segunda-feira, 4 de julho de 2016

Entre o Choque de Realidade e a Cortina de Fumaça

Salve, Buteco. É sempre muito difícil tentar manter a compostura  e a racionalidade após uma goleada contra um tradicional adversário, ainda mais com o time sendo superior em campo até o momento do primeiro gol e com a arbitragem tendenciosa contra o Flamengo. Contudo, embora goleadas raramente sejam previsíveis, não acredito que um resultado como o de ontem seja obra do acaso e nem possa ser legitimamente atribuído a um árbitro que, além de péssimo e de colecionar atuações ruins e muitas confusões ao longo da carreira, costuma com frequência prejudicar o Flamengo com as decisões que toma dentro de campo. Aos fatos, então.

Primeiramente, futebol é eficiência, é resultado. Inegável o seu caráter pragmático. Donde ser altamente discutível a vantagem de se ter um time que domina o adversário no toque e na posse de bola, mas não consegue traduzir as oportunidades criadas em gol, o que está longe de ser um mero detalhe no futebol. Ocorre que o Flamengo tem o quarto pior ataque da competição, dividindo a posição com Atlético/PR e Fluminense, ficando à frente apenas de São Paulo (3º), Figueirense (2º) e América/MG (1º). Equipes como Santa Cruz, Botafogo, Coritiba, Vitória e Sport Recife têm ataques mais positivos do que o Flamengo ao final da 13ª Rodada do Campeonato Brasileiro. Pergunto-lhes então se essa situação é minimamente razoável, dados o orçamento do Departamento de Futebol e a folha de pagamento do elenco?

Em segundo lugar, como um time pode desmoronar dentro de campo em níveis tático e emocional como o Flamengo após o primeiro gol do Corinthians ontem, no Itaquerão? Por acaso algum dos três gols subsequentes contrariaram as regras do futebol profissional? Por que o time não demonstrou o poder de reação que teve, por exemplo, contra Chapecoense, Ponte Preta e São Paulo? O que explica o apagão completo? Por favor, não me venham falar em desgaste físico, que simplesmente não era sentido até o momento do primeiro gol do adversário. A questão é a completa sucumbência mental, o total desmanche tático e a inoperância subsequente. Por quê? Os jogadores não acreditam no título, na competição, na disputa? Temos uma Diretoria e um time com mentalidade perdedora?

Em terceiro lugar, por que o Flamengo tem apenas um meia, no caso, Alan Patrick, do qual o time já desenvolveu completa e preocupante dependência? Em uma partida como ontem, na qual os erros superaram as boas jogadas, simplesmente foi impossível substituí-lo, especialmente porque resolveram submeter Mancuello (volante, não meia, mas a melhor opção para substituí-lo) a um programa de "reforço muscular". Se a atividade e o afastamento eram absolutamente imprescindíveis eu não tenho como dizer, mas que o afastamento se deu no pior momento possível eu tenho a mais absoluta certeza.

Em quarto lugar, não se trata de imputar a Jayme de Almeida a responsabilidade pela derrota e goleada de ontem, mas já passou da hora do Flamengo romper com esse ultrapassado e anacrônico modelo de utilizar a "prata-da-casa" por pura e simples tradição, seja em relação a atletas, seja em relação a profissionais do Departamento de Futebol - treinadores e auxiliares de comissão técnica. Reconhecer e abrir espaço para ídolos é uma prática salutar do clube, que na minha opinião deveria ser mantida como tradição que distingue de forma nobre o Flamengo de outras agremiações. Todavia, há formas de se manter tal prática (um exemplo: participação em produtos e eventos) sem que se comprometa o profissionalismo e a eficiência que devem imperar no Departamento de Futebol profissional de um clube com história e posição no futebol mundial.

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O Flamengo precisa de estádio, centro de treinamento e elenco de qualidade, todo mundo sabe, mas os profissionais do Departamento de Futebol também precisam ser escolhidos com muito mais rigor do que vêm sendo, o que se aplica não apenas aos diretores/gerentes, como também aos membros da comissão técnica, que não pode ser montada por critérios como gratidão, sentimentalismo e saudosismo, e sim qualidade, competência e eficiência.

