terça-feira, 17 de novembro de 2015

Ação no Futebol: Processos, Excelência em Performance


 Para tentar elucidar algumas questões que poderiam ser importantes para o futuro do nosso futebol, tenho conversado constantemente com meu amigo e colunista licenciado do Buteco do Flamengo, Guilherme de Baére, pessoa que construiu esse texto comigo. Texto a quatro mãos. Nem preciso dizer que o futebol é o aspecto principal da vida do rubro-negro e sempre acaba dominando a maior parte das conversas. E o assunto futebol foi maximizado neste final de ano, ano eleitoral diga-se, por três aspectos interdependentes:
  • O desempenho do time neste ano e nos últimos três anos (em particular, o desempenho no returno com seis vitórias consecutivas com sequência direta de sete derrotas em oito jogos);
  • A questão eleitoral, envolvendo a cisão entre os VPs que ficaram e os que migraram para a chapa verde, a própria campanha em si, o comportamento dos dois lados e os movimentos no jogo político rubro-negro;
  • A escolha de Alexandre Póvoa, que preferiu se manter neutro como VP de Esportes Olímpicos, transformando a pasta num “não-assunto” pela neutralidade e jogando peso maior sobre as discussões do futebol, naturalmente mais pesado. Se ele tivesse escolhido um lado qualquer, o debate seria apresentado também em sua pasta. A isenção acabou sendo ruim para os próprios esportes olímpicos e para os projetos associados, como vemos principalmente com a questão do novo ginásio olímpico.

Por todos os fatores elencados acima e outros mais que sempre surgem (com menor peso ou não) o futebol demanda maior atenção de todos, nestas semanas pré-eleitorais. Independente do resultado do pleito, fato é que precisamos de ações diretas no futebol do Flamengo. Algumas delas estão sendo executadas, e outras com o tempo e o trabalho serão realizadas para que finalmente tenhamos um futebol vencedor no Mais Querido.

Um dos pontos que discutimos quase sempre, inclusive com outros Butequeiros Rubro-Negros é a questão: “Precisamos de estrutura de trabalho e profissionais capazes ou de um grande nome para conduzir o futebol do Flamengo?” Nossa resposta é que precisaremos sim de funcionários-chave para que a execução seja feita da melhor forma possível, mas seu trabalho só vai dar resultado se dispuserem de processos eficazes de ação e avaliação para que caminhos ruins sejam consertados e o aperfeiçoamento seja constante. Ou seja, entre pessoas e processos, escolhemos os processos e por um motivo muito simples. O Flamengo é grande demais para depender de apenas uma pessoa, seja ela quem for.

Um exemplo que pensamos para esse tipo de ferramenta foi o de tentar aplicá-lo imediatamente no campo mais difícil de todos, que é a avaliação do time e do jogo de futebol. Ora, nenhum gerente, em nenhum ramo, precisa obrigatoriamente entender as minúcias da operação de um setor para fazê-lo render bem. Como gerente, ele precisa de ferramentas que lhe permitam avaliar se a operação está sendo realizada de maneira satisfatória e, caso contrário, encontrar os erros e buscar formas de corrigi-los. E aqui entram os processos. Serão eles que permitirão ao responsável por gerenciar o departamento de futebol do Flamengo discutir em termos objetivos com os habitantes do mundo da bola, sem cair no velho chavão de que “esse cara não entende nada de futebol”. A ideia que apresentamos aqui consiste simplesmente em mudar radicalmente a maneira de estabelecer metas para o futebol e analisar os resultados e o desempenho do time.

1. Cenário Atual
O modo tradicional consiste em estabelecer de um lado as fases que se deseja alcançar nas copas e torneios eliminatórios (mata-mata) e de outro a faixa de classificação no campeonato de pontos corridos. Este método apresenta dois problemas evidentes, sendo o primeiro a necessidade de se aguardar o final dos torneios (ou uma eliminação precoce nas copas) para se ter a real noção da performance da equipe. O segundo é o risco de o desempenho ser mascarado por uma arrancada pontual que dê a impressão de que as coisas começaram a evoluir no final do ano. Assim, a proposta seria elencar estatísticas que pudessem ser avaliadas AO LONGO da temporada evidenciando desvios e permitindo correções de rota ANTES que o time atinja situações críticas.

