Saudações
flamengas a todos,
Semana
passada, um desses portais esportivos listou alguns jogos em que
equipes brasileiras teriam colocado times de outros países “na
roda”. Não sei se por clubismo ou mera ignorância, algumas
passagens expressivas da história rubro-negra foram ignoradas.
Assim, esta semana expando o conceito e listo aqui dez jogos em que o
Flamengo, enfrentando equipes europeias, sobrou em campo, venceu com
folga e saiu de campo sob palmas. São partidas apenas de 1980 para
cá. Assim, momentos como, por exemplo, as vitórias sobre Arsenal
(1949), Honved (1957) ou NY Cosmos (1977), ou as inúmeras goleadas
sobre equipes sul-americanas aqui não são consideradas. Nossa
história é vasta demais para apenas um texto.
* * *
10
- VALENCIA-ESP 0-3 FLAMENGO, 1986
Trofeo
Naranja, Estádio Luis Casanova, Valencia-ESP,
Campeão
Estadual, o Flamengo viaja para uma rápida excursão. Após alguns
maus resultados, o inconformado treinador Sebastião Lazaroni exige
empenho da equipe para o jogo contra o Valencia, que encerra a turnê.
Dá certo. Mesmo desfalcado de vários titulares, o Flamengo, após
suportar forte pressão inicial, abre o placar com um chute forte do
jovem Aldair. Na segunda etapa, amplia com Bebeto, aproveitando
assistência de Vinícius e passa a gastar a bola, aos gritos de
“olé” de uma torcida entre enfurecida e encantada. No fim, o
centroavante Vinícius, com estilo, conclui belíssima jogada
coletiva, colocando números finais no marcador. O Flamengo volta a
conquistar o Troféu Naranja. E, admita-se, ficou barato.
9 -
FLAMENGO 5-2 BENFICA-POR, 1997
Torneio
Centenário de Belo Horizonte, Estádio Mineirão, BH
Com
o time em crise, por conta do péssimo início no Brasileiro e do
retorno de Romário ao Valencia, a diretoria pensa em duas válvulas
de escape para a retomada da estabilidade. O anúncio da contratação
de Renato Gaúcho, em litígio com o Fluminense, e a participação
no Torneio Centenário de Belo Horizonte. Após um empate (2-2)
contra o Olimpia-PAR, o Flamengo enfrenta um time misto do Benfica,
com algumas caras conhecidas do brasileiro, como o zagueiro Gamarra,
o meia boliviano Erwin Sanchez e o atacante Paulo Nunes. O time
português, desmotivado pela estreia ruim (1-4 Cruzeiro), oferece
pouca resistência, e o Flamengo abre o placar com Sávio, de
pênalti. No entanto, o Benfica empata a seguir, numa falha de
Clemer. Pouco antes do final do primeiro tempo, Iranildo coloca
novamente o Flamengo à frente. Após o intervalo, o Benfica avança
de forma suicida suas linhas, dando espaços suculentos para o veloz
time rubro-negro. A goleada é construída naturalmente, com Lúcio,
Rodrigo Mendes e Fábio Baiano, descontando Paulo Nunes (num belo
gol, aliás). No entanto, a goleada pouco servirá para acalmar os
ânimos. Dois dias depois, a equipe será derrotada por uma formação
reserva do Cruzeiro, resultado que custará a cabeça do treinador
Sebastião Rocha.
8 -
VALENCIA-ESP 1-3 FLAMENGO, 1997
Trofeo
Naranja, Estadio Mestalla, Valencia-ESP
Encerrando
sua participação em gramados espanhois, o Flamengo enfrenta o
Valencia de Romário, em um Estádio Mestalla com bom público.
Romário, motivado com a qualificação da equipe (que conta com
Zubizarreta e Ortega, entre outros) e com as boas perspectivas na
temporada, comanda o ataque da equipe espanhola. Logo no início,
abre o placar em bela jogada individual, mas a seguir, ao tentar uma
bicicleta, lesiona o adutor da coxa e sai de campo. Sem o craque, o
Flamengo cresce, e, precisando da vitória para conquistar o torneio,
parte para dentro do adversário. É, talvez, a maior atuação
individual de Sávio com a camisa rubro-negra. O atacante é o nome
do jogo. Marca três vezes, arrancando gritos enlouquecidos do
público. A vitória não é suficiente (o Flamengo precisava de mais
um tento), mas o Flamengo sai da Espanha com o prestígio inflado.
Além disso, as atuações de gala de Sávio praticamente selam o
passaporte para a carreira europeia do jogador, que se transferirá
para o Real Madrid ao final da temporada.
