Saudações flamengas a todos.
A recente viagem ao Rio de Janeiro, além de votar e conversar muito sobre Flamengo, serviu-me para levar a cabo outro projeto pessoal, o de conhecer alguns pontos-chave da história do clube. E são alguns detalhes desse "percurso histórico" que deixo aqui agora, no texto da semana. Para conferir certo requinte à coisa, chamei o consagrado Ruy Castro, cujos excertos abrem cada etapa da viagem.
Boa diversão.
O PERCURSO - Praia do Flamengo - Praça Luís de Camões - Palácio do Catete (entrando pelo Jardim e saindo pela fachada principal) - Rua do Catete - Rua Marquês de Abrantes - Rua Paissandu.
O LAMAS

“Donde,
a cada vitória do Flamengo sobre o Vasco no remo, o Lamas
regurgitava e seus torcedores saíam pela rua do Catete pendurando
tamancos e postas de bacalhau na porta dos estabelecimentos ligados à
Coroa portuguesa.”

O Lamas
mudou de endereço. Não está mais no Largo do Machado, de onde foi
remanejado anos atrás em função das obras do metrô. Mas, mesmo em
sua localização atual, na Rua Marquês de Abrantes, na beira da
Praça José de Alencar (bem perto do ponto original), é possível,
entre um chope e outro, respirar o fundo e denso ar carreado da mais
intensa essência flamenga, seja em seu interior vetusto, seja em seu
despojado (quase improvisado) ambiente externo. O Botafogo não causa
mais indignação, talvez somente suscite sorrisos desdenhosos. Mas,
entre política interna, futebol, história, perspectivas, enfim,
tudo o que envolve contexto flamengo sendo posto sobre a mesa,
certamente Zezé se sentiria à vontade.
A
PRIMEIRA SEDE – O 22

“E,
então, começaram as adesões, inclusive de aspirantes da Marinha. O
22 da Praia do Flamengo começou a acolher tanta gente que, no dia 17
de novembro, outro domingo, realizou-se ali a assembleia de fundação
do grupo. Não um clube, mas, modestamente, um Grupo: o Grupo de
Regatas do Flamengo, dedicado aos esportes náuticos.”

O
“casarão do Nestor” abrigava a República Paz e Amor, onde
estudantes, remadores e jovens ligados ao Flamengo aprontavam o diabo
nas redondezas (é célebre a história em que os jovens costumavam
subir em árvores para colher frutas, inteiramente nus, para o
desespero do Convento do Sagrado Coração de Jesus, situado ao
lado). Com o tempo e as vitórias, o Flamengo foi se expandindo, o
casarão foi comprado, reformado, ampliado e se tornou a primeira
sede de fato do, agora, Clube de Regatas, até ser desativado nas
décadas seguintes. No final dos anos 1970, inteiramente sem uso e
com o clube atravessando severa crise financeira, o terreno foi
vendido para a instalação de um empreendimento comercial.

OS JARDINS DO PALÁCIO
DO CATETE
“Ao mesmo tempo que o
clube conquistava seus primeiros títulos no remo (…), sua seção,
digamos, terrestre dedicava-se a esportes menos ortodoxos: carnaval,
trotes e alegres molecagens.”
“Amor havia de sobra
na república do Flamengo. Paz, nem tanto.”

Hoje o
Jardim do Catete ocupa área bem menor, mas ainda impressiona por sua
amplitude. Árvores, pássaros e até um laguinho compõem um
ambiente bucólico, silencioso e profundamente relaxante, onde idosos
e famílias com seus bebês desfrutam a placidez do local. Não é
difícil localizar o muro que separa a antiga sede do Flamengo do
jardim do palácio. Provavelmente nem se trate exatamente do mesmo
muro, mas não deixa de ser divertido imaginar a execução do plano
de caça aos faisões e perus concebido do outro lado.
O
PRIMEIRO CAMPO DE TREINOS – PRAIA DO RUSSEL


O
PRIMEIRO ESTÁDIO – RUA PAISSANDU

O futebol
do Flamengo nasceu sem estádio próprio. No seu primeiro ano,
desfrutou das instalações das Laranjeiras, gentilmente cedidas pelo
Fluminense, clube com quem mantinha ótimas relações.

A Rua
Paissandu chama a atenção por ser bastante estreita e pela presença
das mitológicas palmeiras imperiais que ainda a ladeiam. Trata-se de
uma rua residencial, com alguns condomínios de bom padrão, e um ou
outro casarão aqui e ali remetendo aos séculos passados. A rua
desemboca na Rua Pinheiro Machado (antiga Rua da Guanabara), e já na
esquina é possível vislumbrar o Palácio Guanabara, atual sede do
Governo do Estado do Rio de Janeiro, e os muros da sede do Fluminense
FC, além das arquibancadas do Estádio das Laranjeiras.
No exato
local onde se situava o estádio hoje se erigem vários prédios. O
silêncio e a tranquilidade são eloquentes. Há uma lenda que narra
ser ainda possível ouvir os gritos de jogadores e torcedores do
extinto estádio. Talvez. No entanto, mais que isso, não é possível
passar imune às entranhas da existência flamenga, expostas de
maneira tão suntuosa nesse percurso histórico. Após cerca de 45-50
minutos de caminhada com parada para fotos, sai-se, como se fosse
possível, inundado por uma paixão, uma sensação de abandono, uma
vertigem, uma friagem que revigora, reconforta e arrepia.
Sai-se
ainda mais Flamengo.