quarta-feira, 27 de julho de 2016

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos.
Semana próxima passada, o Fluminense FC completou 114 anos de existência. Uma vez que o Flamengo, através de seu presidente e outros dirigentes, ajudou a fundar esta relevante instituição, penso ser cabível prestar uma homenagem ao simpático clube das Laranjeiras. Assim, deixo aqui uma história pouco conhecida. Muito difundida é a primeira partida entre Fla e Flu, vencida inesperadamente pelo tricolor, por 3-2, em 1912. Mas, e as partidas subsequentes? Terá se repetido aquela história de superação do “eleven” tricolor? Ou o desfecho terá sido um tantinho diferente?
À história, então.

1 - FLAMENGO 4-0 FLUMINENSE
Campeonato Carioca, Segundo Turno, 27.10.12, Laranjeiras

A dor da humilhação, da vergonha, do brio ferido é um poderoso estimulante. Não há doping mais devastador que o riso mordaz, sarcástico, os dedos apontados por uma multidão aos gargalhos.
A inesperada derrota do primeiro turno ainda sangra na alma, ainda marca a pele lanhada, como brasa em gado. O grupo de dissidentes, o mais talentoso do Rio, anseia, clama sequioso pela desforra, pela vingança redentora que lhes tirará das entranhas o peso agônico do escárnio. E treina. Prepara-se como para o último embate de suas vidas. E chega o dia.
O Flamengo, pela posição na tabela (disputa, ponto a ponto, o título com o Paysandu) e pelo time melhor, é o favorito, apesar da surpreendente derrota no primeiro clássico. Tal como na partida anterior, o Fluminense mostra coragem e atitude agressiva, tentando tomar a iniciativa das ações. No entanto, mais calmo, determinado e com os nervos no lugar, o Flamengo rapidamente se impõe em campo.
O resultado é um ataque contra defesa. Um massacre. Um bombardeio sem precedentes, que só não termina num placar verborrágico, antológico, de almanaque, graças à atuação épica do sistema defensivo tricolor, cujos elementos saem de campo extenuados. O irrequieto e irreverente Baiano marca o primeiro gol, depois o eficiente Miguel anota mais duas vezes e novamente Baiano, já no final, decreta o placar de 4-0 que traz à tona a real diferença entre as duas equipes.

2 - FLAMENGO 6-3 FLUMINENSE
Campeonato Carioca, Primeiro Turno, 03.08.13, G.Severiano

Time do Fluminense ainda está em transição, não aparece como postulante ao título. Flamengo começa mal e isso será fatal. Depois arranca, mas já é tarde para alcançar o América.
Público em General Severiano é excelente, chegando a haver espectadores de pé à beira do gramado. Jogo começa equilibrado, os dois times trocando ataques, até os 10', quando Baiano abre o placar para o Flamengo. O Fluminense sente o gol, e disso se aproveita o Flamengo para intensificar o assédio. Gumercindo (jovem goleador) e Pinho ampliam, fechando a primeira etapa em 3-0 para o rubro-negro.
Na segunda etapa, o Flamengo acomoda-se e passa a trocar passes, com leniência. O tricolor se enche de brios e exerce pressão. Consegue marcar dois gols em sequência (Oswaldo e Baptista), e parece que a partida irá incendiar. Ledo engano. O Flamengo se reorganiza, volta a imprimir um ritmo mais forte e Borgerth anota o quarto tento. O rubro-negro não diminui o ritmo e avança suas linhas, chegando a atacar até mesmo com os zagueiros. Encurralado e desgastado, o tricolor não consegue resistir. Gumercindo marca o quinto, e logo a seguir Borgerth mais um tento. Somente nos minutos finais o Flamengo relaxa e, num lance isolado, o atacante fluminense Vidal chuta de longe e marca mais um gol para as Laranjeiras. Não há mais tempo para nada. Final, 6-3, num dos melhores e mais animados jogos de todo o campeonato.
Como menção, é a primeira partida que Borgerth, pivô da dissidência fluminense que ocasionou a criação do futebol flamengo, marca contra seu ex-clube. Haverá outras. Muitas outras.

