Saudações
flamengas a todos,
Uma fonte
recorrente de comentários costuma recair sobre a análise dos
elencos que o Flamengo monta para a disputa de cada temporada. É
raro nós, torcedores, cravarmos plena satisfação com o plantel
disponível, e não há nada de errado nisto, uma vez que sempre
buscamos evolução e melhoria. Um lateral-esquerdo aqui, um volante
ali, enfim.
Isto
posto, trago aqui rápidas pinceladas sobre os seis elencos flamengos
que lograram conquistar o Campeonato Brasileiro. Seis plantéis
vitoriosos. Algo sobre montagem e características. Talvez daí saiam
conclusões interessantes.
Boa
leitura, pois.
ELENCOS FLAMENGOS CAMPEÕES
1980
TITULARES
Raul,
Toninho, Rondinelli, Marinho, Júnior; Andrade, Carpegiani, Zico;
Tita, Nunes, Júlio César
RESERVAS
Cantarele,
Carlos Alberto, Manguito, Nelson, Leandro; Vítor, Adílio, Gerson
Lopes; Reinaldo, Anselmo, Carlos Henrique
O
Flamengo inicia o campeonato sem centroavante. Cláudio Adão é
afastado e emprestado ao Botafogo e seu reserva, o jovem Gerson
Lopes, lesiona-se na pré-temporada. Enquanto o clube busca um nome
de peso (chega a avançar por Roberto Dinamite, encostado no
Barcelona-ESP, mas o negócio mela na reta final), vai se virando com
o improvisado Tita, sem êxito. A chegada de Nunes, emprestado pelo
Monterrey-MEX resolve o problema.
Nas
demais funções, a opção é pela polivalência, tão ao gosto de
Coutinho. O ótimo e versátil Carlos Alberto é a alternativa para
as duas laterais, onde Toninho e Júnior seguem absolutos. No meio,
Adílio é uma espécie de “décimo-segundo titular”, podendo ser
usado ao lado de Carpegiani ou de Andrade, a depender do contexto, ou
mesmo como falso ponta-esquerda. Quando Zico está fora, é o já
titular Tita quem assume a camisa 10. No ataque, as principais opções
são Reinaldo (ex-América) e Carlos Henrique, ponta muito veloz e
arisco.
No gol,
Raul aproveita lesão de Cantarele e assume a condição de titular.
O ponto
fraco do elenco é a zaga. Rondinelli é voluntarioso, mas possui
pouca técnica. Marinho está em nível superior, mas ainda está se
adaptando ao Rio. Os reservas, Nelson e Manguito, são irregulares.
Também falta um primeiro volante mais experiente, pois o jovem Vítor
ainda não foi posto à prova.
Basicamente,
é um elenco onde figura uma forte e sólida equipe titular, com três
ou quatro boas peças de reposição e vários jogadores ainda muito
jovens, embora qualificados (destaque para o talentoso Leandro, em
transição para o profissional).
* * *
1982
TITULARES
Raul,
Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Tita,
Nunes, Lico
RESERVAS
Cantarele,
Carlos Alberto* (Djalma Braga), Figueiredo, Ademar, Antunes; Vítor,
Júlio César Barbosa, Peu; Chiquinho (Popeia), Anselmo (Reinaldo),
Edson
*
Lesionado, não disputou o Brasileiro
A
filosofia de aproveitar jogadores versáteis, “multifuncionais”,
característica do trabalho de Coutinho, também é seguida por
Carpegiani, que prefere apostar em poucos reservas efetivos, mas
capazes de exercer distintos papeis em campo. Nesse contexto, além
do time titular, há o zagueiro Figueiredo, capaz de substituir
qualquer dos dois titulares, o volante Vítor, que pode fazer dupla
com Adílio ou Andrade, e o curinga Popéia, contratado junto ao
Colorado-PR, capaz de atuar como falso-ponta pelos dois lados ou
mesmo como lateral-direito. As variações do esquema são dadas
pelos pontas especialistas Chiquinho e Edson, especialmente contra
equipes mais retrancadas. Raul segue tranquilo como titular.
