Irmãos rubro-negros,
após anos e décadas de administrações desastrosas e altamente lesivas ao clube que amamos, período em que os interesses pessoais se sobrepunham aos da instituição, e em que o Flamengo foi vítima de todas as formas de oportunismo, canhestrismo e mau caratismo, o torcedor rubro-negro passou a ser carente, muito carente, de uma gestão minimamente decente.
Tudo o que queríamos, e desejávamos, eram dirigentes honestos, éticos e que tivessem o Flamengo como princípio meio e fim. Gente que cuidasse do Flamengo e não se servisse dele.
E no momento de maior desespero, no estertor daquele que, provavelmente, foi um dos piores triênios da história do Flamengo, emergiu um grupo de torcedores e sócios que, confiantes no êxito adquirido em suas vidas profissionais, resolveu doar esse conhecimento para a reconstrução do clube mais amado do mundo.
Esse grupo de rubro-negros tomou a peito a gigantesca tarefa de recolocar o Flamengo nos trilhos.
Das páginas de fofoca, das páginas policiais, o Flamengo passou a preservar a si mesmo, a cuidar de pagar as suas contas, a limpar o quintal.
De uma situação que sugeria a insolvência, moral e financeira, o clube se reergueu, levantou a cabeça e passou a cumprir as suas obrigações.
Salários em dia, elenco blindado, busca pela profissionalização, o Flamengo decidiu encarar seus fantasmas e exorcizá-los.
Só que, em toda essa equação, havia um problema, um erro de percepção e análise, que iludiu a muitos flamengos, inclusive a este que vos escreve: achava-se que, por sua grandeza imensurável, provada e comprovada pelos momentos mais agudos, bastaria ao Flamengo organizar-se, pagar em dia suas obrigações, resgatar a sua credibilidade, que tudo se resolveria automaticamente.
Grave engano; pura ingenuidade.
Faltou combinar com o mundo real.
Malgrado tudo de bom feito nos planos administrativo, financeiro, patrimonial e estrutural, o fato é que o futebol do Flamengo, salvo o período referente à fase final da Copa do Brasil de 2013, não aconteceu.
E as desculpas para isso se sucedem: se o problema não é mais os salários, passou a ser o elenco, que foi radicalmente modificado desde então; mas os insucessos persistiram, recaindo então a responsabilidade sobre os técnicos e profissionais do departamento de futebol: foram nove treinadores no período, de todos os perfis imagináveis, afora três diretores de futebol.
Mesmo após os salários em dia, as mudanças no elenco, na comissão técnica e na direção do futebol, os fracassos continuaram a acompanhar o futebol do clube; as atenções, portanto, voltaram-se para a falta de estrutura: veio a Exos, novos equipamentos, a estrutura do Ninho do Urubu foi inteiramente reformada, o módulo profissional será finalizado este ano, mas, ainda assim, infelizmente, o futebol do Flamengo tem protagonizado uma sucessão inacreditável de vexames e humilhações.
E agora? Qual será a desculpa?
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Nosso espírito sanguíneo, colérico e ansioso de glórias, o espírito rubro-negro de lutar, cobrar e brigar por tudo o que não se adeque à tradição flamenga, foi mitigado, diria até sufocado, em virtude de tudo de bom que foi feito pela diretoria atual nas áreas financeira e administrativa.
Pois bem, irmãos, é chegada a hora de superar esse dilema, essa camisa-de-força que nós mesmos nos impusemos.
A diretoria, inclusive os integrantes que não mais permanecem na cúpula, criaram um novo paradigma de gestão no Flamengo.
Esse paradigma veio para ficar. Nesse ponto não podemos retroceder um milímetro sequer.
E eu serei eternamente grato a todos os que lutaram por isso.
Mas o momento, repito, é de se libertar da camisa de força e encarar de frente o fiasco e o fracasso que têm sido a condução do futebol do clube na atual gestão.