3 - FLUMINENSE 0-3 FLAMENGO
Campeonato Carioca, Segundo Turno, 09.11.13, Laranjeiras

Center-half. O jogador central da linha de médios, precursor da posição de volante. Uma das peças-chave de uma equipe de futebol, desde seus primórdios. Um bom center-half precisa ser completo, ter boa visão de jogo, saber iniciar as ações ofensivas e desenvolver bom trabalho na retaguarda.
O Flamengo dispõe de um dos melhores nomes nessa posição. Amarante tem sido o destaque absoluto da equipe na temporada, figurando na seleção do campeonato. Dotado de intensa mobilidade, bom jogo vertical, capaz de lançar e eficiente na marcação individual, Amarante vive o auge de sua carreira. E toda sua categoria será mostrada nesse Flamengo e Fluminense do returno.
Apesar do tempo chuvoso, o Campo da Rua Guanabara (onde se erguerá o Estádio das Laranjeiras) está tomado por um público numeroso e “bem selecionado” (o futebol ainda é um esporte de elite). Chama a atenção o número de adeptos do Flamengo, que já divide a assistência com os torcedores do time local.
O Fluminense está motivado por uma vitória sobre o Botafogo (3-0) e deseja repetir o feito contra o Flamengo, seu algoz de confrontos recentes. O time tricolor posiciona-se em campo de maneira extremamente agressiva, buscando a pressão desde os primeiros minutos. Será seu erro. O Flamengo, recuado, faz um jogo de paciência, de “gato e rato”, buscando cansar o rival. O tricolor ataca por cima, por baixo, pelo centro e pelos lados, mas não consegue transpor a parede formada por Píndaro e Nery (os melhores zagueiros do país) e pelo exímio goleiro Baena. Apesar dos inúmeros ataques fluminenses, o primeiro tempo termina sem gols.
Na segunda etapa, o Flamengo se solta mais, aproveitando-se do desgaste físico e emocional do adversário. Amarante, que no primeiro tempo dedicou-se a anular o perigoso atacante Welfare, agora arma e dá início a todas as jogadas flamengas. O center-half fluminense, Robertson, não está em campo, e isso fará a diferença.
O primeiro gol é de Riemer, numa confusão dentro da área. Como de hábito, após abrir o placar o Flamengo solta a cavalaria para aproveitar-se do desequilíbrio gerado pelo tento. Logo a seguir, Raul recebe na frente, dribla o goleiro e, sem humildade em gol, entra com bola e tudo, embolando-se nas redes. Já perto do fim, com o Fluminense inteiramente subjugado, o “matador” Riemer manda uma bomba de longe e fecha a contagem em 3-0. As derrotas fluminenses para o rival já começam a se revestir de uma incômoda rotina. Mas ainda está longe de acabar.

4 - FLUMINENSE 0-2 FLAMENGO
Amistoso, 11.06.14, Laranjeiras

O Flamengo inicia a temporada de maneira irregular, apresentando atuações opacas. Vem de um empate contra o São Cristóvão, obtido nos descontos (o jogo esteve parado porque os zagueiros rivais mandavam chutões para os telhados das casas vizinhas) e é encarado pela imprensa como um azarão na disputa pelo título.
Nesse contexto, surge um amistoso contra o Fluminense, jogo beneficente em favor da Paróquia da Glória. Esse tipo de evento é comum na época.
O tricolor começa a mostrar sinais de recuperação, e já apresenta uma equipe bem mais qualificada, que inicia bem o campeonato. Por isso, e pelo momento ainda errático do rubro-negro, o time das Laranjeiras recebe a pecha de favorito para esse interessante match-training em seu campo.
O Campo da Rua Guanabara (Laranjeiras) recebe brilhante e colorida decoração, engalanado para o evento. Mas, seja pelo fato de estarmos em uma tarde de quinta-feira, seja pela informação de que os dois times jogarão com equipes mistas, o que se registra é um público pouco mais que razoável, longe de proporcionar ampla lotação. No entanto, quem foi ao campo viu um jogo bastante animado.
Os jogadores do Fluminense começam a demonstrar nervosismo com a recorrente superioridade do Flamengo nos confrontos. Seu time entra em campo para disputar um match oficial, enquanto o rubro-negro aparece mais comedido, poupando o ritmo. Muito mais aguerridos, os tricolores bombardeiam a meta do goleiro reserva Cazuza, que se vira como pode. Num desses ataques, a bola rebenta no travessão após voleio de Bartolomeu.
Aos poucos, o Flamengo entra no jogo. O experiente Gallo substitui Amarante, e dita o ritmo da equipe. O rubro-negro, com um conjunto melhor, trabalha a bola e envolve o adversário. Numa dessas tramas, há um lançamento a Arnaldo, que cruza para Baiano emendar de sem-pulo e abrir o placar. É mais um tento de Baiano, à vontade no papel de “carrasco”.
Fim do primeiro tempo. Os tricolores estão tensos, rosto crispado, cabeça baixa. No outro canto, os flamengos riem e contam piadas, nitidamente descontraídos.
Na segunda etapa o roteiro se repete. Fluminense toma a iniciativa, ataca em desespero, acossa a meta de Cazuza, e aí se destaca o zagueiro Nery. E o Flamengo, num contragolpe fulminante, amplia com Riemer. No fim, com um Fluminense desanimado e um Flamengo desinteressado, pouco mais acontece. Flamengo 2-0.

