Irmãos rubro-negros,
escrevi esta coluna sem saber o resultado da rodada desta quinta-feira.
Resolvi compartilhar com vocês um texto redigido pelo Fernando Calazans, o título também é dele, e publicado em 1992, numa época em que os colunistas ainda se dispunham a falar com alguma poesia.
Vivi intensamente o Campeonato Brasileiro de 1992.
O Flamengo, no início, sequer era apontado como candidato ao título.
Todos os olhos estavam voltados para Botafogo, Vasco e São Paulo.
O Flamengo, nas previsões dos especialistas da época, ainda estava atrás de Cruzeiro, Santos, Corinthians e Grêmio.
Era o patinho feio, o boboca da turma. Falasse alguém sobre possíveis chances do Flamengo e a gargalhada espocava entre os analistas.
Os cobras, os candidatos ao título, eram Botafogo, Vasco e São Paulo.
Não sem razão, é preciso reconhecer.
Tinham os melhores e mais badalados elencos e tinham mais dinheiro também.
Tinham os melhores e mais badalados elencos e tinham mais dinheiro também.
O texto do Calazans, embora refira-se a um jogo apenas, vencido pelo Flamengo por 2x0, já na fase final do campeonato, gols de Júnior e Nélio, demonstra a surpresa e a estupefação da crônica esportiva com a gigantesca façanha do Clube de Regatas do Flamengo.
Vamos à crônica:
Poucas vezes a sorte terá sido tão perversa com um time quanto foi com o do Vasco na noite de quarta-feira, em que todas as forças do futebol pareceram conspirar contra ele.
Não que o time tenha jogado tão bem, nem que tenha merecido derrotar o Flamengo. Mas a verdade é que de repente, sem nenhuma explicação ou indício, uma espécie de maldição baixou sobre o gramado do Maracanã, tendo como única vítima o Vasco, que jogava até um pouco melhor do que o adversário, sem contudo – e isso também é verdade – ameaçar seriamente o gol de Gilmar.
Jogava um pouco melhor, repito, até que outro gol incrível de Júnior – desta vez com a colaboração não de Régis, mas de Wink – parece ter desencadeado uma série de acontecimentos que devastaram o Vasco no segundo tempo, com requintes de crueldade: a expulsão de Jorge Luís, a contusão de Cássio no momento em que ia marcar o gol de empate (ou dar o passe para ele), e a contusão logo em seguida de Eduardo, que reduziu o time a nove e às vezes oito homens contra um Flamengo completo.
Um Flamengo mais do que completo até, se isso é possível. Porque, além de todos os infortúnios, houve ainda uma outra força inelutável que se ergueu contra o Vasco, representada pela camisa do Flamengo.
Aí está a aliança diante da qual até o Vasco – indiscutivelmente um dos três melhores times ao longo do campeonato – teve de se curvar: os golpes de azar e a mística da camisa do Flamengo, pairando altaneira nos grandes momentos de decisão.
Porque de outra forma não se explica que tenha sido vencedor um time que, na mesma noite, reunia em campo o futebol limitadíssimo de jogadores como Piá, Paulo Nunes, Gaúcho, Fabinho e Marcelinho. Ainda que esse time tenha contado também, para que não se faça injustiça, com o talento de Júnior e Zinho, muito bem apoiados na atuação segura de Uidemar, Júnior baiano e Gotardo.
Nenhum dele, no entanto, jogou mais do que a camisa vermelha e preta, no campo e na arquibancada. Não era mesmo noite do Vasco. Talvez o time pudesse ter superado todos os obstáculos que lhe foram criados impiedosamente, menos este: o peso da camisa rubro-negra em todo o estádio.
@ Texto de autoria de Fernando Calazans e publicado no jornal “O Globo”, em 03 de julho de 1992.
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Abraços e Saudações Rubro-Negras.
Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.