Saudações
flamengas a todos,
Tem sido
recorrente atribuir o insucesso da equipe no primeiro semestre à
formação tática escolhida por Muricy Ramalho, o tal 4.1.4.1, ou
4.3.3, ou ainda esquema “dos pontas”. Em que pese reconhecer
severas lacunas na execução desse esquema, e constatar momentos de
grave desorganização, demonstrados em partidas como a desastrosa
exibição em Fortaleza na semana passada, acredito ser mais ampla a
questão.
Retomarei.
2007.
Contratado para, em princípio, tirar o Flamengo de (mais uma)
incômoda briga pelo rebaixamento, Joel Santana (tirado dois anos
antes do ocaso da carreira pelo próprio Flamengo, a quem “agradeceu”
aceitando uma gorda oferta de trabalho na segunda divisão do Japão,
repetindo procedimento tornado praxe em sua trajetória) acenou com
uma sistemática de jogo absolutamente simples.
Montou o
time em cima dos seus pontos fortes. A robusta e respeitada liderança
do zagueiro Fábio Luciano (jogador técnico e experiente, mas muito
lento), o poder de apoio dos laterais Léo Moura e Juan (letais na
frente mas frágeis marcadores) e o voluntarismo do volante Ibson
(jogador dotado de intensa mobilidade). Estes, além do goleiro Bruno
(muito bom tecnicamente mas irregular), formaram a espinha dorsal da
equipe de Joel.
Para
viabilizar uma formação onde coexistiam um zagueiro lento e outro
inseguro (Angelim, há dois anos no clube, ainda não se firmara) e
dois laterais vulneráveis na defesa, o Papai Joel acenou com uma
variante do obsoleto esquema 3.5.2 (criado no início dos anos 80 e
morto no final dos 90), adaptando a maneira de jogar já utilizada
pelo seu antecessor, Ney Franco. O meio-campo construído com um
cinturão de volantes combativos, recuando um deles para atuar como
“falso zagueiro”, emulando ideia semelhante adotada por Luiz
Felipe Scolari na Copa de 2002.
Nascia a
Tropa de Elite.
O
time-base, assim, formou-se com Bruno, Léo Moura, F.Luciano,
R.Angelim, Juan - Rômulo (Jailton) – Cristian, Toró, Ibson –
R.Augusto (Maxi), Souza
A forma
de jogo da equipe era absolutamente previsível. Meio-campo bastante
povoado, abrindo espaço nas laterais para as projeções, em
diagonal ou pelos lados, dos dois laterais, que não raro apoiavam o
ataque simultaneamente. A transição meio-ataque sendo executada por
Ibson, e abundância de bolas alçadas para o grandalhão Souza.
Não era
um esquema difícil de neutralizar. Usualmente o adversário recorria
ao bloqueio das laterais ou à pressão na saída de bola, o que
tornava a equipe propensa a sair jogando à base dos chutões,
endereçados ao “pivô” Souza. Renato Augusto, jogador que
gostava de atuar na intermediária contrária, era desperdiçado como
“falso atacante”, posição em que não demonstrava mobilidade ou
faro de gol suficientes. O time encontrava dificuldades diante de
adversários que adiantavam a marcação, não conseguia atuar bem
fora de casa (o desempenho fora do Rio foi pífio, com um
aproveitamento de 33%, com direito a algumas derrotas contundentes).
Ademais,
pode-se falar do nível dos jogadores. Apenas Bruno e Renato Augusto
eram peças com potencial para se tornarem nomes de primeira linha
(dos quais somente o segundo justificou a expectativa, e mesmo assim
por um breve período). Havia bons nomes, como os laterais, Ibson,
R.Angelim e o volante Cristian. A liderança de F.Luciano, a despeito
de suas condições físicas. Parecia pouco para almejar posição de
protagonismo.
Mas, como
se sabe, aquela equipe realizou uma reação espetacular e chegou à
Libertadores, terminando o Brasileiro na terceira colocação.
Derrotou os cinco adversários mais bem colocados na tabela. Terminou
o ano como a grande notícia, a novidade da temporada.
Se o
esquema era ultrapassado, o time era previsível e os jogadores, em sua
maioria, medianos/razoáveis, porque então o sucesso?
Porque
havia alma.