Mas há
problemas. Popéia não rende o esperado e perde espaço. Para
complicar, Nunes sofre séria lesão no joelho no meio da competição
e o time decai em rendimento, pois os reservas Anselmo e Reinaldo
(ex-Náutico) são mais estáticos, não possuem a mesma movimentação
do titular. Apenas quando Peu, camisa 10 de ofício, é improvisado
na função de centroavante o time volta a funcionar, lubrificado
pela mobilidade do alagoano. Mas Nunes retorna para as partidas
decisivas, inclusive a tempo de marcar o gol do título.
Outro
problema está nas laterais. A lesão de Carlos Alberto abre uma
lacuna no elenco, pois os reservas Djalma Braga e Ademar (que também
atua como zagueiro) ainda estão muito “verdes”. O jeito é
recorrer ao instável Antunes (que atua pelos dois lados) como
alternativa de reposição.
Tal como
ocorrera em 1980, o Flamengo realiza sua campanha com um time-base e
poucas peças de reposição efetivas. Mas sofre com alguns problemas
de lesão que tornam a trajetória mais árdua.
* * *
1983
TITULARES
Raul,
Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Vítor, Adílio, Zico; Élder,
Baltazar, Júlio César Barbosa
RESERVAS
Cantarele,
Cocada, Figueiredo, Zé Carlos II, Ademar (Adalberto); Andrade*,
Bigu, Gilmar Popoca; Robertinho, Ronaldo Marques (Bebeto), Lico*
(Edson)
*
Titulares lesionados antes das fases finais, não retornaram a tempo
O
frustrante final da temporada anterior faz a diretoria repensar a
montagem do elenco rubro-negro. Nesse contexto, a possibilidade de
dispor de mais alternativas táticas passa a dar a tônica, inclusive
na definição dos reforços a contratar. Assim, chega o caro
Robertinho, jogador veloz, driblador, com passagem pela Seleção,
para assumir a ponta-direita. Baltazar chega para o lugar do
desgastado Nunes, que será emprestado. Tita sai, também por
empréstimo, abrindo vaga no time titular para Robertinho.
No
entanto, o percurso do Flamengo nessa competição é bem mais
instável. O time começa mal, sofre troca de treinadores, perde
jogadores importantes por lesão e, na reta final, volta ao esquema
de falsos-pontas, com a promoção de alguns garotos.
Andrade e
Lico, titulares, contundem-se seriamente, sendo substituídos por
Vítor e Júlio César Barbosa, respectivamente. Outro jovem, o
combativo Élder, ganha a vaga de Robertinho e irá recuar para
compor o meio, liberando Zico e Adílio para atuarem mais adiantados,
o que faz crescer muito o jogo do segundo.
Raul,
buscando encerrar a carreira em grande estilo, está em excepcional
forma. Leandro já começa a se ressentir do esforço de atuar como
lateral e é testado como zagueiro em algumas partidas, mas
Figueiredo segue como principal alternativa para o setor. No meio, a
ascensão de Vítor abre espaço para o promissor Bigu, que realiza
algumas atuações interessantes. Os laterais Cocada (jovem
contratado junto ao Operário-MS) e Ademar são mais utilizados,
dando resposta razoável. Na frente, Robertinho é a principal opção,
entrando no meio dos jogos, usualmente no lugar do inseguro Baltazar
(Carlos Alberto Torres prefere atuar sem centroavante fixo em alguns
momentos). O baixinho Edson também chega a mostrar bom futebol. No
comando do ataque, o garoto Ronaldo Marques também é aproveitado,
marcando inclusive um gol. Os jovens Adalberto, Gilmar Popoca e
principalmente Bebeto (jóia revelada no futebol baiano) começam a
ganhar cancha, entrando em alguns jogos.
Essa
campanha é caracterizada pelo uso de vários jogadores, lançados de
acordo com a circunstância de cada partida. Cai o conceito do
“reserva-coringa”, entra o “reserva-especialista”.
Excetuando-se Figueiredo e Robertinho, não há opções fixas, até
por conta do maior leque de alternativas. Vários jovens são
lançados, já para ganhar experiência para as temporadas seguintes,
ou mesmo para suprir carências surgidas na equipe.
