segunda-feira, 18 de julho de 2016

Minutos que Desconstroem

Salve, Buteco! Uma das vantagens (para mim) do jogo no sábado é não precisar escrever o texto de segunda-feira sob o calor das emoções. O Buteco tem uma tradição e não é fácil escrever algo de qualidade a respeito de uma uma goleada sofrida em poucos minutos no Itaquerão ou de uma vitória que se foi também em questão de minutos contra o Botafogo, na estreia da caricata e improvisada arena que leva o nome do time do canil. Não sei se a expressão "queixo-de-vidro" ainda é a mais adequada, mas exemplos recorrentes evidenciam que o atual time do Flamengo em poucos minutos é capaz de desmanchar toda uma atuação convincente contra um dos adversários mais fortes da competição ou uma vitória eficiente, embora sem exibir um futebol de maior qualidade (como no sábado), contra um adversário mediano, fraco, porém muito aplicado e determinado, além de ser um rival muito tradicional.

A disparidade técnica entre os dois times, na minha opinião, é algo evidente, inquestionável, não aberto à menor discussão. Leio em vários portais análises no sentido de que "o Botafogo foi melhor", mas acho que essa conclusão é bastante relativa. Acho que, naquele primeiro tempo, correu mais, admito que se postou de forma muito mais aplicada e até organizada dentro de campo, mas melhor? Bem, nas poucas vezes em que o Flamengo colocou a pelota no chão e tocou de primeira, envolveu o adversário de forma tão fácil e simples que só lhe restou o recurso das faltas grosseiras. Pergunto-me por que não fez mais vezes? E para quem ainda tem dúvida, eu faço questão de mostrar os números: o "melhor Botafogo" (ao longo da partida) teve 46,5% contra 53,5% de posse de bola do Flamengo, além de 293 (duzentos e noventa e três) passes certos e 50 (cinquenta) errados contra 343 (trezentos e quarenta) e três passes certos e 43 (quarenta e três) errados do Flamengo. O melhor, então, é um tanto discutível nesse caso, concordam?

Arrisco-me a ser mal interpretado, mas há muito tempo tenho a convicção que o Flamengo tem enraizado, em nível cultural, o mau hábito de "rebolar no 1x0". Às vezes nem no 1x0. O Flamengo é capaz de fazer graça sequer estando em vantagem no placar.  Basta estar envolvendo o adversário e começam as reboladas, os toquinhos e a descontração tática. Amig@s do Buteco, lembro-me disso acontecer em partidas contra os mais diversos adversários e nas mais distintas situações e locais do país e no exterior, há décadas. Não tenho dúvida de que, no primeiro tempo, foi esse relaxamento que levou Marcelo Cirino a estar pensando em qualquer coisa, menos em suas obrigações defensivas quando deixou Diogo Barbosa livre para a conclusão em um momento no qual o Botafogo simplesmente não demonstrava ter forças para chegar ao empate.

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Veio o segundo tempo e os 3x1 construídos com naturalidade e na base da superioridade sobre o adversário. Um time superior impondo-se sobre outro inferior. Ponto. Consultando o Footstats (www.footstats.net), constato que aos 23 (vinte e três) minutos da segunda etapa o Flamengo já vencia por 3x1, mas Canteros estava em campo desde os 15 (quinze), entrando no lugar de Marcelo Cirino, que teve atuação individual simplesmente desastrosa. O porquê do recuo do Flamengo, a partir de então, é o "xis" da questão.

Zé Ricardo não está errado quando afirma ser natural um time que está em desvantagem no placar, ainda mais em um clássico, lançar-se ao ataque em busca da reversão do resultado. Condenar a substituição de Marcelo Cirino por Canteros é exagero, pois o atacante fazia uma de suas piores atuações pelo Flamengo e tod@s sabemos que sua tenebrosa fase, repleta de más atuações, já dura alguns meses. Mas com a entrada de Canteros e pelas ausências de Alan Patrick e Ederson, o Flamengo não tinha um meia autêntico para escalar e então estava com quatro volantes (primeiros volantes ou não) em campo - Márcio Araújo, Willian Arão, Mancuello e Canteros, além de um misto de ponta e meia entre esses quatro volantes e Guerrero, Everton.

