Irmãos rubro-negros,
este fim de ano tem sido pródigo em boas notícias fora de campo.
A inauguração do módulo profissional do nosso tão sonhado Centro de Treinamento; a aprovação definitiva para a construção de nosso ginásio na Gávea; e o acordo com a Portuguesa, para mandar jogos em seu estádio na Ilha do Governador.
A minha gratidão a todos que proporcionaram a construção do nosso tão sonho Centro de Treinamento é difícil de mensurar.
O Flamengo já tem uma base para 2017; resta melhorá-la, inclusive com os jovens que atuam no clube.
Os recursos para contratações, contudo, ao contrário do que se poderia supor, não serão vultosos, pois foram feitos gastos elevados em 2016.
Mas não compreendo muito a lógica que envolve os investimentos feitos em 2016, notadamente quanto aos jogadores estrangeiros.
Quanto foi despendido com Mancuello, Cuéllar e Donatti? R$ 20 milhões? R$ 25 milhões?
Tudo bem que os valores foram parcelados, mas o total deve ser alto, considerando que o clube, em razão das dívidas acumuladas, da crise brasileira e dos investimentos em infraestrutura, não tem muita disponibilidade financeira.
Investiu-se alto em três jogadores estrangeiros, porém todos são reservas.
Eu acho que eles poderiam ser muito melhor aproveitados; para tanto, o Zé Ricardo precisa flexibilizar um pouco os seus conceitos e a rigidez do esquema de jogo com dois pontas, cuja função primordial, a par do ataque, é recompor o setor defensivo e marcar jogador adversário pelo lado do campo.
Com uma equipe melhor compactada, esses jogadores de lado não careceriam de tanto vigor físico e abriria-se possibilidade de um time mais qualificado do ponto de vista técnico.
Alguém acha que o Conca, caso ele porventura seja contratado, fará o vai e volta o tempo inteiro? Não vai. E como não tem físico para realizar a função tática, ele vai bancar para o Gabriel?
Não tem lógica, assim como não tem lógica Mancuello e Cuéllar serem reservas do Márcio Araújo.
Dizem que no futebol contemporâneo não há mais espaço para aquele jogador que só tem utilidade sem a bola. E as melhores equipes do mundo parecem confirmar a tese.
No Flamengo, porém, vê-se o aspecto físico sobrepor-se constantemente ao técnico.
E não falo de raça. Não, não se trata disso, pois o Diego é extremamente técnico e joga com alma e com coração.
Uma coisa não exclui a outra, mas se complementam.
Portanto, não adianta o Flamengo contratar bons jogadores se eles não se adequarem ao pensamento do Zé Ricardo. Ou então, cabe ao Zé Ricardo oxigenar suas convicções e procurar extrair o melhor de cada atleta, visando ao crescimento do Flamengo.
Porque um fato é agora incontestável: com o módulo dos profissionais do Ninho do Urubu pronto, com todo o investimento feito em medicina e fisiologia esportiva e com a parceria de sucesso firmada com a Exos, o Flamengo passa a ombrear, em estrutura, aos maiores clubes do Brasil e do continente.
Vou além, e o tempo encarregar-se-á de prová-lo ou não, mas creio que o Flamengo muito em breve se tornará a maior referência da América Latina.
Isso, cedo ou tarde, tem de se refletir dentro de campo.
E algo que tem sido dito e reiterado desde o ano passado, eu inclusive admito que sou extremamente repetitivo, remete à mentalidade que necessita invadir e tomar o clube de alto a baixo: o desejo de glórias, a vontade desmedida de conquista, o orgulho de fazer história, de escrever o nome no panteão dos heróis flamengos, de ser amado pela maior e melhor torcida do mundo.
Antes, resumia-se tudo isso numa palavra, apenas: a velha e legendária raça rubro-negra, a incomparável e inigualável força de vontade que sempre inspirou todo aquele que veste a camisa do Clube de Regatas do Flamengo.
Hoje, com o advento de um profissionalismo em que o bolso sempre fala mais alto, procuram-se novos adjetivos e substantivos para definir aquilo que traduz o coração de uma torcida, lembrando que a torcida do Flamengo é única.
A estrutura, ou a falta dela, não pode mais servir de muleta.
O momento pede um certo retorno às raízes mais puras do Flamengo, um reencontro, eu diria, na medida do possível. Porque sem essa busca, e baseando-se apenas em estatísticas, números e relatórios (sem descurar, obviamente, de sua importância e da necessidade de aprimorar os processos), acho muito difícil o Flamengo alcançar o que todos almejamos: as glórias.
O Flamengo não é um clube comum; o Flamengo não é como os outros; o que vale para uns e outros, não serve para o Flamengo.
Curioso que o único jogo em que vencemos no Maracanã este ano foi exatamente aquele que, embora não tão cheio como os demais, a torcida mais cantou e empurrou o time.
"Isso é fantasia de torcedor", podem redarguir. Que seja. Melhor assim. Futebol sem fantasia nada mais é do um negócio, do qual podemos ou não estar indiferentes, a depender do nosso humor.
Nada mais distante do ideal rubro-negro do que essa racionalização excessiva de algo que remete às nossas mais sinceras e intensas emoções.
Então, irmãos flamengos, que o nosso amado clube ingresse em uma nova fase, moderno, bonito, estruturado, sério, responsável, austero com a utilização dos seus recursos, mas ao mesmo tempo, que ele mantenha a sua mais genuína tradição, que ele mantenha viva a sua alma, e que ele se mantenha, acima de tudo, Flamengo.
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Abraços e Saudações Rubro-Negras.
Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.