O
Flamengo de 2007 atuava com uma intensidade de arrancar o fôlego do
mais indiferente espectador. Seus jogadores, sem exceção, porejavam
vontade de vencer. Eram competitivos ao mais verborrágico extremo.
Atacavam cada bola, cada lote do gramado. Dobravam, triplicavam a
marcação sobre o adversário. Não tinham pudor em jogar feio
quando necessário. Não tinham medo da vitória. Não aceitavam, não
admitiam, não negociavam a alternativa de sair de campo sem o
resultado. Obedeciam dentro de campo à célebre recomendação de
seu treinador, em uma preleção exaltada, “eles não vão ganhar,
eles não vão passar, eles não vão achar porra nenhuma aqui”.
Era um
time que se alimentava de vitórias. A glória era seu combustível.
Foi uma das mais perfeitas e bem acabadas traduções e expressões
do espírito flamengo de toda a centenária história do clube.
E, com
alma, com paixão, com flama, todo e qualquer obstáculo se torna
relativizado.
(O
Flamengo de 2007 foi o último grande trabalho de Joel Santana na
carreira)
Retornamos.
Fala-se
que o problema atual do Flamengo de Muricy é a falta de compactação.
Fato evidenciado na miríade de quadrinhos e desenhinhos publicados a
cada jogo, tornando desnecessário e inútil o contraponto.
Em termos
de montagem, os elementos que potencializam a vulnerabilidade da
equipe são a escalação de dois atacantes “de ofício” nas
pontas, o que tende a dificultar a recomposição da linha de frente
e a montagem de uma linha defensiva formada por jogadores
excessivamente vulneráveis (Wallace é limitado tecnicamente, Juan é
lento e Jorge não possui cacoete defensivo nem combatividade para o
confronto direto). Ademais, um dos volantes de proteção, W.Arão,
costuma avançar muito para servir de opção no ataque, o que também
compromete a recomposição da linha de frente e sobrecarrega o
trabalho de Cuellar. Como resultado, as duas linhas, que deveriam se
aproximar e encaixotar os meias adversários, ficam espaçadas,
formando um “H” que cria dois buracos laterais na intermediária
defensiva, por onde têm saído a maioria dos gols sofridos pela
equipe.
Muitas
soluções têm sido propostas para sanar o problema (a contratação
de um zagueiro mais sólido para atuar ao lado de Juan, a utilização
de um volante mais combativo e o avanço de W.Arão, o uso do Ederson
aberto como ponta pela esquerda, a utilização de Everton, mesmo o
avanço do Jorge para a segunda linha, entre outras, ou mesmo a
preferida do torcedor, o abandono do esquema em detrimento do 4.4.2,
ou 4.3.1.2). No entanto, penso que, mesmo que algumas, ou todas essas
ideias sejam levadas a termo, o risco de êxito ainda se reveste de
expressividade, pois ainda restará pendente a presença do elemento
maior, do principal. O componente que irá cimentar, prover liga,
aglutinar, ocupar lacunas, fechar crateras.
A alma.
Quando
uma equipe QUER, seus jogadores se movimentam, feéricos, elétricos.
Atacam a bola. Chamam o jogo. Pedem. Gritam. Cobram. Quando os olhos
se encharcam rubros, sanguíneos, a concentração aos detalhes, à
delicada dinâmica de jogo, se acentuam. Extingue-se o “migué”,
o “cerca-lourenço”, o “deixa que eu deixo”. O jogador,
quando se eiva de vontade competitiva, entende que, no fundo,
trata-se de deixar a existência em campo em busca da mais primitiva
essência de um jogo de bola. A luta pela vitória. Sempre. Sem
contextos ou rapapés. Trata-se de ganhar do outro time. Só isso.
Esta
equipe do Flamengo, independente dos profissionais e dos recursos que
lhe são postos à disposição, tem demonstrado, há cerca de um ano
e meio, completa aversão aos elementos que definem a competitividade
de uma equipe. É um agrupamento lasso, flácido, inerte. Anda em
campo, é apático. Seja por desmotivação, como no tragicômico
primeiro tempo do jogo em Fortaleza, seja por falta de brio, como na
partida de Manaus, ainda a vinte minutos do fim. E sem fibra, sem
denodo, sem élan, não vencerão sequer par ou ímpar. Quiçá
jogos.
