Saudações flamengas a
todos. Seguindo a série de textos comemorativos aos 120 anos de História do
Flamengo, hoje inicio uma sequência de três passagens envolvendo os mais
remotos primórdios de sua existência. A trilogia abordará a primeira premiação (assunto
de hoje), a primeira vitória e o primeiro troféu.
Boa leitura.
I – A PRIMEIRA
PREMIAÇÃO
1896, novembro, 15.

Não sem antes se
realizar a Grande Regata, programada para as 13 horas.
O programa é composto
de cinco páreos, divididos em categorias como escaleres, canoas e baleeiras. A
extensão do percurso de cada páreo também é variável, com trajetos entre 500 e
2000 metros. As principais associações praticantes do rowing são convidadas e
confirmam presença, como o Club de Regatas Botafogo, Club de Regatas
Sul-Americano, Grupo de Regatas Gragoatá e Club de Regatas Icarahy (os dois
últimos de Niterói).
E, naturalmente, o
Grupo de Regatas do Flamengo, que completa neste domingo exatamente um ano de
existência.

Sem perder a
irreverência.
Irreverência que é
refletida, por exemplo, no episódio do ácido. Acontece que o 22, casarão onde
morava Nestor de Barros, era alugado. E um de seus cômodos se constituía em um
galpão enorme, quase uma garagem. No entanto, apenas parte dela era utilizada
por Nestor (e, por extensão, pelo Flamengo). A área era insuficiente para
instalar os barcos que o grupo já começava a comprar. Era necessário alugar o
espaço contíguo, o galpão inteiro. No entanto, o proprietário relutava em se
desfazer dele, pois o utilizava para alugar leitos na alta temporada. Após
longa e árdua negociação, o Flamengo conseguiu um acordo. Teria o espaço, desde
que desalojasse o único morador que ali residia de forma fixa, o Seu Machado. E
toca conversa dali, lábia daqui, e nada do Seu Machado querer desocupar o
quartinho. Até que Nestor tem uma idéia: arrumam uma espécie de broca manual,
fazem na parede do inquilino um pequeno furo e nele instilam uma seringa com
ácido sulfídrico, empesteando o quarto a ovo podre. O furo é tapado e então é
só esperar Seu Machado chegar do trabalho. Nestor chega ao requinte de colocar
um banco na área externa. Seu Machado chega, cumprimenta o vizinho, entra.
Instantes depois, sai esbravejando, “não fico aqui nem mais um segundo, isso está
que é ovo podre!”, e Nestor, ar sério, “que tragédia, Seu Machado, que
tragédia, como se deu isso?”, e assim o Flamengo consegue seu galpão. Já pode
guardar seus barcos.
Paquetá. O sol radioso
e escaldante ajuda a envernizar um ofuscante tom de azul num céu que parece ter
sido pintado. O Flamengo compete no primeiro páreo, para canoas a 4 remos, 1000
metros. Alinha seu barco Cecy, recentemente objeto de forte preparação e
reforma, agora triscando e faiscando de nova. Seus adversários serão Diva (CR
Botafogo), Izara (GR Gragoatá) e Hirondelle (CR Sul-Americano).


Coisa de uma semana,
dez dias depois, o Flamengo fará sua Assembléia de final de ano, para definir a
diretoria que responderá pelo grupo no vindouro e promissor 1897. Nela, além
dessa grave e importante decisão, outra medida será posta em votação e
aprovada. Uma modificação no nascente Estatuto rezará que, dali em diante, o
Flamengo passa a abolir as cores dourado e azul, passando a ostentar apenas as
cores vermelha e preta. Torna-se, portanto, após apenas um ano, rubro-negro, de
forma definitiva.
Segundo Nestor de
Barros, essas cores são mais fortes, mais agressivas e chamarão vitórias.
Vitórias essas que ainda demorarão um tantinho mais.
Mas chegarão. Aos borbotões.