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— "O mais importante no futebol é que os melhores jogadores sejam os zagueiros. Se você sai com a bola, consegue jogar; se não, não faz nada. Se perde muito a bola, o time se desequilibra; se a perde pouco, consegue manter o equilíbrio". (Pep Guardiola)
A frase citada exibe implicitamente a noção de interdisciplinaridade, que se dá quando você utiliza conceitos e preceitos científicos, aplicados em uma outra ciência ou esporte, no caso. O que Guardiola diz se origina na reconstrução e na nova filosofia do basquete moderno, o que se pratica atualmente na Europa, muito bem jogado na Argentina e que entra de vez nos EUA, NBA. Defesa forte, transição calma, não lenta, com objetivo de manutenção da posse de bola até que se ache uma brecha nos segundos finais para não dar chance para o adversário atacar. Infelizmente, o equilíbrio de uma equipe aliada a estrategia da manutenção a todo custo da posse da bola foi deturpada no futebol brasileiro e materializando-se no São Paulo tricampeão brasileiro de Muricy Ramalho que "consagrou" o “ataque vence jogo, defesa vence campeonato”.
A questão principal é como se defende e como se ataca. Aqui a defesa não tem o intuito da obtenção da bola, sim defender por defender apenas, digo melhor defender somente para não levar gols, nunca para ficar com a bola. No basquete e no futebol jogado nos próximos anos será necessário uma defesa “ofensiva”, forte, para que além de pegar o adversário em situação desconfortável, objetive ficar com a posse e desgastar-se menos com um melhor posicionamento em campo. Outro dia ouvi que o Barcelona é o time que menos cansa no mundo, porque não corre atrás da bola. Messi que o diga, jogando mais de 50 jogos na temporada em altíssimo nível e quase não se contundindo, apesar das pancadas. Carlos Alberto Parreira nunca conseguiu implantar efetivamente esta estratégia, pela dificuldade do jogador brasileiro entender, respeitar, sendo muito indisciplinado taticamente, e penso, pouco inteligente também.
Estudar é importante para a gestão da carreira dos atletas do futebol, de suas famílias e traz tranquilidade e consciência para a execução de seus papeis dentro e fora do campo. Jogar futebol nunca foi e nunca será apenas jogar bola, são milhões de torcedores apaixonados pelo mundo. A questão intelectualidade do atleta afeta a inteligência esportiva e emocional, exceto no caso dos gênios, craques. O assunto é muito pouco discutido no Brasil, mas a educação dos atletas do futebol (no caso falta) tem resultado direto no campo. Quando um jogador é intelectualmente acima da média ainda fica marginalizado no Brasil das panelinhas, vira o "polêmico", controverso.
Relacionando diretamente ao Flamengo e retornando a parte tática e estratégica, é importantíssimo uma defesa (sistema) qualificada, "ofensiva" com jogadores rápidos e habilidosos, o fundamento passe preciso, armadores disciplinados taticamente, que pensem o jogo com companheiros que lhes deem opções de passe e atacantes moveis. Jogando um bom futebol fica mais fácil vencer jogos, marcando ofensivamente para ficar com a bola no campo adversário será mais difícil sofrer gols. Este é um problema do futebol brasileiro como um todo, não é comum este tipo de prática. Será necessária uma mudança da mentalidade na formação dos atletas, para melhorarmos o nível do futebol do Flamengo.
Joel Santana é muito bom na parte psicológica e tática de suas equipes, mas péssimo estrategicamente, aplicando o erroneamente o conceito de defesa. Dificilmente jogará com defesa alta (mais à frente) como jogam as equipes mais consistentes. Como produto temos hoje erros de filosofia estratégica dos treinadores (não apenas o Joel) que não enxergam novidades ou criam tendências, os atletas que são mimados, indisciplinados taticamente e fora de campo, isso atrapalha muito. Pensando no futuro a mudança deve se dar na base, agora, individualmente “forçando” o estudo, a leitura, para que o atleta cresça na parte esportiva e em sua vida particular, para criar criticidade e senso de responsabilidade que no "mundo da bola" está em falta.