* * *
1987
TITULARES
Zé
Carlos, Jorginho, Leandro, Edinho, Leonardo; Andrade, Ailton, Zinho,
Zico; Bebeto, Renato
RESERVAS
Cantarele,
Leandro Silva, Aldair, Zé Carlos II (Guto), Ayrton; Flávio, Zé
Ricardo, Henágio; Alcindo (Márcio), Kita, Nunes;
O
Flamengo entra para a disputa do Brasileiro com um time titular
qualificado, mas envelhecido. Perde Adílio (dispensado e transferido
para o Coritiba), Mozer (vendido ao Benfica-POR) e Marquinho
(negociado com o Atlético-MG, após a ascensão do jovem Zinho).
Como reposição, traz o experiente Edinho, cria do Fluminense, e o
veterano Nunes, tentativa de melhorar o rendimento do comando do
ataque, após desempenho irregular de Kita.
Antônio
Lopes, em atrito com o elenco, somente resiste a uma partida.
Carlinhos, o auxiliar-técnico, assume e consegue chegar a uma
formação ideal, altamente técnica e competitiva, mesclando a
classe de Zico, Leandro, Edinho, Andrade, e a juventude e o fogo de
Ailton, Zinho, Bebeto e principalmente Renato Gaúcho, ajudados pela
excepcional fase de Zé Carlos (que vive o auge da carreira) e
Jorginho. A grande surpresa é a ascensão do lateral Leonardo, que
substitui Adalberto, às voltas com uma séria lesão óssea.
O
problema é que este time (que atua magistralmente nos 2-1 sobre o
Vasco) não possui peças de reposição. Apenas os talentosos
zagueiros Aldair (que por pouco não se queima após péssima atuação
como lateral-esquerdo na estreia) e Zé Carlos II, o irrequieto
atacante Alcindo e talvez o tranquilo volante Flávio aparentam
reunir condições de atuar como titulares. O meia Henágio é
habilidoso mas tem problemas extracampo, o lateral-esquerdo Ayrton é
contratado às pressas para repor a perda de Adalberto mas não
rende, o atacante Kita já não consegue superar a desmotivação e
Nunes, após criar problemas com vários jogadores, perde espaço. O
Flamengo ainda tenta contratar o experiente baixinho meia Osvaldo
(destaque na Ponte Preta e no Grêmio) como uma alternativa a Zico,
mas o jogador é reprovado nos exames médicos.
E o time
sofre com diversos problemas. Zico (contratura muscular), Bebeto
(tornozelo), Edinho (fratura no malar após agressão de Geovani
contra o Vasco) e Jorginho (problemas na renovação do contrato) vão
desfalcando e desfigurando a equipe, que não se encontra. Somente na
reta final, quando todos estão à disposição, o Flamengo engrena e
arranca rumo ao Tetra Brasileiro.
Em
síntese, a campanha é caracterizada pela rápida definição de uma
equipe titular, com poucas peças de reposição, que quase
comprometem o resultado final.
* * *
1992
TITULARES
Gilmar,
Charles Guerreiro, W.Gotardo, J.Baiano, Piá; Uidemar, Júnior,
Nélio; Júlio César “Imperador”, Gaúcho, Zinho
RESERVAS
Adriano,
Cláudio, Gelson Baresi (Mauro), Rogério, Fábio; Fabinho,
Marquinhos, Luís Antônio (Djalminha); Paulo Nunes, Toto, Marcelinho
A base
vitoriosa da temporada anterior é mantida, sendo apenas reforçada
pelo atacante Toto, destaque no Campeonato Catarinense.
O elenco
parece homogêneo, aparentemente com boas peças de reposição para
todos os setores. O destaque no banco de reservas é Fabinho, capaz
de substituir os laterais e atuar como volante, sempre com a mesma
qualidade (sua melhor atuação no Brasileiro é nos 3-1 sobre o
Corinthians no Pacaembu, quando jogou na lateral-esquerda). O volante
Marquinhos também é muito utilizado por Carlinhos, atuando
praticamente como se titular fosse. Outra peça fundamental é Paulo
Nunes, que se reveza na equipe com o meia Júlio César Imperador, a
depender do contexto da partida (equipe mais veloz ou técnica). Há
ainda a zaga, em que Rogério e Júnior Baiano vivem às voltas com
uma disputa ferrenha pela posição de titular, administrada com
cuidado por Carlinhos. São utilizados vários jogadores egressos da
equipe campeã da Copa SP de 1990, que enfim começam a se firmar
como profissionais.
