Saudações
flamengas a todos,
Essa
semana respondo a uma solicitação do colega Felipe kta, que nos
comentários mostrou interesse em conhecer um pouco da formação dos
times flamengos que conquistaram os seis Brasileiros e o Mundial.
Pois, aí vão algumas linhas sobre o processo de montagem dessas
equipes. Boa leitura.
1980
Raul,
Toninho, Rondinelli, Marinho, Júnior; Andrade, Carpegiani, Zico;
Tita, Nunes, Júlio César
A espinha
dorsal de 1980 não foi substancialmente alterada. As duas
modificações mais sensíveis aconteceram na zaga e no comando de
ataque. Marinho, que fez grande Brasileiro pelo Londrina, foi
contratado para ajudar a sanar os problemas de um setor que vinha
dando calafrios no torcedor, e logo assumiu a posição de titular,
no lugar do contestado e estabanado Manguito. Já a questão do
centroavante foi um tanto mais complexa. Cláudio Adão se
desentendeu com Coutinho e foi posto à venda, sendo emprestado ao
Botafogo. Enquanto a diretoria buscava a reposição, o jovem
talentoso Gerson Lopes foi testado em amistosos da pré-temporada e
agradou, mas uma séria lesão interrompeu sua trajetória e abreviou
sua passagem pelo rubro-negro. A saída foi a improvisação de Tita,
sem sucesso. As atuações do Flamengo no Brasileiro já começavam a
preocupar o torcedor, quando o clube, após quase conseguir repatriar
o vascaíno Roberto Dinamite, fechou a vinda, inicialmente por
empréstimo, de Nunes, junto ao Monterrey-MEX. Nunes encaixou
perfeitamente na equipe e desde o início começou a fazer história.
O time
ainda dispunha de Adílio, que, versátil, funcionava como um “12º
jogador”. Com as frequentes lesões de Carpegiani, o “Neguinho da
Cruzada” era figura frequente no onze titular. Coutinho por vezes
também optava por escalá-lo ao lado do próprio Carpegiani,
deixando Andrade no banco, em uma alternativa mais ofensiva. Por fim,
Adílio ainda podia ser utilizado como falso ponta-esquerda, opção
que o desagradava e era pobre, por mantê-lo em uma faixa muito
restrita do campo. Por fim, Raul, após quase ser negociado, venceu a
disputa com Cantarele e se tornou efetivamente o titular do gol do
Flamengo.
1981
Raul,
Leandro, Marinho, Mozer (Figueiredo), Júnior; Andrade, Adílio,
Zico; Tita, Nunes, Lico
O Campeão
Brasileiro de 1980 perdeu Toninho, negociado com o futebol árabe, e
Júlio César, vendido para o Talleres-ARG. Para repor a saída do
“touro premiado”, o ótimo lateral Carlos Alberto se tornou a
opção natural, mas uma séria lesão no joelho permitiu a ascensão
do jovem Leandro, que com um futebol exuberante tomou conta da
posição (e em poucos meses chegou à Seleção Brasileira). A
substituição do “Uri Geller” se tornou o grande enigma flamengo
da temporada. Inicialmente Adílio foi deslocado para o setor, o que
provocou funda insatisfação no jogador. No segundo semestre, foi
contratado Baroninho (ex-Palmeiras), que com gols, um chute potente e
boas atuações individuais permaneceu como titular por um bom tempo.
Mas, na reta final do ano, Baroninho foi sacado por opção tática,
dando lugar a Lico, que andava “esquecido” no elenco, treinando
com reservas e juniores. A entrada do catarinense “arredondou” a
equipe, que, azeitada e ajeitada, decolou para as maiores conquistas
da história do clube.
No meio,
Adílio (que, em meio ao desgaste gerado por sua recusa em jogar na
ponta, quase foi negociado) herdou a vaga de Carpegiani, que se
rendeu às lesões e pendurou as chuteiras, para pouco depois assumir
o posto de treinador. Já a zaga, após o fiasco de Luís Pereira,
permaneceu formada pela dupla Rondinelli-Marinho, mas o Deus da Raça
(que já vinha desgastado com a comissão técnica) fraturou o
tornozelo na partida contra o Cerro Porteño em Assunção. O garoto
Mozer (que era tratado como jóia) assumiu o posto e, a exemplo de
Leandro, conquistou de imediato a vaga de titular. No entanto, por
ser susceptível a lesões, deu espaço para a ascensão de outro
jovem talentoso, Figueiredo, que também mostrou qualidade e
capacidade de atuar na equipe principal. Vendo-se sem espaço,
Rondinelli aceitou proposta do Corinthians e deixou o clube.
1982
Raul,
Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Adílio, Zico; Tita,
Nunes, Lico
Carpegiani
mexeu pouco no time-base após a conquista do Mundial. As alterações
na escalação decorriam de lesões ou demora em renovações
contratuais (como no caso de Tita). Os reservas mais utilizados eram
Figueiredo e, principalmente, o volante Vítor, que vivia a condição
inusitada de fazer parte da lista de convocados da Seleção
Brasileira e não ser titular no seu clube. Vítor costumava entrar
formando uma dupla de volantes com Andrade (saindo Lico), tornando o
time mais sólido na marcação. Como ia bem à frente e chutava
forte, o time não perdia força na frente (seu grande momento
aconteceu na fantástica virada do Flamengo contra o Internacional
por 3-2 no Beira-Rio).
