É inegável que as trajetórias de Flamengo e Palmeiras se confundam neste brasileiro, e se for pensar um pouco mais, não apenas neste instante. Sempre achei, meus amigos mais próximos podem facilmente confirmar, que os dois clubes têm mais similaridades de que distâncias entre si. Obviamente, cada um de sua forma, com suas peculiaridades, e que mesmo assim, numa História recente são uma espécie de espelho.
Como todo espelho ele reflete e pode enganar a alguém com dificuldades de enxergar, ou propositadamente se manter ali, pura e simplesmente para enganar, como numa casa de espelhos de parques de diversões. São dois clubes populares de cidades populosas e que de certa forma também contam com grande torcida “fora de seus domínios”. Notadamente, o clube carioca tem a maior torcida do país, com capilaridade ímpar e o Palmeiras não é nem o mais popular de sua cidade, mesmo assim conta grande torcida em outras regiões do Brasil.
O Flamengo é um clube de origens populares e fanfarronas, nasceu da vontade de seis jovens remadores que queriam ter mais chances de conquistar as meninas da cidade, encantadas com os praticantes do esporte mais popular daquele momento, o remo. O Palmeiras é um clube de colônia, de origem italiana que gostaria de se firmar, se juntar, se divertir numa terra distante de seu país natal, a Itália. Os oriundi encontraram uma forma de se estabelecer no Brasil mantendo, e por quê não, amplificando sua cultura através dos encontros entre famílias e do esporte. Passaram por dificuldades em períodos de guerra, mas mantiveram-se como um clube popular e esportivo. O Palestra virou Palmeiras.
Os dois clubes têm historicamente para si muita pressão interna, onde geralmente mais atrapalha do que ajuda. Sem contar das páginas de jornais negativas, não gloriosas no campo administrativo, com gestões que não orgulha a nenhum integrante de suas gigantescas torcidas mundo à fora. O Flamengo tem diversos grupos políticos ativos, se não me engano 10 ex-presidentes vivos. É um turbilhão, donde as crises se criam de dentro para fora. No Palmeiras não é muito diferente, existem também influentes ex-presidentes, diversos grupos políticos, pressões e a “turma do amendoim” (torcedores que ficam em áreas nobres do estádio e perto dos treinadores só para reclamar durante os jogos). São famosos, a relação com os treinadores não é legal e o Cuca já sentiu.
Algumas definições de Espelho:
Substantivo masculino
1. Superfície lisa e muito polida, capaz de refletir a luz e as imagens de objetos e pessoas.
2. Qualquer superfície plana capaz de produzir reflexos em certas circunstâncias.
3. fig. modelo a ser seguido; exemplo.
4. Duplicata.
Em minha imaginação, espelhar pode ser a projeção sobre uma realidade perceptível ao olhos (não necessariamente), um engano. Para o leigo que não acompanha os clubes, antes das administrações atuais (Eduardo Bandeira de Melo e Paulo Nobre, ambos no segundo mandato) os clubes estavam em seus piores anos históricos em relação à gestão. Quem pensa desta forma está completamente certo. Gestões catastróficas deixaram o clube carioca e o paulistano em situações políticas, financeiras, administrativas, etc. terríveis. Até em páginas policiais os clubes estavam envolvidos diretamente.
Vejo similaridades. Nos processos de “reabilitação”, mesmo com importantes ressalvas. Responsáveis por modelos de gestão mais modernos, diferentes entre si, Palmeiras e Flamengo iniciaram um distanciamento dos outros grandes clubes do Brasil, onde o foco estava numa condução de menos espetáculo, muito trabalho, voltadas para seu público interno, suas bases, na resolução de seus problemas. O time paulistano não conseguiu resistir aos desmandos e caiu para a segunda divisão por duas vezes, o clube carioca não. Não lembro de quem é a frase, mas “o buraco é grande, mas o Flamengo é maior do que o buraco”.
Nobre promoveu a contratação de profissionais para a gestão do clube, colocou dinheiro de seu bolso, já que é um grande investidor do mercado financeiro e um dos herdeiros do Grupo Itaú. Pegar empréstimos como pessoa física é muito mais “barato” do que na pessoa jurídica (clube). Especula-se 220MM dos quais uma parte foi perdoada e outra já paga, restando menos de 100MM a ser pago. Aí está uma das diferenças entre os modelos, uma espécie de mecenato, já praticado pelos palestrinos na década de 1990, com a Parmalat. É lícito, alguns podem questionar se moralmente é bom, mas é o que mantêm o nível de investimento do clube. Com um detalhe: foi o único dos grandes a não assinar contratos de televisionamento de 2019 a 2024, e também não assinou o Profut.
A gestão Bandeira de Melo é conhecida pelos nós, com anos de desmandos, má reputação, dívidas, gestões nebulosas, entre outras coisas, que começam a mudar com a “chegada” da Chapa Azul, onde grandes Flamenguistas se doaram para mudar a História do clube. Pena que ocorreram desentendimentos e parte deste rubro-negros não faz mais parte desta gestão. O Flamengo segue. Muitas foram as vitórias fora de campo, com suor e esforço, sem mecenato, na raça. A custa de muito suor em campo, sofrimento, também. MUITO sofrimento.
Coincidentemente, as trajetórias se assemelham, novamente. Houve reconstrução dos elencos, maior investimento nas equipes e investimento fora do campo. Em 2016 parece uma projeção já atual de um futuro próximo, onde os clubes parecem mais equilibrados e um com seu estádio (outro por tentar garantir) e investindo em seus CTs (nisso estamos à frente). Tudo isso, para salientar que vencemos uma Copa do Brasil antes deles (2013 x 2015) e tenho a certeza de que temos de vencer um Brasileiro antes deles. Temos de ser o clube original, vencer dentro e fora de campo, sem ajudas externas, somente o justo, o nosso.
Temos
futebol, time, elenco, estrutura e suor para levar o Brasileiro desse
ano pra Gávea, o Palmeiras também, mas e daí? Sofremos demais (sem
coitadismo, odeio isso) por incompetência nossa, também por jogar
longe do Rio. Pela distância, só. Somos de todo lugar, todos menos
alguns. Sem grandes ilusões, sapatinho máximo nessas próximas 11
batalhas e o Hepta vem! Tenho fé, seremos campeões! São Judas
Tadeu está a batalhar por nós, conosco, na verdade.
Esse
título vem sendo construído de forma bem bacana com a torcida sendo
parte fundamental dela.
Seja em Cariacica, seja em Brasília, São Paulo, em qualquer lugar.
Isso mostra nosso tamanho, nossa grandeza, nossa
maior riqueza.
Nosso povo merece essa alegria. Aliás,
alegria
tem 7 letras. Não sei se já perceberam quantas vezes escrevi
Flamengo
neste
texto. Contem, por favor.
P.S.: Pra entendermos um pouco do que é feito o Palmeiras internamente, temos um link do Site Verdazzo, uma das referências de politica interna de clubes no Brasil. É um dos sites mais antigos sobre clubes e com notícias e debates. Salvo engano ele é de 2002.
P.S.2: Coisas de um passado não muito distante. Nosso muro de Berlim, não podemos jamais esquecer. A Gávea respira melhor.