7
- HAMBURGER SV 1-3 FLAMENGO, 1989
Hafenpokal,
Estádio Wilhelm Koch, Hamburg-ALE
“Perdemos
para um dos melhores do mundo”, resigna-se o treinador do HSV, após
o verdadeiro passeio que acaba de presenciar, na decisão do
Hafenpokal, um torneio local. O Flamengo de Telê, tentando remontar
sua equipe após o desmonte do Estadual, apresenta algumas caras
novas, como os jovens Gonçalves, Júnior Baiano, Rogério, e Nando,
este vindo do Bangu, primeira tentativa para repor a complicada saída
de Bebeto. Mas são os veteranos Júnior e, principalmente, Zico, que
comandam o baile. O Galo abre os trabalhos aos 3 minutos e depois, à
base do esporro e do incentivo, comanda os garotos, que imprimem uma
alucinada movimentação, desnorteando o adversário, que mal parece
uma das principais equipes alemãs (é o atual 4º colocado). Os gols
saem naturalmente, com Ailton e Nando. Os alemães descontam no final
da partida, quando o rubro-negro já toca a bola sem pressa. Sob
cerrados aplausos, o Flamengo conquista o torneio. É a última taça
erguida por Zico em sua carreira rubro-negra.
6 -
FLAMENGO 3-1 BAYERN MÜNCHEN, 1994
Torneio
Internacional da Malásia, Estádio Shah Alam, Kuala Lumpur-MLS
O
Flamengo participa de um grande torneio internacional, para a
inauguração do vistoso estádio Shah Alam, em Kuala Lumpur. Após
empatar com a Seleção Australiana (0-0) e derrotar o Leeds
United-ING (2-1), chega à final, contra o Bayern München. A partida
é badalada, com presença de várias autoridades.
O campeão alemão sai na frente, mas o Flamengo, em grande atuação
de Rogério e Sávio, logo reage. Rogério empata, numa violenta
cobrança de falta. Na segunda etapa, um tiro despretensioso desvia
num alemão, é o segundo do Flamengo. O rubro-negro, então, recua
as linhas e passa a explorar contragolpes fulminantes, aproveitando a
alucinante velocidade de seu jovem time. Numa dessas escapadas, o
garoto Sávio amplia. Nervoso, o Bayern passa a apelar para jogadas
violentas, tentando conter o ímpeto flamengo. A nota triste é a
grave lesão de Charles Baiano, que o tirará de atividade no segundo
semestre. Ao final do jogo, em que o Flamengo ergue o título, o
treinador Carlinhos, empolgado, exorta: “estamos prontos pro
Brasileiro”. Não estavam.
5
- EINTRACHT FRANKFURT-ALE 1-3 FLAMENGO, 1980
Amistoso,
Waldstadion, Frankfurt-ALE
Apenas
seis dias após a encarniçada Final do Brasileiro, o Flamengo volta
a campo, dessa vez para enfrentar o Eintracht Frankfurt, campeão da
Copa UEFA (hoje Europa League). O forte time alemão, jogando em
casa, logo abre o marcador, numa falha de Cantarele. O Campeão
Brasileiro não se abate e passa a exercer forte marcação no campo
do adversário, imprimindo uma movimentação alucinante. Zico, em
bela jogada individual, sofre e converte o pênalti que empata a
partida. Apesar das inúmeras chances criadas pelo Flamengo, o jogo
vai empatado para o intervalo. Na segunda etapa, inteiramente à
vontade, o rubro-negro marca o segundo, após Nunes receber de
Carpegiani e driblar o goleiro. Depois, o Flamengo passa a rodar a
bola com classe, o que encanta o normalmente frio público alemão.
Com o Frankfurt na roda, a pá de cal se dá com Andrade, em violento
chute de longe. Final, 3-1. Após o jogo, lacônico e ainda
desconcertado, o treinador Grabowski declara, “Zico não nos
impressionou, parece ter se deixado marcar. Mas isso se mostrou
traiçoeiro, pois eles tinham bons jogadores, capazes de aproveitar
os nossos espaços. Futebol alegre e vivaz. Mereceram vencer.”.
Zico, comentando o jogo, apenas menciona, “foi bom jogo, eles nos
fizeram correr”. O Flamengo passa a ser a equipe mais procurada
para amistosos.
4
- FLAMENGO 7-0 REAL SOCIEDAD-ESP
Sharp Cup, Estádio Nacional, Tóquio-JAP, 1990
“Simples,
certo e objetivo”. Esfregando as mãos com os ótimos treinamentos,
o treinador Jair Pereira assim resume seu esquema, pensando em
aproveitar a cansativa excursão para montar a base da equipe para o
Brasileiro. No primeiro jogo, um velho conhecido palco. O Estádio
Nacional de Tóquio, testemunha do Mundial-81 e da Kirin Cup-88. O
adversário, o Real Sociedad, quinto colocado na Espanha. A surpresa,
o gramado, agora sintético.