Mas o maior problema daquela campanha foi a
lesão no joelho de Nunes, que o deixou cerca de 30 dias fora da
equipe. Testou-se Reinaldo (egresso do Náutico) e Anselmo, sem
sucesso. Ironicamente, o jogador que acertou o ataque foi o
improvisado Peu, que em apenas 36 minutos (antes de sofrer uma
dolorida distensão muscular) derreteu a defesa (e o time inteiro) do
Guarani no primeiro jogo das Semifinais do Brasileiro. De qualquer
forma, Nunes retornou para as partidas finais, a tempo de marcar o
gol do Bicampeonato Brasileiro.
1983
Raul,
Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Vítor, Adílio, Zico; Elder,
Baltasar, Júlio César Barbosa
A
campanha do Tri Brasileiro foi a mais acidentada e dramática dos
títulos da Era Zico, sendo caracterizada por dois elementos bastante
caros à auto-estima do rubro-negro: a arrancada na reta final e o
desempenho devastador no Maracanã.
A
temporada iniciou sob a égide do desejo de desenvolver uma renovação
na forma de jogar da equipe. As derrotas na reta final de 1982
transformaram a ausência de pontas especialistas, antes um trunfo,
em fardo. Com isso, o Flamengo tirou do rival Fluminense um dos seus
principais jogadores, o arisco ponta-direita Robertinho. Do Grêmio
veio o centroavante Baltasar, envolvido em uma troca por empréstimo
com o desgastado Tita. Nunes, que brigou com Carpegiani e com parte
do elenco, foi afastado do elenco e acabaria emprestado ao Botafogo.
Dessa forma, o Flamengo começou o ano com Robertinho e Baltasar
ocupando as posições de Tita e Nunes, respectivamente. Não deu
certo. O clube ainda vivia uma forte ressaca pela perda do Estadual e
da Libertadores, o time, desmotivado, demorou a encaixar, e nesse
contexto o treinador Carpegiani não resistiu e, mesmo sem maus
resultados expressivos, perdeu o cargo.
A saída
do comandante afundou o clube em uma pesada crise, que custou ao
Flamengo a eliminação na Libertadores (após dois péssimos
resultados na Bolívia) e, por pouco, não redundou também na saída
do Brasileiro. O treinador dos juniores, Carlinhos, mostrou-se ainda
imaturo para a função e durou pouco, dando lugar ao diletante
Carlos Alberto Torres, numa cartada que decidiria a competição.
Em meio à
turbulência, vários jogadores foram testados, jovens como Bigu,
Adalberto, Bebeto e Ademar. Além disso, o time perdeu Andrade e
Lico, abatidos por sérias lesões que os tiraram do Brasileiro. O
lugar de Andrade foi ocupado por seu reserva natural, Vítor (que já
dava sinais de insatisfação no banco). Já para a vaga de Lico
entrou o jovem Edson, que agradou individualmente mas, por ser ponta
nato, comprometeu o equilíbrio da equipe.
Torres,
esperto, reuniu-se com os líderes do elenco (Zico, Júnior e Raul) e
daí rabiscou o esquema que usaria na parte final da competição.
Sacou Robertinho e Edson, promovendo os jovens Élder (volante para
fazer dupla com Vítor) e Júlio César (falso ponta para compor o
meio). Deu certo. Muito certo. Animado e leve, o time voou nos
últimos jogos, destroçando quem aparecesse no Maracanã (5-1
Corinthians, 3-0 Atlético-PR, 3-0 Santos etc). E marchou para o Tri.
Destaque para Adílio que, com liberdade para flutuar na frente ao
lado de Zico, viveu seu melhor momento na carreira.
1987
Zé
Carlos, Jorginho, Leandro, Edinho, Leonardo; Andrade, Ailton, Zico;
Renato, Bebeto, Zinho
A origem dessa formação remete-se ao Terceiro Turno do Estadual, quando Antonio Lopes sacou o pesado Kita da equipe e montou o ataque com os velozes Renato e Bebeto, usando dois volantes e um falso ponta para permitir que Zico atuasse com liberdade. Quando, pouco tempo depois, Carlinhos assumiu o comando, logo aproveitou a ideia do antigo treinador, apenas remanejando as peças dentro do que tinha à disposição (Edinho no lugar de Mozer, vendido ao Benfica-POR, Leonardo na vaga do lesionado Adalberto, Ailton barrando Júlio César Barbosa e Zinho repondo a saída de Marquinho, negociado com o Atlético-MG).
