Saudações flamengas a todos,
Muito se
tem enaltecido o trabalho do treinador Zé Ricardo, em função da
capacidade por ele demonstrada de tornar o Flamengo uma equipe
competitiva e organizada, capaz de pontuar com regularidade mesmo
enfrentando equipes teoricamente mais qualificadas. No entanto, a
principal crítica à sua atuação decorre na alegada insistência
em manter entre os titulares o controverso volante Márcio Araújo,
que desfruta da rejeição de boa parte da torcida rubro-negra.
Márcio
Araújo, o típico volante-volante dos anos 90, dotado de mobilidade
defensiva, capacidade de desarme e disciplina para recompor o sistema
defensivo, mas nutrindo severas limitações no manejo da bola, reúne
em si um perfil obsoleto, ultrapassado, mas do qual alguns
treinadores ainda parecem não conseguir se livrar. Mais, o
“volante-pegador” soa mesmo como um recurso “multitarefas”,
um tampão cuja utilização ainda se reveste de notável
conveniência no nosso futebol, atravessando incólume os mais
distintos momentos da história.
Assim,
segue uma pequena lista com alguns desses exemplares que, por suas
características peculiares, mantiveram uma relação de (algum) amor
e (farto) ódio com nossa torcida.
DELACIR (1988-1989)
O
Flamengo negocia Andrade com o futebol italiano e perde um dos
melhores volantes de sua história. Dotado de capacidade implacável
de marcação, com boa mobilidade, exímio passe e um chute forte, o
“Tromba” desfrutara, durante oito temporadas, da condição de
titular absoluto do rubro-negro. Em seu lugar, o Flamengo resolve
investir no promissor Delacir, que vem de boas atuações no pequeno
Mesquita e depois no América, e é testado com sucesso na Copa
Kirin, vencida pelo rubro-negro (o América emprestara alguns
jogadores ao Flamengo para a disputa do torneio). Delacir agrada e é
contratado. No entanto, Delacir logo “cai em desgraça” com a
torcida, pois, apesar de esforçado e combativo, apresenta limitações
técnicas insuperáveis. A rejeição aumenta, especialmente quando
se percebe que Delacir desfruta de prestígio junto ao treinador
Candinho e especialmente a Telê Santana, que sequer cogita sua
retirada da equipe. Ironicamente, Delacir naufraga ao falhar no gol
que elimina o rubro-negro do Brasileiro e, sem clima, é negociado.
Pouco mais tarde, Candinho, agora no Bahia, indica o jogador para o
clube baiano, e Delacir é destaque na equipe que termina o
Brasileiro-90 em 4º lugar.
AILTON
(1985-1991)
Volante
de origem contratado ainda nas divisões de base junto ao Olaria,
ascende aos profissionais improvisado como lateral-direito. Mas logo
retorna à sua posição de origem, efetivado titular por Lazaroni.
Raçudo e dotado de impressionante mobilidade, mas com deficiências
sérias de passe, segue na equipe principal com qualquer treinador
que assuma a equipe. Pode atuar mais recuado ou ajudando na transição
do meio. Com a saída de Delacir, assume a função de “volante de
contenção”, carregando o piano para que brilhe o leve meio-campo
montado por Telê no Estadual. Cai Telê, chega Espinoza, e Ailton
segue intocável como titular. Dá declarações indicando “sonhar
com a Seleção”, e é ridicularizado pela imprensa. Com Jair
Pereira, chega a barrar o Maestro Júnior, decisão extremamente
polêmica que somente dura dois jogos. Desgastado pelo tempo e
contestado pela torcida e pela crônica, Ailton acabará preterido
por Vanderlei Luxemburgo, que prefere jogadores mais talentosos na
posição, e será negociado com o Guarani. Participará de campanhas
vitoriosas no Fluminense e no Grêmio, mas sempre contestado por suas
respectivas torcidas.
MÁRCIO
COSTA (1995-1996)
Alto e
magro, é um zagueiro capaz de atuar como volante. Destaca-se na
campanha do Estadual do Fluminense, em 1995. Chega ao Flamengo no
segundo semestre do mesmo ano, ao lado do lateral-esquerdo Lira e do
volante Djair. Márcio Costa (que vem para o lugar de Charles
Guerreiro, estigmatizado pela falha no gol decisivo do Fla-Flu e
vendido ao Vasco) logo se torna titular absoluto. Seu estilo de jogo
se caracteriza pela velocidade e senso de cobertura. No combate
direto costuma entrar forte e de forma estabanada. Possui crônicos
problemas de passe e se vira bem no jogo aéreo. Mas logo se torna um
dos símbolos da aridez técnica do “elenco de apoio” que não
consegue dar suporte às estrelas da equipe (o tal “ataque dos
sonhos”). Mesmo assim, é mantido para a temporada seguinte (a
pedido de outro egresso do Fluminense, o treiador Joel Santana) e,
sempre como titular, conquista o Estadual invicto de 1996, ao lado do
combativo volante Mancuso. No final do ano, cai em desgraça com a
péssima campanha da equipe e é negociado.
JAMIR (1997-1998)
Volantão
parrudo que alcançou certa notoriedade no Botafogo de Túlio, é
trazido para substituir Márcio Costa. Duro, enérgico, viril e não
raro violento no combate direto, é tido como o jogador ideal para
“fechar o meio”, sendo mantido titular absoluto nos dois anos em
que atua no rubro-negro, para desconforto e desânimo de um torcedor
que assiste, impotente, ao apogeu do uso dos “volantes-brucutus”.
Além de Jamir, o Flamengo ainda conta no elenco com a presença dos
volantes Jorginho e Maurinho, e não é raro ver os três
simultaneamente em campo, para tristeza da bola.