O ponto
fraco está justamente na única posição que foi reforçada, o
comando do ataque. Gaúcho sofre séria lesão muscular e se ausenta
por quase dois meses. Toto é esforçado e possui senso goleador, mas
é estático, não dispõe da mesma mobilidade do titular (Gaúcho,
apesar de pouco técnico, é um atacante que se desloca muito).
Carlinhos tenta improvisar um ataque sem “nove fixo”, mas o time
não reage, despenca na tabela e por pouco não cai eliminado ainda
na Primeira Fase. A reação se dá justamente com a volta de Gaúcho
que, embora em má fase, reequilibra taticamente a equipe, que se
reencontra e arranca para a classificação e para o penta.
É um
elenco forte, homogêneo, que utiliza fartamente jogadores oriundos
das divisões de base, em um time titular em que há algumas posições
em aberto, permitindo a participação de vários
“reservas-titulares”, até porque Carlinhos não fecha uma
formação titular inicial fixa, alterando-a a depender do que pede
as circunstâncias da partida.
* * *
2009
TITULARES
Bruno,
Léo Moura, Álvaro, Ronaldo Angelim, Juan; Aírton, Maldonado;
Willians, Petkovic, Zé Roberto; Adriano
RESERVAS
Diego,
R.Galhardo, David, Fabrício (Wellinton), Everton; Toró, Lenon,
Kleberson (Erick Flores), Fierro; Gil, Denis Marques, Bruno Mezenga
O
Campeonato de 2009 possui uma peculiaridade em relação aos demais,
que é a possibilidade de alterações radicais no elenco durante a
competição. Assim, o Flamengo perde dois titulares (o volante Ibson
e o atacante Emerson Sheik) e uma peça de reposição importante (o
atacante Josiel), todos negociados. A reposição desses nomes se dá
com a chegada do atacante Denis Marques e do volante Maldonado (que chega em baixa, por conta do histórico de lesões).
Além
disso, o Flamengo se vê obrigado a reforçar a zaga, que perde força
com a aposentadoria de Fábio Luciano. Após más experiências com
os jovens Wellinton e Fabrício, e com uma mal-sucedida improvisação
do volante Aírton, chegam dois reforços, o talentoso mas contestado
Álvaro (que vive declínio na carreira) e o promissor David. Contra
as expectativas, Álvaro toma conta da posição, formando uma
elogiada dupla com o experiente Ronaldo Angelim.
Mas os
maiores reforços do elenco surgem como “negócios de
oportunidade”. Adriano, o Imperador, está desmotivado e força sua
saída da Internazionale. O Flamengo, ainda ressentido da perda do
atacante Ronaldo, consegue trazer o polêmico jogador, que chega com
status de ídolo. Além de Adriano, o veterano e decadente meia
Petkovic renegocia uma pesada dívida que tem a receber e acerta seu
retorno, numa medida polêmica que chega a derrubar a direção do
futebol do clube. No entanto, Adriano e Petkovic serão os
condutores, as peças diferenciadas que levarão o Flamengo ao Hexa
Brasileiro, juntamente com um qualificado mas problemático grupo de
jogadores.
O
restante do elenco é complementado por peças da base e os úteis
Everton (que supre a ausência do lesionado Juan, surpreendendo como
lateral-esquerdo), Fierro e Kleberson. Na reta final, as lesões de
Adriano e Maldonado preocupam, mas os limitados Toró e Bruno Mezenga
são absorvidos por um time já focado no título. Gil, outro jogador
contratado em baixa, não rende e sai sem deixar saudades.
O time
titular é muito bom, com algumas boas peças de reposição, mas de
um modo geral há um desequilíbrio, que irá se tornar mais visível
na temporada seguinte, pois muitos jogadores demonstram bom rendimento em curto prazo, não reunindo mais consistência para funcionar por períodos longos