Ricardo Gomes, aos 27 (vinte e sete minutos), com 1x3 no placar, substitui Bruno Silva, volante, por Juan Salgueiro, atacante. O Botafogo ganha o meio de campo e parte com tudo para o ataque, pressionando o Flamengo. O esquema, com Canteros, que não entra bem, não funciona. Aos 34 (trinta e quatro) minutos, Neilton marca o segundo gol do Botafogo. Aos 36 (trinta e seis) minutos, Zé Ricardo então substitui Everton, autor de um gol e de assistências para dois outros, por Cuéllar, e o Flamengo passa a ter cinco volantes em campo (Márcio Araújo, Gustavo Cuéllar, Willian Arão, Mancuello e Canteros) e Guerrero isolado no ataque. No minuto seguinte, ou seja, aos 37 (trinta e sete) minutos, Juan Salgueiro empata a partida para o Botafogo.

Aos 39 (trinta e nove) minutos, Zé Ricardo substitui Mancuello por Fernandinho. O Botafogo continua a atacar, mas o Flamengo volta a responder, tanto que aos 46 (quarenta e seis) minutos do segundo tempo Fernandinho passa para Canteros, que por muito pouco não dá números finais à partida, e tudo termina mesmo no frustrante (para nós) empate em 3x3.

Mais uma vez, o Flamengo se desmanchou em poucos minutos. Os jogadores, novamente se apequenaram dentro de campo, mas dessa vez, fora das quatro linhas, temos a certeza de que o treinador também tomou as decisões equivocadas (há dúvidas se foi ele mesmo que estava à frente do time contra o Corinthians no segundo tempo no Itaquerão). Falta estabilidade emocional e preparo psicológico para lidar com momentos de maior tensão e competitividade? 

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Para mim, foram dois pontos perdidos. Zé Ricardo se perdeu em meio a uma série de decisões infelizes. Se acertou em cheio na escalação do Everton, foi infeliz nas decisões que tomou nas substituições. Não sei se Zé Ricardo treinou o esquema com cinco volantes (primeiros volantes ou não) e Guerrero isolado no ataque e para a situação de jogo que se apresentava ("segurar o placar"), mas fiquei com duas certezas e uma dúvida após a partida de sábado. Primeiro, a dúvida: acho muito difícil essa formação ter êxito. Agora, as certezas: a) falta muito para que dê certo e b) se treinou, Zé Ricardo precisa refletir bastante e aprimorar o seu senso para decidir o momento exato para utilizar suas novas ideias, pois a verdade é que o time ainda não sabe jogar de forma eficiente fora das variações 4-3-3 e 4-2-3-1, ou seja, com dois pontas abertos. Uma pena, pois o ideal seria conseguir variar taticamente. Quem sabe com menos rachões e mais treinos as certezas e variações táticas não aumentem em qualidade e quantidade?

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Por outro lado, por mais que eu ache (e tenho a impressão que muit@s hoje concordam comigo) que o Botafogo, no cenário nacional, não pode mais ser considerado um clube grande, e sim um clube médio forte e tradicional, o confronto com o Flamengo ainda é repleto de muita rivalidade. Se esse confronto pode ou não ser chamado de clássico é um simples detalhe, um jogo de palavras, talvez. O certo é que a rivalidade existe, é forte, antiga e muito tradicional. O confronto de sábado mostra que falta a alguns jogadores do elenco o verdadeiro espírito de competição, especialmente em partidas como essa. A verdade é que tivemos um adversário com postura muito mais nobre e aguerrida dentro de campo para encarar o confronto, ainda que com qualidade bastante inferior.

Cito como exemplos claros, dentre os atletas, Willian Arão, que novamente decepcionou ao enfrentar seu ex-clube e não se apresentou para o jogo (ao contrário, escondeu-se), e Marcelo Cirino, disperso e com atuação tecnicamente horrorosa. Menciono ainda o Márcio Araújo, que, embora seja um jogador que corre muito dentro de campo, ainda no primeiro tempo, com o time na frente do placar, várias vezes abandonou a função para tentar "armar o jogo" na intermediária adversária, o que acarretou a perda da posse de bola e contra-ataques perigosos, podendo assim ser citado com um exemplo da falta de seriedade e concentração tática que mencionei no início do texto.

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Mais uma semana de treinos até o confronto na segunda-feira, dia 27.7, contra o América/MG, em Cariacica/ES. A torcida rubro-negra capixaba está convocada. Resta-nos aguardar evolução maior do que a ocorrida nesta última semana de treinos após o confronto contra o Atlético/MG.

Bom dia e SRN a tod@s.