Há que
se questionar os motivos. É difícil cravar categoricamente sem
incorrer na pantanosa prática do “achismo”, mas um exercício
lógico faz supor que: se muda treinador, muda jogador, muda
estrutura, muda método de treinamento, muda preparação e não há
resposta em campo, é porque ainda não se mudou o suficiente.
Que não
se diagnostique, pela enésima vez, a figura do treinador como a
fonte de todos os males.
CURTAS
EBM e CBF
Eis que,
nos escombros do desastre de Fortaleza, EBM surge risonho ao lado do
soturno Dunga e do controverso Gilmar Rinaldi, anunciando ao mundo
que aceitou chefiar a Delegação da CBF que irá aos EUA disputar a
Copa América.
Sou um
adepto, quase um entusiasta, do pragmatismo político, desde que
observados certos princípios. Não há, de início, qualquer
problema em sentar e dialogar com qualquer um dos atores que compõem
o cenário do futebol nacional. Aliás, penso que, mais que
desejável, tal prática é obrigatória ao representante de uma instituição da
envergadura do CR Flamengo. Não me agrada a postura de eterno
confronto, altiva, quase adolescente, de se posicionar “contra tudo
e contra todos”. O grande Márcio Braga, por exemplo, em seus
embates, colheu de prático uma eliminação a mão armada da
Libertadores-91 e a confusão, tornada eterna, acerca de 1987.
Enquanto clamamos nossa “hombridade” e “não sentamos com X ou
Y”, outros ganham campeonatos no apito e erguem taças, espinha
ereta e cínico sorriso de canto de boca. Jogo bruto.
Donde,
não me escandalizou ou me ruborizou a iniciativa do presidente. No
entanto, mesmo assim vejo-a com reservas. Pois denotou falta de
habilidade para costurar o fato. Atropelou-se o contexto externo
(aliados da Primeira Liga falaram em “decepção”) e o interno (a
base de apoio política demonstrou irritação). Não costuma ser
prudente “passar o trator” na base de sustentação. Pode-se
criar mágoas. Desconfianças.
Por fim,
mais do que demonstrar apoio, o Flamengo, na pessoa de seu
presidente, estará REPRESENTANDO a CBF. Ganha o Del Nero, felpuda
raposa política, que cola sua imagem à de um dirigente tido como de
vanguarda. Ganhará o Flamengo? O tempo dirá.
ZAGUEIRO
Sem
subterfúgios aqui. O Flamengo tem ótimos nomes no ataque e no meio.
Mas o miolo de zaga é indigente. Além de qualidade, agora é
escassa a quantidade. Há três nomes confirmados no elenco para o
Brasileiro, além do pavoroso César Martins, que “quebrará um
galho” até junho. Dos três nomes, um demanda cuidados físicos
para não estourar, o outro é limitado e vive péssima fase e o
outro é jovem.
Mesmo
assim, notícias dão conta que o clube segue cauteloso na busca por
um zagueiro, com “muito cuidado” para escolher um nome, que não
pode haver erros, enfim. Há que se perguntar se estão buscando o
Scirea, o Mozer, o Baresi.
A
negociação pelo tal Cléber (que dizem ser bom jogador) parece
estar emperrando. Jorram aos borbotões exemplos de situações
semelhantes que desaguaram em um previsível desfecho, qual seja,
outro clube aparecendo com proposta melhor e levando o jogador
(Elias, Henrique, Diaz etc, não cabendo aqui discutir qualidade do
atleta). É bem possível que algo semelhante ocorra nesse caso. Não
que seja o caso de chorar pitangas pelo rapaz. Mas de lamentar o
tempo perdido. Porque, ao fritar das batatas, Wallace deverá, no
mínimo e no barato, figurar como titular nos primeiros 19 jogos.
Depois não se culpe o vento, o campo de jogo ou os mosquitos.
Porque a
bola punirá.
AUDAX
Como
previsto, o Audax virou a “sensação” da crônica paulista. O
novo “atletico de madrid”. O “leicester” brasileiro. Terá
esse amontoado de refugos que joga um futebol certinho e muito
aplicado taticamente (olha aí a alma de novo) obtido o status de
“fenômeno” por conta de seu futebol arrumadinho, ou porque ousou
eliminar o medíocre Corinthians do supervalorizado Tite, cujo
trabalho em 2016 é, na melhor das hipóteses, mediano?
Boa
semana a todos,