Os efeitos deletérios da presença desse tipo de profissional na comissão técnica do time de futebol profissional são nitidamente sentidos por suas decisões tomadas durante os 90 (noventa) minutos as partidas. Se Marcelo Cirino vem atuando muito abaixo das expectativas, não é lançando o jovem, imaturo e completamente despreparado Thiago Santos para ser tostado na fogueira simplesmente "porque é da base" que o Flamengo reagirá em uma partida como a de ontem, e nem muito menos o "problema Cirino" será resolvido. Onde estavam Fernandinho, Nixon ou Gabriel, bem mais experientes para uma circunstância absolutamente adversa como a de ontem? Havia expectativa de reversão do placar com a entrada do Thiago Santos? Sério mesmo? É de obviedade ululante que os pontas do Flamengo deixam a desejar e há uma janela de transferências internacionais em curso, durante a qual pode-se tentar melhorar a qualidade do elenco. Esse contexto não justifica a bestialidade e a irracionalidade em situações adversas por parte do assistente técnico quando dirigir o time. Mas Jayme de Almeida, e não é a primeira vez, mostra-se incapaz ou indisposto a tomar as decisões mais simples e óbvias quando está no comando técnico do Flamengo.

E quanto a Zé Ricardo, que, com todo o respeito, vem desenvolvendo um trabalho com inegável qualidade e viabilidade, na prática monta um Flamengo paneleiro e xenófobo, claramente isolando os reforços estrangeiros sem critério técnico que justifique a medida. Os estranhíssimos e inexplicáveis casos de Gustavo Cuéllar e Federico Mancuello são provas cabais. Resta saber o que a Diretoria deseja contratando Alejandro César Donatti para a zaga, eis que o seu destino dificilmente será diferente dos demais hermanos.

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Portanto, que não se recorra a "cortinas-de-fumaça" para explicar ou esconder as origens dessa goleada. Heber Roberto Lopes não impediu o Flamengo de marcar gol algum no primeiro tempo em que foi indiscutivelmente superior; não foi Heber Roberto Lopes, mas Jorge que "armou" o contra-ataque do segundo gol; foram os jogadores que não tiveram força mental para resistir ao Corinthians e reagir dentro de campo; foi Zé Ricardo que escolheu o banco de reservas; foi Jayme de Almeida que não conseguiu estruturar taticamente o time após o primeiro gol no segundo tempo e quem decidiu cada substituição. E cada gol do Corinthians subsequente ao primeiro foi marcado por total mérito e competência por saber aproveitar o desmanche tático e emocional do Flamengo.

O Flamengo precisa encontrar respostas para sua ineficiência ofensiva e incapacidade de reagir e manter o controle do jogo, tal como exercido na primeira etapa. Buscar punição para o incompetente e possivelmente mal intencionado árbitro pode até ser uma medida extracampo importante em nível político, porém não solucionará seus problemas dentro de campo.

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Gosto bastante do Muralha, que é muito superior ao Paulo Victor, e que praticou importante defesa no primeiro tempo e não teve culpa nos gols, porém sugiro que reflitam a respeito da atuação do goleiro Cássio, do Corinthians, e da importância de se ter um goleiro verdadeiramente "top" no elenco.

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Domingo, 10.7.2016, tem Flamengo x Atlético/MG no Mané Garrincha, as 11:00h a.m. Novamente a Diretoria do Flamengo opta por utilizar Brasília como sede de um clássico interestadual muito tradicional e de extrema rivalidade, ciente de que o adversário tem muita torcida na cidade, ainda que menor do que a do Flamengo. É inegável que pretende mais uma vez lucrar com o comparecimento da torcida rival. Enquanto o Mais Querido vem de vexatória goleada, o adversário está em campanha ascendente no Campeonato Brasileiro.

Estarei no Mané Garrincha, como sempre.

Deixo para vocês, estimad@s amig@s do Buteco, os comentários a respeito do recorrente tema neste espaço.

Bom dia e SRN a tod@s.