Eles vêm
de todos os lados.
Jorram
caudalosos, de todos os cantos, sem rosto, sem nome, sem idade, sem
origem. Irmanados apenas e tão somente em uma mancha em rubro e
ébano, formando uma massa disforme e pulsante, feérica, quente.
Quase se pode tocar a energia que irradiam.
Mas quem são eles?
Quem são
esses que fecham ruas, que ocupam praças, que estendem faixas, que
entoam cânticos divinais, que invadem, sem pedir licença, casas,
lojas e bares com sua flamante presença?
O que os
move?
O sol
escaldante em suas frontes, o suor que se mescola ao vapor
iridescente que se refrata do chão embrasado, tudo apenas inflama
ainda mais o ânimo e o espírito dessa sagrada turba, ornada em
andrajos de gala, ostentando orgulhosa suas cores. As cores que
definem uma identidade.
Por que
os temem?
Não são
feios, sujos, tampouco malvados. Mas se multiplicam em escala
geométrica, sua grandeza assusta os desavisados e os acostumados com
a índole cevada pela pequenez de pensamentos. São ruidosos, mas não
fazem arruaça. Caminham e cantam, batucam e dançam, impávidos.
Convergem sem um átimo de hesitação ao mais inusitado dos altares.
Querem
celebrar o amor.
Querem
apenas cantar ao mundo inteiro a alegria de ser rubro-negro. Viver
Flamengo em sua linda essência. Exalar-se flamengos, fazer jorrar de
suas entranhas a transbordante e arrebatadora paixão que os define
parte, corpo e alma da mais grandiosa das dádivas que se pode
receber em vida. O maravilhoso dom de ser Flamengo.
Que se
festeje, pois.
Que se
transforme aeroportos em estádios, estádios em templos, que se
transfigure a milagrosa alquimia da sacra e cósmica fusão que se
reveste na síntese do caráter que tem forjado o Flamengo ao
longo de mais de 120 anos. A fusão do Flamengo com sua gente. Porque
o Flamengo é a sua gente. A sua gente faz o Flamengo. Sem sua gente,
não existe o Flamengo.
Onde
estiver, estarei.
Uma
grande batalha se avizinha. Não as tememos, não as receamos, não
nos escondemos. Ao contrário, vivemos e nos alimentamos desses
grandes momentos, é quando nos agigantamos e nos fazemos fortes,
temidos, imparáveis. Não fomos concebidos para fenecer à sombra da
obscuridade. Nossa sina, nosso destino, nosso desígnio, é a luta, a
guerra, a lide nos maiores palcos, nosso alvo sempre estará nos
triunfais píncaros da conquista, da glória. E, enquanto pulsarmos,
lutaremos ardentemente por cada naco, cada átimo de êxito, pois
simplesmente nos recusamos a conceber e a aceitar o revés.
Tiraram
nossa torcida, negaram-nos algumas vitórias, quebraram-nos
jogadores, desfiguraram em caolha a tal cega Justiça. Mas jamais nos
arrancarão de nossa essência, nunca nos tirarão aquilo que nos é
mais caro, aquilo que nos define e nos alimenta. Nossa voz. Nossa
força. Nossa fome. Nosso amor.
Porque,
entre aqueles anônimos em preto e escarlate que suaram sol e
fecharam aeroporto, estou eu. Está você. Estamos todos nós, braços
acorrentados em uma indestrutível corrente de fé, amor, paixão e
energia. Logo mais, torceremos, vibraremos, gritaremos, pularemos,
expeliremos sangue, se for necessário. Estaremos no estádio. Seremos maioria. E jogaremos. Como só nós
sabemos fazer.
E
venceremos.