Diante
de 50 mil aparvalhados espectadores, o Flamengo, após início
hesitante (adaptando-se ao campo de jogo), mostra-se inteiramente à
vontade e passa o trator por cima da boa equipe espanhola (“Não
conseguimos acreditar. Não jogamos. Talvez tenha sido o piso, ou o
adversário, enfim”). O quarteto formado por Bobô (estreando no
rubro-negro), Júnior, Gaúcho e principalmente Renato (que faz o
diabo em campo), vai empilhando gols com inacreditável naturalidade.
Gaúcho é o goleador da noite, com três gols. Renato (2), Bobô e
Bujica completam o marcador. O Flamengo, ovacionado, é o Campeão da
Sharp Cup. Mas o ambiente está longe de ser dos melhores. O
dirigente Francisco Horta, homem forte do futebol flamengo, vai
cumprimentar Renato pela esfuziante atuação. É ignorado pelo
jogador (ressentido com críticas recentes). Alguns dias mais tarde,
acabará demitido.
3
- NAPOLI-ITA 0-5 FLAMENGO, 1981
Torneo
di Napoli, Estádio San Paolo, Napoli-ITA
2 - REAL
MADRID-ESP 0-3 FLAMENGO, 1997
Trofeo
Palma de Mallorca, Estadio Luis Sitjar, Mallorca-ESP
O
valorizado treinador Paulo Autuori, Campeão Brasileiro de 1995,
Estadual e da Libertadores de 1997, enfim aceita o convite de treinar
o Flamengo. No entanto, sua estreia promete ser indigesta, contra os
titulares do Real Madrid (que mais tarde se tornará Campeão
Europeu), no Torneio de Mallorca, na Espanha. “Não pedirei
reforços. Não sou leviano, não conheço o elenco”. A partida
inicia em ritmo lento, com o Real Madrid desinteressado. Porém,
quando Autuori manda o time acelerar o jogo, o Flamengo passa a
controlar inteiramente as ações, e não demora a marcar dois gols,
com Maurinho e Lúcio. O Real, diante da inesperada dificuldade,
desestabiliza-se e passa a caçar os jogadores flamengos. Fábio
Baiano toma as dores e por pouco não é expulso. Na segunda etapa,
mais calmo, o Real começa a impor dificuldades, mas o atacante Suker
se exaspera e é expulso, por reclamação. Está aberto o caminho
para o baile. O Flamengo desperdiça oportunidades sistematicamente,
tem um gol (mal) anulado de Maurinho e, finalmente, chega ao
terceiro, com Sávio, de pênalti. O Flamengo não vencerá o
torneio, mas a brilhante atuação da equipe dá confiança para a
recuperação no Brasileiro. Como curiosidade, o Real, na disputa do
terceiro lugar, escala um time reserva, contra o Vitória-BA. Um
jovem sérvio do terceiro time se destaca, com dois gols e belíssimas
assistências. Seu nome, Dejan Petkovic. A diretoria do Vitória, por
intermédio do seu patrocinador (que já trouxera Túlio e Bebeto),
consegue a contratação do jogador. E o resto é história.
1
- LIVERPOOL-ING 0-3 FLAMENGO, 1981
Mundial
Interclubes, Estádio Nacional, Tóquio-JAP
O
maior jogo da história do Flamengo, a partida que consagra toda uma
iluminada geração de craques. O adversário é o atual Campeão
Europeu. Mais que isso, empilha seu terceiro título europeu em cinco
temporadas. Ganhará de novo dali a dois anos. Na Liga Inglesa,
coleciona troféus como um baralho. Entre 1975 e 1984, conquista SETE
de NOVE campeonatos nacionais. É tido como o principal e mais temido
clube europeu, The Red Army, e assim permanecerá até o surgimento
da Juventus de Boniek, Platini & Cia.
É
esse time, jogando com sua força máxima, que o Flamengo pulveriza e
reduz a escombros no início da tarde de 13 de dezembro de 1981.
Estarrecido, o legendário treinador Bob Paisley tenta encontrar
palavras para descrever o massacre: “Não sei explicar.
Simplesmente não sei. Estávamos preparados, treinamos forte,
estudamos. Mas não tenho respostas”. Mais objetivo, o capitão e
zagueiro Thompson, também da Seleção Inglesa, encontra a
explicação óbvia: “Zico é infernal. Foi simplesmente impossível
marcá-lo. Mesmo longe da área.” Indiferentes aos ingleses, os
flamengos, em todo o Brasil e no Mundo, somente beberam, dançaram e
cantaram a maravilhosa alegria de ser rubro-negro.