Pois é Butecada, depois de merecidas férias estou de volta ao lar.
Como tudo que requer prática, escrever o texto de hoje foi difícil
por conta da infinidade de temas, assuntos que poderiam ser
abordados. Vejo que o tema calendário é apropriado para o retorno. Calendário, novamente. Sejam bem-vindos de volta à coluna!
Antes de apresentar e construir a narrativa que levará ao calendário
que penso ser atrativo, não dá pra deixar de lado a questão
política que é a principal responsável pela crise decorrente de
anos e anos de abandono e amadorismo no futebol brasileiro, como um
todo. Como boa parte dos torcedores, vejo a liga como um divisor de
águas, mas no momento não enxergo um projeto estruturado para este
salto. Tudo tem sido pensado passo a passo, pelo passado sombrio de
traições e as cotas de TV, que vem sendo discutidas. Mesmo com um
interesse comum é perceptível o cuidado dos clubes na para não
“avançar” sobre a soberania do parceiro comercial.
Talvez seja isso que falte de fato, os clubes devem se pensar como
parceiros comerciais e uma liga nacional forte alavancaria o futebol
brasileiro a outro patamar. Colocando a bola no chão, enxergo em um
futuro que espero próximo (aparentemente não tão próximo), a
união da Primeira Liga com a Liga do Nordeste, que depois se uniriam
aos clubes de São Paulo, naturalmente. Com a CBF ruindo e as
federações estaduais se enfraquecendo, já que os clubes estão se
empoderando, vejo como provável. Provável.
O texto é uma visão hipotética de como vejo um calendário futuro
do Brasil, mais do que isso, como eu gostaria que fosse para os
principais times do país, os que detêm mais de 90% dos torcedores,
seguramente. Os campeonatos estaduais têm seus defensores, porém
vejo como um problema sob todos os aspectos. Para todos. Grandes e
pequenos clubes.
Para organizar, equalizaria o calendário brasileiro com o Europeu.
Temporada de Agosto a Maio, com um pequeno intervalo da segunda
quinzena de Dezembro e a primeira quinzena de Janeiro, parecido com o
que ocorre com o campeonato alemão. Férias em Junho, pré-temporada
em Julho. Na nova organização do futebol a comercialização pela
liga de direitos propriedades pela liga pode não ser abrupta, embora
a ruptura da estrutura uma hora ou outra seja. Existem as questões
contratuais, que forçariam que essa mudança se desse apenas em
2020. Daria tempo para a preparação e maturação do modelo.
Essa tarefa é uma das mais complicadas num país de cultura
futebolística de calendário arraigado à estrutura atual. Sendo
assim, poderia manter-se o calendário natural Janeiro-Dezembro. Como
o foco é outro, passemos.
Estadual
Os estaduais paralisam avanços do restante da temporada, do sistema,
são uma âncora! Utilizam-se de três meses, asfixiando o segundo
semestre, o Brasileiro, desnecessariamente. Já defendi por muitas
vezes o término desta tradição, mas fui convencido em uma conversa
entre amigos que não seria o ideal. Um deles foi taxativo e razoável
em seu argumento, disse que os estaduais fazem com que o Brasil não
seja uma Espanha, mostram o tamanho do país, uma Europa em termos
territoriais. As rivalidades regionais sustentam/sustentavam o
sistema como um todo. Já ouvi o PVC falando no mesmo sentido. O
Brasileirão tem potencial para ser a “Champions League” da
América do Sul. Se bem organizado.
Minha solução para os Estaduais é a ampliação do calendário,
com 40 partidas durante o ano. Só que para os pequenos e os
“aspirantes”. Sim, os aspirantes! Equipes sub-23 + três atletas
com mais de 23 anos. A formação dos grandes clubes se ressentem de
um melhor aproveitamento da base. Muitos atletas demoram a se
desenvolver, outros não tem como entrar em ritmo de jogo. É a
chance. Seriam 10 meses de Carioca (Paulista, Mineiro e Gaúcho, os
principais estaduais). Não precisa de TV. Se alguém quiser colocar
dinheiro em transmissão, coloque, quem quiser assistir ao estadual,
com os aspirantes, assista, acompanhe. Desenvolve a base (quem subiu)
e classifica os pequenos pra série D e Copa do Brasil.