JORGINHO
(1997-2003)
Alto,
espigado, egresso do Olaria, Jorginho logo se destaca por sua
dedicação, aplicação tática e eficiência no jogo aéreo (chega
a marcar alguns gols de cabeça). Ascende à posição de titular com
Sebastião Rocha, sendo mantido por Paulo Autuori e por vários
treinadores seguintes. Sempre como titular (salvo em 2000, quando
perde espaço para as milionárias contratações do período),
conquista o Tricampeonato Estadual, uma Copa Mercosul e uma Copa dos
Campeões. Nos anos seguintes, cai de rendimento e é tido como um
dos responsáveis pela goleada sofrida no Fla-Flu que elimina o time
do Estadual de 2003, deixando o Flamengo após 242 jogos disputados.
MAURINHO
(1997-2002)
Projetado
pelo Bragantino, onde se destacou atuando mais avançado, chega ao
Flamengo originalmente para atuar como meia. Mas, ao mostrar pouco
mais que transpiração e correria, é recuado para a posição de
volante, onde montará um cinturão com os intrépidos Jamir e
Jorginho. Bom no jogo aéreo e com um chute forte, costuma aparecer
como elemento surpresa no ataque (como nos históricos 3-0 sobre o
Real Madrid, em que marca um gol e manda uma bola na trave). Mas,
extremamente limitado tecnicamente, é rejeitado e mesmo perseguido
pela torcida, o que faz com que oscile entre o time titular e o
banco. Mais tarde, com Carlinhos, é improvisado na lateral-direita,
emulando experiência bem sucedida de anos antes com Charles
Guerreiro. Na posição, funciona bem, chegando a barrar o experiente
Pimentel, e vive seu melhor momento em 2000. É lembrado até hoje
pelo cruelmente irônico coro de “ão-ão-ão, Maurinho é Seleção,
il-il-il, primeiro de abril”.
DA SILVA
(2004-2005)
Destaque
do Madureira e com razoável passagem pelo Vasco, chega ao Flamengo
por empréstimo na temporada de 2004. “Formiguinha” capaz de
correr todos os setores do campo, veloz e aplicado, sempre se
dispondo ao “trabalho pesado” de cobrir meias, laterais e mesmo
zagueiros (é dado aos “demagógicos” carrinhos de beira de
campo), logo conquista a simpatia de uma torcida farta de jogadores
limitados, melindrados e acomodados. É um prestígio que, dada a
absoluta indigência técnica de seu jogo, apenas ajuda a constatar,
com tristeza, que o Flamengo vive um dos piores momentos de sua
história. Titular absoluto de um time quase rebaixado, acerta sua
permanência por mais um ano, mas em meados de 2005 (com a equipe
novamente lutando contra o descenso) acaba negociado com o futebol
asiático.
DOUGLAS SILVA (2004)
Volante
egresso do Grêmio, chega ao Flamengo em substituição a Fabinho,
transferido para o futebol japonês. Demora um pouco para se firmar,
mas conquista uma vaga no meio-campo, e é como titular que ganha o
Estadual de 2004. No entanto, é um dos jogadores estigmatizados pela
torcida após a perda da Copa do Brasil para o Santo André. Forma,
ao lado de Da Silva, uma das piores duplas de volantes da história
recente do Flamengo. Com a chegada de Andrade no comando técnico,
perde espaço para o jovem Jônatas, atuando apenas em partidas
esporádicas. Ao final do ano, é negociado e não deixa saudades.
TORÓ
(2006-2010)
“Um
toró de gols”. É assim que o jovem atacante Toró é definido
pela diretoria do Fluminense, que o tem como uma das principais
revelações de Xerém. No entanto, um desentendimento com o
empresário do jogador faz com que Toró acabe parando no Flamengo.
Baixinho, corpulento, com ótima explosão e bom chute, mas
apresentando profunda deficiência na finalização a gol, é
deslocado para o meio. Mas, sem bom aproveitamento de passe, acaba
recuado para a posição de volante. Voluntarioso e eficiente na
marcação individual, chega em um momento a se tornar xodó da
torcida, condição logo afastada por seus problemas técnicos. Mesmo
assim, consegue se fazer útil na “Tropa de Elite” de Joel
Santana e como reserva imediato do time Hexacampeão Brasileiro de
2009, quando chega a ser titular na reta final, em lugar do lesionado
Maldonado. No entanto, não resiste à turbulenta temporada seguinte
e é negociado.
JAÍLTON (2007-2008)
O
treinador Ney Franco resolve indicar alguns jogadores de sua
confiança, todos egressos do Ipatinga-MG, onde montou uma base
vitoriosa que chegou ao título mineiro em 2005. Um desses nomes é o
pesado volante Jaílton, jogador de marcação forte, bom jogo aéreo
e notável falta de talento. Jaílton é bastante utilizado na
campanha do título estadual de 2007, mas só conquista a posição
de titular no segundo semestre, já com Joel Santana, quando o jovem
Rômulo se lesiona. Sua presença no time é tida como fundamental
para proteger a dupla de zaga, especialmente Fábio Luciano, que, com
problemas físicos, não reúne mais velocidade para atuar no combate
direto. Jaílton é poupado pela torcida nas vitoriosas campanhas do
Brasileiro-07 e do Estadual-08, mas quando a relação azeda (em
decorrência da tragédia da Libertadores), Jaílton começa a ser
perseguido, a despeito de sempre mostrar dedicação em campo. O
torcedor, impaciente, passa a não tolerar as falhas individuais
recorrentes do volante, e não raro chega a vaiá-lo durante os 90
minutos. O clímax se dá com os erros no empate contra o Goiás, no
Maracanã (3-3, após o time abrir três gols), que praticamente
selam sua passagem na Gávea. Ao final da temporada, é liberado para
procurar outro clube.
Boa
semana a todos,