5 - FLUMINENSE 2-3 FLAMENGO
Campeonato Carioca, Primeiro Turno, 26.07.14, Laranjeiras

Costuma-se invocar a mística do Fla-Flu, dos jogos emocionantes, fantásticos. Sim. Mas somente quando o Fluminense ganha. Veja-se que os Fla-Flu's mais célebres que são lembrados são os que têm como desfecho a vitória tricolor (1969, 1983, 1995). O Flamengo gosta de recordar goleadas no rival.
Mas há os jogos sensacionais, espetaculares, que o Flamengo vence. É o caso desse inesquecível match do primeiro turno. Um jogo antológico que, tivesse havido outro desfecho, figuraria nos anais do clássico.
Uma multidão aflui para a Rua Guanabara. Multidão inflamada, disposta a berrar por suas cores. O clima é de decisão, de final, embora estejamos ainda nas primeiras rodadas do campeonato. Grupos esboçam cantos e palmas, já em provocação, no que são respondidos. Não há violência. Mas há tensão, a típica apreensão dos dias de grandes jogos.
A partida inicia em ritmo alucinado. Logo nos primeiros minutos, há uma bola alçada na área flamenga, alguém corta com a mão. Pênalti, que Bartolomeu converte, abrindo o placar para o Fluminense. A plateia explode em gritos, incendiando o estádio. O Flamengo vai à frente e luta muito, mas não consegue alterar o placar na primeira etapa. O tricolor parece, de fato, determinado a quebrar a escrita. As equipes vão ao intervalo com o placar de 1-0 para o time local.
Segundo tempo, o Flamengo “queima navios” e parte ao ataque. Em poucos minutos, uma bola é passada a Riemer, que chuta meio de bico, meio mascado, mas a bola pega um efeito estranho. Marcos, o legendário goleiro Marcos de Mendonça, vai agarrar, mas é traído pela trajetória da bola e deixa-a escapar, sorrateira e zombeteira, para o fundo das redes. Está empatada a partida.
O jogo se torna feérico, esfuziante. Os times trocam ataques. Os goleiros Baena e Marcos vão executando defesas fantásticas, mantendo uma igualdade que pode ser quebrada a qualquer momento. O final do jogo se aproxima. E dele a loucura, o transe, o êxtase.
Escanteio. Bola alçada na área fluminense. A zaga tricolor tenta afastar, mas não consegue. Há uma “scrimmage” (rebu, bololô, confusão) dentro da área, a bola perereca e sobra para Raul que, num laivo de lucidez, dribla um contrário e manda, bico de chanca, pra dentro da meta. Flamengo 2-1. Agora é o lado de fitas negras e rubras que se agita. O Flamengo está na frente. Mas não há tempo sequer para calar o grito. O Fluminense dá a saída e ataca em bloco. Troca passes com fúria e a bola chega a Welfare, o temido Welfare, que em bela jogada individual arremata e crava novamente o empate. Em questão de segundos, o Fluminense reage. 2-2. O estádio enlouquece, chapéus jogados ao alto, gritos de ordem, apitos, palmas. Já estamos nos minutos finais. Mas não acabou. Agora o Flamengo dá a saída e abandona a defesa. A vitória se torna questão de honra. O rubro-negro exerce uma pressão no limiar do insuportável. Massacra a meta de Marcos. O tempo está escoando, rápido. Estamos no minuto final. Há um escanteio. Não resta mais tempo. É o último lance. Bola cruzada, cabeçada, fora do alcance de Marcos. Mas, na última hora, o zagueiro Vidal, em cima da linha, consegue cortar. Com a mão. Pênalti para o Flamengo, no último segundo do jogo.
É uma tarefa que exige sangue frio. É o momento adequado para o bandoleiro Riemer. Ricardo Riemer, atacante que faz do gol um ofício. Uma ocupação. Um jogador que nasceu para as redes. O primeiro grande goleador da história flamenga. Riemer, sem demonstrar um hiato de hesitação ou temor, ignora a presença de Marcos de Mendonça à sua frente, vira a cara e manda um bico, um tiro violentíssimo, que arromba as redes tricolores e faz metade do estádio urrar das entranhas a felicidade e a alegria da vitória. O Flamengo vence de forma dramática por 3-2. Arrancará para o título. E a noite no 66 será longa. Haja reco-reco.