Do alto da sua arrogância, a diretoria não enxerga o abismo que existe entre as suas certezas, adquiridas mediante planilhas, power points e livros que retratam experiências distintas da nossa, e a realidade.
O Flamengo é único. Por mais que eles tentem, jamais domesticarão, jamais domarão o clube.
O Flamengo não nasceu para imitar, mas para ser imitado.
O Flamengo é a antítese desse modelo frio, distante, limpinho, cheirosinho, excessivamente racional e metódico.
Eles querem extirpar por completo o componente passional de tudo que envolve o departamento de futebol do Flamengo. Erro crasso.
O problema não é o elenco, o técnico de ocasião ou o diretor de futebol, ou melhor, eles são sim parte do problema, mas a questão é mais grave e remete à concepção de futebol adotada pela diretoria.
Podem mudar momentaneamente os nomes, podem trocar o elenco inteiro, mas se a diretoria não entender quão importante é preencher inteiramente o departamento de futebol com paixão, com amor, com tudo que signifique e simbolize o Flamengo, os esforços serão em vão.
Os funcionários do departamento de futebol são apenas isso: funcionários. Eles trabalham para o clube e devem obedecer às diretrizes traçadas.
Cabe à diretoria eleita defini-las, acompanhar de perto e cobrar com firmeza a sua implementação.
Hierarquia, comando, orgulho do clube.
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Seria sensato contratar pelo menos um gerente de futebol ligado ao Flamengo. Pelo menos.
E que o vice-presidente participe mais ativamente do dia a dia. É ridículo aparecer para lançamento de Chapa, apresentar Pdg e depois se ausentar do clube, limitando-se a dialogar com a imprensa e a torcida via WhatsApp.
Sobre o presidente Eduardo Bandeira de Mello, ao aceitar o cargo de chefe de delegação da CBF, ele prestou um desserviço ao clube e a si mesmo.
Digo mais: a diretoria eleita se omite, se esconde atrás dos "profissionais".
É evidente que um sujeito que ganha uma fortuna para fazer o seu trabalho, e cumprir metas, como é o caso dos profissionais, tem de se expor e explicar as razões do fracasso.
Mas e o fracasso da gestão? E o fracasso do planejamento? E o fracasso daqueles que são os responsáveis por contratar esses profissionais?
Eles também devem se expor, devem satisfações à torcida. A diretoria eleita é a maior responsável, seja em caso de vitória, seja em casa de derrota.
Mas a diretoria atual, quando o momento é bom, quando é para ser lambida pela mídia especializada, aparece em todos os programas, todos os canais; quando o contexto, porém, é adverso, eles se escondem, se recusam a aparecer.
Esse esforço pela "preservação da imagem" pode até funcionar, às vezes; todavia, quando é utilizado como estratégia corriqueira perde a força e toma o efeito contrário, potencializando os danos.
É exatamente o que está ocorrendo agora com o presidente e o vice-presidente de futebol.
Estão a transmitir para quarenta milhões de rubro-negros a imagem da passividade, da hesitação, da falta de comando. E isso é péssimo.
Que o presidente Eduardo Bandeira de Mello e que o vice-presidente Flavio Godinho tenham a humildade e a sabedoria para, juntamente com seus colegas de diretoria, adotar as providências necessárias e indispensáveis para que o futebol do Flamengo reencontre minimamente a sua tradição, a sua história, a sua honra e a sua identidade.
Mas acho difícil que algo seja feito: mais de 24h após a vergonha, e nenhuma atitude, nenhuma satisfação, nenhum ato que denote respeito e consideração ao torcedor do Flamengo foi tomado.
Mas acho difícil que algo seja feito: mais de 24h após a vergonha, e nenhuma atitude, nenhuma satisfação, nenhum ato que denote respeito e consideração ao torcedor do Flamengo foi tomado.
Fica o alerta: muito pior que as seguidas derrotas e vexames é a perda de identidade. Essa, uma vez desaparecida, nem todo o dinheiro do mundo pode resgatar.
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Abraços e Saudações Rubro-Negras todos.
Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.