Carlinhos
usou essa equipe logo em sua estreia como treinador, nos dramáticos
2-1 contra o Vasco. Mas sofreu por todo o primeiro turno com toda
sorte de problemas (Zico e Bebeto lesionados, Jorginho fora
discutindo renovação contratual, Edinho com o malar afundado após
agressão de Geovani), e, com as limitações do elenco, por pouco
não perdeu o cargo. À medida que os titulares retornavam, o time
foi ganhando corpo e cresceu no momento certo, até a conquista do
Tetra.
1992
Gilmar,
Charles Guerreiro, W.Gotardo, J.Baiano, Piá; Uidemar, Júnior,
J.César Imperador (Marquinhos), Nélio; Gaúcho, Zinho
Naquele
que provavelmente foi seu melhor trabalho no Flamengo, Carlinhos
soube, com maestria, rodar o elenco e promover a integração da
fantástica base de jogadores com a espinha dorsal do elenco,
formando um time consistente e com um banco de reservas fortíssimo
(Rogério, Fabinho, Marquinhos, Marcelinho, Paulo Nunes, entre
outros), onde mesmo o limitado Toto era capaz de contribuir com gols.
Carlinhos,
a princípio, sacou Marcelinho do time titular, promovendo Paulo
Nunes. Com o retorno de Uidemar, Marquinhos também foi para a
reserva, e com essa formação o time se sagrou Campeão Estadual no
ano anterior.
Como
Júnior decidiu manter-se em atividade, a base foi mantida para o
Brasileiro, chegando apenas o já citado Toto para a reserva de
Gaúcho e o versátil meia Júlio César Imperador. O time viveu
algumas turbulências, como a guerra não-declarada entre Rogério e
Júnior Baiano por uma vaga no time e a lesão de Gaúcho, cuja
pressa em acelerar o retorno quase o alijou do Brasileiro. Sem a
referência no ataque, o Flamengo viveu dias complicados, despencou
na tabela e flertou com uma crise pesada. Carlinhos “trancou a
casinha” em alguns jogos, tirando Paulo Nunes e efetivando Júlio
César ou Marquinhos (povoando assim o meio). A formação mais
cautelosa funcionou bem nos jogos finais (já com Gaúcho de volta),
e a desacreditada equipe conquistou o Penta. Infelizmente, a venda de
Zinho, a séria lesão de Nélio e a má condução de Carlinhos na
briga entre Rogério e Júnior Baiano (encaixou ambos em um bizarro
esquema de três zagueiros) comprometeram o restante da temporada.
2009
Bruno,
Léo Moura, Álvaro, R.Angelim, Juan (Everton); Maldonado, Airton, Willians,
Petkovic; Adriano, Zé Roberto
A
formação que deu o hexa ao Flamengo começou a ser definida após o
bisonho empate com o Fluminense (1-1) que tirou o rubro-negro da
Sul-Americana. Após a partida, Andrade cravou, sorriso de canto de
boca, “achei o time”. Todos riram e xingaram, mas os categóricos
3-0 sobre o Santo André, no jogo seguinte, mostraram que talvez o
Tromba estivesse certo. E estava.
O time,
dirigido por Cuca, iniciou a competição variando formações com
dois ou três zagueiros, algo confuso. O volante Airton, na falta de
titulares confiáveis, acabou improvisado no miolo de zaga, atuando
ao lado de Ronaldo Angelim. A armação ficava a cargo da dupla Ibson
e Kleberson. Willians e Toró protegiam a zaga e a dupla Emerson
Sheik e Adriano era o ponto alto da equipe. Nas laterais (ou alas),
os já contestados Leonardo Moura e Juan.
Sheik foi
negociado com o futebol árabe, Ibson voltou para Portugal, Kleberson
sofreu luxação no ombro (atuando pela Seleção), Juan se lesionou
e Cuca foi demitido. Com isso, surgiu o contexto que propiciou a
necessidade de mudanças profundas em uma equipe que não empolgava e
patinava nas posições intermediárias do Brasileiro. Andrade
assumiu e a princípio manteve uma formação com três zagueiros.
Conviveu com lesões e convocações de jogadores, precisando, assim,
utilizar o limitado elenco de apoio. Recebeu reforços importantes
(Maldonado e Álvaro). Andrade efetivou ambos, alterou a forma de
jogar para um 4-2-3-1 (inspirado, segundo alguns, no esquema do
Flamengo de 81), devolveu Airton à condição de volante, alçou
Everton a titular como lateral-esquerdo (mais tarde, Juan retornaria
o posto, por conta de uma contusão do camisa 22) e “ressuscitou”
o encostado Zé Roberto. E houve o decadente Petkovic, ídolo de
tempos passados, que retornara ao clube em troca da quitação de uma
dívida. Vendo fome de um derradeiro brilho no jogador, Andrade
demorou, mas conseguiu encaixar o sérvio (encontrou sua posição
justo no tal Fla-Flu). Com isso, montou um time para que brilhassem
os principais expoentes de talento, Petkovic e Adriano. Funcionou, o
time ascendeu vertiginosamente na tabela, derrotou todos os
principais concorrentes e tirou o Flamengo de 17 anos de jejum.