As maiores dificuldades do uso de estatísticas para avaliar futebol normalmente se encontram na seleção dos aspectos a serem analisados e na escolha adequada de padrões de comparação. As críticas a esse tipo de abordagem do jogo se apoiam na dinâmica do esporte e da forte influência do acaso nos resultados da partida. Hoje, graças a estabilização do campeonato brasileiro em forma de disputa e número de equipes, já é possível estabelecer alguns parâmetros que permitem balizar o desempenho das equipes. Um bom exemplo é a marca dos 44 pontos para evitar o rebaixamento. Ainda que hajam exceções, elas não são muitas. Exemplo:
  • Ao longo dos últimos 10 anos, apenas 3 equipes fugiram a essa regra: Em 2010, o Atlético-GO com 42 pontos e Avaí com 43, em 2011, o Cruzeiro, com 43 pontos e em 2014 o Palmeiras com 40 pontos e a Chapecoense com 43.
Assim, quando olhamos o histórico do campeonato é possível afirmar que as equipes que não conseguem atingir essa pontuação, provavelmente estarão nas 4 últimas posições.

Avançando no raciocínio, a marca dos 44 pontos corresponde a um aproveitamento de 38,6% dos pontos, o que já é um índice que permite a torcedores e dirigentes avaliarem os desempenhos das equipes. Mas olhar apenas o aproveitamento não basta, uma vez que ele mesmo, por ser baseado apenas nos resultados dos jogos, pode ser mascarado por diversos fatores ao acaso: Sequência de jogos contra equipes fortes ou fracas, lesões de jogadores importantes, erros de arbitragens, jogar em casa ou fora, acúmulo de competições, etc. Todos podem distorcer o índice de aproveitamento do time.

Finalmente, o aproveitamento sozinho, não consegue indicar se o time está em evolução ou declínio. Para saber isso, precisamos olhar para números que indiquem a eficiência do time nos dois objetivos básicos do jogo: marcar gols e não sofrer gols. Com o campeonato de pontos corridos estabilizado, já é possível identificar estatísticas comuns aos times que performaram bem ao longo dos anos. Assim, podemos traçar parâmetros de produção do time tanto ofensivos quanto defensivos para comparar e avaliar o desempenho de uma equipe desde as primeiras rodadas da competição.

2. Sistema ofensivo
A produção ofensiva de um time se traduz em uma palavra: Gol. É o parâmetro chave, o objetivo do jogo, mas ao contrário de outros esportes, o gol do futebol é um evento raro. Por esse motivo, não parece razoável utilizar o número de gols marcados como um bom critério de avaliação. Por outro lado, os times que produzem mais finalizações vêm sendo ao longo dos anos, também os times com melhores ataques da competição. E se ter os melhores ataques não significa necessariamente estar no topo da tabela, os números comprovam que os times com maior percentual de acerto de finalizações costumam ser os que tem melhor desempenho no campeonato.

3. Sistema defensivo
As melhores defesas são, em última instância, as que sofrem menos gols. Isso decorre de variados fatores desde o posicionamento até a falta de qualidade dos adversários. Os números comprovam no entanto, que as melhores defesas costumam ser as que permitem menos conclusões ao adversário. Em tese, poderíamos afirmar que uma atuação defensiva perfeita seria aquela em que nenhum arremate contra o gol foi cedido ao adversário.

Outros bons indicadores do desempenho da defesa são o número de rebatidas, a quantidade de faltas cometidas próximas a área e o de contra-ataques permitidos. Evidentemente, um time que rebate muito a bola tende a devolvê-la ao adversário ao invés de reter a posse. Isso costuma ocorrer por deficiência técnica dos jogadores ou por falta de opções para dominar e executar uma saída de bola limpa. Da mesma maneira fazer faltas no último terço do campo além de indicar um posicionamento errado da defesa permite ao adversário alçar bolas na área que podem terminar em finalizações concedidas. Por último, os contra-ataques permitidos apontam falhas na coordenação ofensiva (de onde surgem os contra-ataques) ou posicionamento errado do meio de campo que deveria bloquear essas jogadas logo no início.

