-me que a boa vontade que em geral se tem para que seu trabalho dê certo leva a uma confusão entre essas virtudes e o que o nosso treinador tem entregado na prática. Se é injusto negar valor a Zé Ricardo, pior ainda é enxergar nele um profissional de ponta, nível que inegavelmente não atingiu.

Para ser justo, embora a análise seja difícil antes de começar o Campeonato Brasileiro, é bem possível que, dentro do cenário nacional, o time do Flamengo, jogando completo, esteja no mesmo patamar dos mais fortes para um torneio de pontos corridos, porém sou da opinião que o futebol praticado no Brasil atualmente é taticamente ultrapassado, não conseguindo sequer alcançar o padrão que algumas equipes sul-americanas (atenção, algumas) atingiram nos últimos anos. É torcer para que na Libertadores/2017 ninguém jogue nesse nível. Por outro lado, acho que o Flamengo deve sempre buscar o melhor treinador possível, ainda que a procura demore ou que o profissional não seja brasileiro.

***

Quarta-feira o Mais Querido pegará o Voltaço no Raulino e domingo será dia de Fla-Flu, em local a ser confirmado. Mandem, como de costume, as escalações e os prognósticos. A palavra, como sempre, está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.