Tudo na vida é aprendizado. Somos rodeados por pessoas ambíguas, tratos que não são cumpridos, obrigações não obedecidas, enganos, desfeitos, penalidades, acidentes, sucessos e banalidades em modelos complexos e idealizados de funcionamento de departamentos, setores, profissionais e...times.
Não é fácil. A experiência ajuda mas não é determinante. As coisas mudam. Modelos teóricos tornam-se ultrapassados. Novas táticas, novos tipos de profissionais, novas metodologias de treinamento, alimentação, performance, disciplina, são criadas, aplicadas, substituindo com sucesso relativo (ou não), antigos conheceres.
Uma eleição é realizada. Uma gestão chega. Troca todo mundo. Que manda e que obecede. Gente nova. Com conhecimento superficial do que é, de como funciona, como se produz, como se lida. Não tem dinheiro? Não pode errar. Mas claro que erra. Agentes, intermediários, promessas de jogadores em oferta, supostamente cobiçados, o jogo pede recursos variados para diversas posições. Pede técnicos. E os técnicos já têm sua própria bagagem intelectual, emocional e técnica. Desgastada, ameaçada, desconhecida do ambiente. Dos dirigentes. Da torcida e jogadores.
Estes formam o mundo à parte. Um clube com treinamentos feitos por preparadores físicos que se sucedem no entra e sai de técnicos e suas mil e uma formas de lidar e trabalhar com o elenco. Preferências sadias ou covardes de jogo. Jeito de olhar. Forma de disciplina. Jogador se isola em seu mundo de headphone. É jovem. Testosterona. Perdições da noite e dos amigos. A pressão chega e compromete rendimento.
A equipe não anda. O técnico conta com experientes do elenco. Que desabam e não dão respostas. Os dirigentes batem um com a cabeça no outro. Trocam entre si. Não vai. Trocam técnicos. Funciona 10 jogos. Começa a contratar, contratar, entre mais recheio nesta salsicha sem gosto para salvar o ano. E salva. Em termos. A torcida exige mais. Quer ser campeã. Quer se orgulhar. Brada que ninguém presta. Os jogadores de headphone olham sem vida. Amanhã estão em outro clube, outros contratos. Técnicos esperam a hora da multa. E pensam naquela viagem. Dirigentes então sentam e planejam.
Como mudar isto? Precisa de interlocutor entre elenco e diretor. Decide-se. Que seja ex-jogador, alguém com mais proximidade. Mas não pode ser qualquer zé mané, certo? Não. Mas adianta alguém que não fale a língua boleira? E eles querem falar, por acaso? Querem se comprometer? Querem dar o sangue, atuar com fibra pelos belos olhos do treinador e interlocutor? Não. Como fazer um desinteressado se interessar?
Será pela disputa? Pela oportunidade de qualquer um ser o titular e poder ganhar mais celebridade? Mais dinheiro? Mais reconhecimento? O desfocar é uma doença contagiosa ou é pontual? O interlocutor arrumado pelo clube destrói grupinhos ou trabalha com eles? Bem, motivador, disciplinador, controlador e amigo. Consegue?
E a dúvida persiste: Em ambiente em que chegam jogadores com perfis de boleiros amadores como conseguir desempenho profissional e postura emocional correta nos jogos? Vem o teórico palpiteiro, dirigente amador, ou especialista, quem sabe, e responde: Primeiro parte do desempenho atlético, físico e fisiológico. Não adianta jogador que se cansa rápido em meio a disputas insanas de bola. Precisa de estrutura para isto. Treinamento, recuperação, academia, repouso, alimentação balanceada e especial. Staff que monitore, controle, e se aprimore. Precisa se sentir em uma fábrica de atividade atlética.
Como assim?
Precisa saber seu desempenho. Mostrado, discutido e apreciado. Entender variações táticas que possa desempenhar enquanto membro de um time. Conhecer adversário. Seus pontos frágeis. Quem é o bom. O jogador vai com uma meta a desempenhar. Seguro de si. Preparado e bem cuidado. Treinamentos na medida certa. Alta, média ou baixa intensidade na medida da necessidade. Planos de metas de campeonato. Bonificação. Premiações por resultados alcançados. Debates intensos sobre o que não funcionou. Como corrigir. Porque não está dando certo. Como pode ser melhor. Precisa de dados. Centro de inteligência, scouts, estatísticas de passes,desarmes, chutes certos com perna direita, perna esquerda, últimos passes, penúltimos. Distância dos passes, sentidos dos mesmos. Erros, média, gráfico de evolução, involução. Discussões.
Um futebol centro de ciência. "Vamos lá" dosado em jogadores preparados. Dirigentes planejando, analisando, respondendo a associados e torcedores. Imprensa. Analistas. Justificativas, estratégias e conhecimentos sendo apreendidos.
Ah sim, Ok.
Mas chega outra eleição, novos rumos. Novas cabeças e novas sentenças. Mas o futebol virou indústria produtiva. E vem o pensar do como fazer ainda mais lucrativa, ganhando títulos, contratando e formando cada vez melhor. Sonho? Pode ser. Mas quando temos uma realidade que é fruto da materialização de um sonho, o dever do sonhador foi cumprido.
Por Flavio H Souza