segunda-feira, 4 de abril de 2016

Hora de Menos Discurso e Mais Atitude

Salve, Buteco! Vieram dois empates na semana com dois clássicos que prometia e efetivamente trouxe fortes emoções para o Mais Querido, envolto em uma crise técnica e de confiança (sem trocadilho) com a torcida. A situação na tabela da Taça Guanabara não é boa, porém, sob a perspectiva de classificação, pode ser perfeitamente revertida. A tendência lógica é de que o Fluminense jogue para vencer o Volta Redonda no Raulino de Oliveira no próximo domingo e, na rodada seguinte, decida com o Vasco da Gama o título do turno, o que em tese dará todas as condições para que o Flamengo vença Boavista e Bangu e se classifique. É claro que, para um time que não vence há 6 (seis) partidas, incluindo confrontos contra equipes do porte de Confiança/SE e Volta Redonda/RJ, que inclusive o derrotaram, não podemos falar, de forma alguma, em favas contadas. Entretanto, a julgar pela postura nos clássicos contra Vasco da Gama e Botafogo, e até pelo predomínio geral, especialmente no primeiro jogo, a classificação é viável.

O momento, contudo, exige menos reclamações e mais ação por parte do treinador e atletas. A curto prazo, independentemente do esquema tático e da escalação escolhidos, é hora da estratégia SCO do velho Jair Pereira - "simples, certo e objetivo". Não é hora de entrevistas coletivas sem sentido e de jogador tentar resolver sozinho na marra e se consagrar; é mais fácil tocar para o companheiro em melhores condições e garantir a vitória. É hora também do treinador reclamar menos em entrevistas e colocar em campo a formação mais efetiva e competitiva, deixando de lado suas preferências pessoais, de acordo com o que dispõe no elenco. Os melhores treinadores são os que extraem o melhor possível das peças que têm em mãos e não os que tentam impor um esquema tático que os jogadores não conseguem cumprir. Não, não estou condenando o 4-1-4-1, mesmo porque a volta de Mancuello se aproxima, mas é hora de buscar alternativas táticas para as suspensões, contusões e situações de rodagem do elenco que se apresentarem.

Uma semana livre de treinos para recuperação e definição de estratégia e tática para vencer bem o bravíssimo Boavista, de Bacaxá/RJ, e depois mais outra de preparação para a última rodada contra o tradicional, porém magro Bangu/RJ. Chega de mimimi, por favor.

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Na franca entrevista concedida por Flávio Godinho aos repórteres Fred Gomes e Raphael Zarko, do Globo Esporte.com, foi possível esclarecer vários pontos, além de constatar algumas falhas no planejamento do futebol para 2016, a começar pela questão do estádio, quando Godinho reconhece que não conversaram com Muricy Ramalho a respeito de qual ou quais estádios utilizariam. O fato pode em parte ser "explicado" pelo fato do planejamento haver sido traçado considerando a priorização da Primeira Liga em detrimento do Estadual e não a disputa de duas e, em determinado momento, três competições simultaneamente com o time titular. Ainda assim identifico aqui outro erro de planejamento oriundo de uma imperfeita comunicação interna no clube, pois considero inadmissível alegar desconhecimento do conteúdo do contrato envolvendo os direitos de transmissão do Campeonato Estadual com a Rede Globo. Logo, a exigência da utilização dos titulares como fator imprevisto não me parece ser um argumento válido, ao menos quando se avalia a qualidade do planejamento.

Outro ponto sobre o qual a Diretoria e o treinador terão forçosamente que se debruçar  é em relação à escolha de determinadas "peças-chave" no elenco. Novamente sendo absolutamente franco e direto, qualidade louvável, Flávio Godinho demonstrou que Wallace é um jogador que conta com a confiança da comissão técnica. Não é exagero afirmar que também conta com a confiança da Diretoria, tanto pela extensão do contrato que tem em vigor, como pela posição que ocupa no elenco, já que é função inata da Direção de Futebol supervisionar o trabalho da comissão técnica e a posição que determinados jogadores ocuparão no elenco. A título de exemplo, vide a implacável mesa diretora do Bayern de Munique, comandada pelo CEO Karl-Heinz Rummenigge, em relação a Pepe Guardiola. 

Sendo o mais claro possível, se é verdade que o nível de precisão nas contratações e a qualidade do elenco aumentou com Rodinei, Cuéllar e Mancuello, a insistência em jogadores como Paulo Victor, Wallace e Márcio Araújo demonstra no mínimo recalcitrância para enxergar o óbvio: que esses jogadores não têm condições de serem titulares do Flamengo, de usarem a braçadeira de capitão e de ocuparem a condição de líderes do elenco, funções que deveriam ser atribuídas a atletas que pudessem aliar a experiência e o perfil de liderança a um patamar mais elevado de qualidade técnica. As evidências se acumulam desde a temporada/2015 e sábado tivemos apenas a coleta de mais alguma delas. 

Citei o exemplo de Wallace, porém vale lembrar que já tinha contrato em vigor antes da recente chegada de Muricy Ramalho, a quem portanto não pode ser atribuída a maior parte da responsabilidade pela montagem do elenco da temporada 2016. O ponto é que não adianta afirmar em entrevista que o atleta conta com a confiança da Comissão Técnica. O trabalho da Direção de Futebol, em tese, deve ir bem além disso e, no caso do Flamengo, o trabalho do atual treinador, que há pouco tempo chegou, teria sido bastante facilitado se o padrão de exigência para a permanência de atletas no elenco, em nível de qualidade, tivesse sido mais rigoroso por parte da Diretoria.

Seria fantástico comemorar a conquista do Estadual diante de tantas condições adversas e com o Vasco da Gama tendo tantos privilégios e influência perante a FFERJ. Preparar-se para vencê-lo é, de certa forma, preparar o time para desafios mais difíceis. Todavia, convenhamos, as prioridades devem ser o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil, e acredito que não seja preciso lembrar que o nível do Brasileiro é bem mais alto e competitivo do que o Estadual, assim como as fases mais avançadas da Copa do Brasil. Tanto a conquista do título como eventual fracasso não deveriam desviar o foco da Diretoria em relação a uma função indelegável e que não pode ser terceirizada.

No elenco atual, parece-me evidente que, em linhas gerais, do meio pra frente o Flamengo está bem melhor do que em temporadas anteriores, sendo competitivo em âmbito nacional; já no setor defensivo que tomou inacreditáveis e inaceitáveis 53 (cinquenta e três) gols no Brasileiro/2015 (um a menos do que o rebaixado Vasco da Gama), Rodinei, Juan e Jorge se salvam no meio da mediocridade, sendo que os reforços se limitam aos dois primeiros, o que sem a menor sombra de dúvida pode colocar em xeque um planejamento que, como visto, já tem suas falhas.

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A palavra, como sempre, está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.