6 - FLAMENGO 2-1 FLUMINENSE
Campeonato Carioca, Segundo Turno, 15.11.14, G.Severiano

Falava dos “grandes Fla-Flu's”. E das decisões? Criou-se uma aura, um mito, uma lenda, um lugar-comum que, quando Fla e Flu se enfrentam em jogo decisivo, a vitória usualmente é do tricolor. Relembra-se, com tediosa exaustão, os jogos de 83, 84, 95. Mas houve outros momentos. Entre eles, a final perfeita. Que tal um Fla-Flu, final de campeonato, no dia do aniversário do Flamengo? Isso aconteceu. E o desfecho não foi bem o que quer fazer crer a tal lenda tricolor.
15 de novembro. Toma posse o Excelentíssimo Sr. Presidente da República, o Sr. Venceslau Brás. Chefes de Estado e a mais alta sociedade está na Capital Federal para prestigiar a solenidade. Mas o centro das atenções é o Estádio de General Severiano, onde está em jogo a decisão do Campeonato Carioca de 1914. Flamengo e Fluminense fazem aquela que pode ser a partida final.
A vantagem é do Flamengo que, se vencer, decreta o final da competição. Em caso de vitória tricolor, haverá a necessidade de nova partida para definir o campeão.
O público transborda, aperta-se e se pendura no exíguo espaço disponível, já levando a crer que logo haverá a necessidade de palcos maiores para os jogos. O risco de superlotação é real, e não é raro que se recorra a morros, árvores, barrancos ou mesmo telhados para que se consiga uma forma de se assistir ao match.
O momento é todo do Flamengo. O time, após um início irregular, dominou completamente a competição, e poderia ter sido campeão antecipado, não fosse uma inesperada derrota para o Botafogo. Mas o Fluminense vem de uma arrancada, e a rivalidade intrínseca ao clássico recomenda prudência.
Prudência esta que certamente não está presente nas dependências da Sede no 66. O casarão amanhece enfeitado, decorado e totalmente engalanado, à espera da comemoração de um título que irá coroar, à guisa de ápice, os festejos do 19º aniversário do clube.
O jogo é disputado, renhido, mas menos dramático que a partida anterior. O Flamengo é melhor desde o início. Abre o placar quando Marcos sai mal num cruzamento e Borgerth, esperto, aproveita a sobra, mandando a bola para o gol. Logo depois, o rubro-negro amplia num arremate de Riemer, mas o próprio atacante avisa ao árbitro ter ajeitado a bola com as mãos e o gol é anulado (os tempos ainda são românticos).
Mas, apesar da ampla superioridade rubro-negra, não se pode desligar em um clássico. Um escanteio isolado, bola perfeitamente cruzada na cabeça de Oswaldo. É o empate, o injusto empate nos minutos finais da primeira etapa.
Mas não durará muito. A tarde é flamenga. Na volta do intervalo, o rubro-negro parte impetuoso, disposto a assegurar a vitória desde cedo. Já aos 3', Borgerth, o nome do jogo, recebe, livra-se de um contrário e serve ao implacável Riemer, que fuzila Marcos, decretando os 2-1 no placar que, a despeito de algumas tentativas tricolores, não mais serão alterados.
O Flamengo administra a vantagem e, com o apito final, transforma o Rio de Janeiro em uma linda festa. Corsos, reco-recos, chopadas de graça, os dias que se seguem são comemorados com incrível e contagiante alegria. O Flamengo é campeão no dia do aniversário, contra o maior rival, com gol do pioneiro Borgerth. Mais, agora ufana-se de um título inédito, que o acompanhará por todo o sempre. Uma marca indelével, dentre tantas.
Campeão de Terra e Mar.