Primeira Liga
Na mesma conversa citada acima, outro amigo veio e foi assertivo: “A
Liga é um proto-Brasileirão. O medo todo é esse”. Realmente
devemos temer. Todos de olho em nossa grandeza. Já discuti em outra
coluna, teremos que ceder algumas coisas, do mesmo jeito que
estaremos em melhores condições para negociar. O calendário também
é um adversário de quem é favorável à liga, são datas a mais
para se jogar. Quando as coisas tomarem um rumo, enxugaríamos as
datas. Vejo com naturalidade. Absurdo são 19 datas para os
campeonatos estaduais.
Levando em consideração que a Liga é um proto-Brasileirão, porquê
não abrir a temporada com um “Torneio início”? Seria ótimo
para garantir uma taça no primeiro mês da temporada e uma grande
promoção para o Brasileiro, coisa que não existe. Para que
funcione, sugiro que os 16 clubes que permaneceram no último
campeonato façam este torneio em mata-mata.
O 16º clube do ano anterior joga com o campeão Brasileiro em
partida única, em sua casa, assim como o vice-campeão que joga com
o 15º, seguindo os cruzamentos: 16º x 1º, 15º x 2º, 14º x
3º, 13º x 4º, 12º x 5º, 11º x 6º, 10º x 7º, 9º x 8º.
Seria interessante e ruim... (hipoteticamente, jogaríamos em casa
contra o Internacional em 2016). Na segunda fase, os oito clubes
restantes seriam sorteados para confronto e mando de campo, também
em jogo único. Nas semifinais partidas de ida e volta e final em
jogo único em campo neutro. Cinco datas. Poderia ser
Brasília, Belém, local previamente definido. Uma espécie de “copa
da liga”, como acontece na Inglaterra, que geralmente se decide em
Wembley por conta da tradição de neutralidade do estádio.
Copa do Brasil
Nada muda. Exceto se o calendário se equalizasse com o calendário
europeu. Isso acontecendo, 10 datas no máximo. Com o atual,
Janeiro-Dezembro, são/seriam 14 datas para os clubes que não se
classificaram para a Taça Libertadores e 8 para os classificados do
torneio continental.
Campeonato Brasileiro
O Campeonato Brasileiro, o maior e mais importante do nosso
calendário seria disputado em nove meses, não em
sete como é atualmente. À parte as datas fifa (8),
teríamos 31 finais de semana e 7 meios de semana para realizar o
campeonato. O Brasileiro de 2015, por exemplo, foi
disputado com 28 rodadas nos finais de semana e 10 rodadas no meio da
semana, espremidas nos 7 meses, repito. Faz muita diferença.
O Importante seria um calendário mais enxuto e que respeite aos
interesses dos clubes, quem paga os salários e faz o espetáculo,
evitando absurdos como os da FFERJ que desrespeitou as férias dos
atletas da base. Jogos em fevereiro, um absurdo! Só A FFERJ fez isso, como o jornalista Paulo Calçade bem disse a “Rubens Liga” é uma vergonha!
Hoje o calendário oficial tem 83 jogos para o São Paulo se for
campeão de tudo ou decidir a todos os torneios da temporada (19 do
Paulista, 16 da Libertadores, 2 do mundial, 38 do Brasileiro e 8 da
Copa do Brasil). OITENTA E TRÊS jogos! Hoje o Flamengo jogaria no
máximo 72 partidas, o que já seria um absurdo. No calendário
proposto por mim, teríamos no máximo 67 jogos pra um time que
dispute Libertadores e Mundial e 57 jogos para quem não se
classificou para a Libertadores. Bem razoável!
Só como ponto de comparação, o Flamengo de 2013 jogou 10 jogos a
mais que o Real Madrid, que ganhou o Espanhol, Liga do Rei, UCL e
Mundial. E aí, na hora de fechar o texto, eis que me surge uma
notícia que balança o Mercado e sinceramente não sei como vai se
dar. Em relação à legislação complica as transmissões de TV. À
ver. Atlético-PR e Coritiba aceitaram a oferta da TV Esporte Interativo/Turner.
Pode ser um tiro no pé. O que importa é que na hora que os clubes
entenderem que o calendário é a melhor forma de se empoderar no
futebol, se organizar e melhorar o produto, o futebol brasileiro será
forte novamente. O calendário é o poder!