7 - FLUMINENSE 3-5 FLAMENGO
Amistoso, 11.04.15, Laranjeiras

Mais um amistoso beneficente, jogo que praticamente abre a temporada. O Flamengo apresenta novidades. O atacante Bartolomeu, ex-Fluminense, e o médio inglês Sidney Pullen, formidável jogador que vem para o lugar de Amarante, retirando-se dos gramados. Não poderia haver melhor reposição. Pullen é um jogador ainda mais completo que o ótimo Amarante, pois também pode ser usado no ataque.
O público é bom. O Fluminense tinha a ideia de abrir o estádio apenas para os sócios, mas a baixa procura fez sua diretoria mudar de opinião, o que se mostrou acertado.
O jogo é movimentado, mas pouco disputado. As equipes, ainda com alguns desfalques e nitidamente sem condições físicas, fazem uma partida pouco competitiva, com marcação frouxa. O Flamengo, com um conjunto melhor e alguns valores individuais se destacando, impõe-se sem dificuldades. Chega a abrir 3-0 e 5-2, com gols de Bartolomeu, Curiol, Borgerth, Riemer e Vidal (contra, num recuo desastrado de bola a Marcos), enquanto Welfare (2) e Nabuco marcam os tentos tricolores.

8 - FLUMINENSE 0-5 FLAMENGO
Campeonato Carioca, Primeiro Turno, 09.05.15, Laranjeiras

Após sete derrotas seguidas para o Flamengo, o Fluminense decide ser o momento do “basta”. Reúnem-se os jogadores para sessões esfalfantes de treinamentos pesados durante toda a semana. Há uma fome no olhar de cada jogador tricolor. Informantes são enviados a General Severiano, para acompanhar e investigar os movimentos do Flamengo, que enfrenta o Rio Cricket. Tudo é minuciosamente estudado, planejado e calculado. A instituição está mobilizada para o jogão do dia 09. É chegado o momento. Não há como um clube da envergadura do Fluminense FC amargar uma sequência tão duradoura e prolongada de derrotas para qualquer adversário, que dirá o Flamengo, grande rival nos gramados. Associados e admiradores são convocados para o confronto da Rua Guanabara. O estádio irá lotar. O Fluminense não aceitará a derrota.
Mas falta combinar tudo isso com o adversário.
A chegada de Sidney Pullen e do chileno Hector Parras trazem um notável equilíbrio ao Flamengo. Outrora tido como um conjunto de defesa forte e ataque criticado (por ser pesado), o rubro-negro agora apresenta uma equipe harmônica, bem azeitada e extremamente perigosa. Um time disposto a ratificar sua condição de Campeão de Terra e Mar. E que, enfim, já lida bem com a condição de favorita.
O estádio está abarrotado. Os fluminenses atendem aos apelos da diretoria, e enchem as dependências da Guanabara. Provavelmente chegam mesmo a ser maioria entre a plateia.
Mas o time está nervoso. Tenso. Sente a pressão do jogo. Não consegue atacar. Ao contrário, o Flamengo, com categoria e um meio-campo sólido, domina inteiramente as ações. E começa a atacar. E os gols vão sair com naturalidade.
O primeiro é de Borgerth, num tiro violento que vara a gaveta de Marcos. Logo depois, Sidney Pullen, num tiro cruzado, amplia. Antes do intervalo, o estabanado zagueiro Vidal falha, e Baiano marca o terceiro. É o fim. O Fluminense está destruído, a espinha quebrada, o estádio em silêncio (ao menos a parte tricolor).
Na segunda etapa, o Flamengo seguiu controlando o jogo com tranquilidade. Faltava o gol do “matador”. E Riemer, para não frustrar seu público, cravou logo duas vezes, em dois tiros fortes, bem ao seu estilo. O jogo termina com o Flamengo colocando o adversário na roda, tocando calmamente a bola, sem pressa. É, até ali, a mais humilhante derrota da história do Fluminense em seu estádio. Nenhuma equipe havia vazado as redes tricolores, nas Laranjeiras, tantas vezes desde a fundação do clube. A goleada humilhante acenderá uma crise profunda nas hostes tricolores, da qual emergirá um time forte e temido.
Enquanto isso, o Flamengo ratificará seu favoritismo e marchará para o bicampeonato, dessa vez invicto. De novo, Campeão de Terra e Mar.


* A sequência de vitórias flamengas será quebrada com um empate (1-1) em General Severiano, a 22/08/1915. O rubro-negro somente voltará a ser derrotado no clássico em 1916. Ao todo, terão sido 12 jogos sem derrota para o rival, com 8 vitórias consecutivas.