4. Conclusão
A conclusão deste raciocínio é que seria possível para qualquer equipe medir e acompanhar o desempenho do time ao longo do campeonato através de parâmetros que indiquem a produtividade dos setores ofensivo e defensivo do time. Com isto em mente, deve ser feito um estudo tomando por base as médias dos últimos 3 campeonatos brasileiros (2013, 2014 e 2015) e encontrados os parâmetros médios de desempenho das 5 melhores equipes em cada parâmetro sugerido no texto, tanto para defesa quanto para o ataque:
  • DEFESA: Conclusões concedidas; Rebatidas; Faltas no último terço do campo; Contra-Ataques cedidos; Frequência (% de arremates contra o gol) de falhas por posicionamento;
  • ATAQUE: Número de Conclusões; percentual de acerto das conclusões; Número de jogadas por quadrante ofensivo; Troca de passes e arremates; efetividade por posicionamento; Frequência (% de arremates errados/bloqueados) de falhas por posicionamento;
  • COLETIVO: Percentual de posse de bola; percentual de posse nos três terços do campo; Quilometragem percorrida média;
  • INDIVIDUAIS: Percentuais físicos e atléticos; Condicionamento e posicionamento corporal e técnico por posição, ou seja, pelo atleta na função determinada.

Esses números seriam os parâmetros sugeridos para avaliar a evolução e o comportamento do time ao longo do campeonato. O treinador teria como meta fazer com que o time alcançasse tais parâmetros desde o início do ano sendo avaliado em 4 momentos ao longo da temporada. Uma ao final dos torneios de pré-temporada, regionais e estaduais, uma segunda após a 10ª rodada do campeonato brasileiro novamente na virada do turno e uma quarta vez na 30ª rodada. A 5ª e última avaliação seria um balanço geral da temporada, quando treinador e elenco receberiam ou não bonificações e premiações pelo trabalho realizado.

Outro aspecto importante desta proposta é que ela permite aos dirigentes amadores encontrar parâmetros palpáveis para discutir o trabalho do treinador. Sem interferir diretamente nas opções do técnico, é possível questionar de um time que esteja abaixo dos parâmetros desejados se o esquema de jogo adotado é o mais adequado ou se é necessário executar treinamentos mais focados em determinados fundamentos, por exemplo. Desta forma, tanto os dirigentes quanto o treinador teriam prazos e metas, com indicadores conhecidos e que permitam indicar erros na montagem do elenco ou escolha do comandante a tempo de se fazer um ajuste pontual ou uma correção de rota mais drástica.

Basicamente esperamos estas práticas e vou além, que as mesmas sejam aprofundadas e aprimoradas pelo Flamengo. Sinceramente, não sabemos se existe algo próximo disso, se existir, algo na avaliação ou na competência dos profissionais está equivocada. O que sei disso, que é público, porque o presidente vem falando é que ocorrerão mudanças no departamento. Para nós, isso é urgente! O futebol apresentado pelo Flamengo é ridículo! A ponto de um dos jogadores do Orlando City, O-R-L-A-N-D-O-C-I-T-Y, esfregar o atraso do nosso time na nossa cara, durante a entrevista no intervalo do amistoso de domingo: “O Flamengo joga com linhas espaçadas, mas tem um ataque veloz e perigoso”.

O que se sabe, é que para reduzir este “abismo” pretende-se construir o CT profissional até Outubro de 2016 (a obra civil foi concluída, a pavimentação termina em 2015 e maquinário e acabamento em Outubro de 2016); terminar o CT da Base até 2018 e a obra se inicia em 2016. No momento o clube contratou uma consultoria para investigar os problemas, a EXOS, que trabalha com a seleção da Alemanha, dos EUA, com o UFC, com clubes da NBA e NFL. Uma futura parceria pretende reformular todo o departamento de futebol, trazendo o clube para o século XXI.

Esperamos resultados baseados em processos e trabalho bem feito por profissionais de ponta, além da contratação de funcionários, treinamento dos que estão lá, ordenação do departamento, cobrança de resultados, metas objetivas, avaliação de desempenho, criação de processos objetivos para todo o departamento, construção de um Centro de preparação e recuperação, compra ou parceria para maquinário de alta tecnologia, recuperação e alimentação, excelência do Centro de inteligência de mercado. Excelência! Que demanda tempo e dinheiro.

Muitos destes aspectos já entraram em funcionamento ou foram postos em prática, só que não conseguimos enxergar no campo e é isso que o Flamengo precisa, fazer o campo mostrar o que a gente não enxerga, com resultados: vitórias e títulos! Gostaria que o clube buscasse nos rivais do país profissionais que ajudem neste processo de transição, e que formemos também a funcionários e atletas. Precisamos, e vamos sempre repetir, buscar pelos melhores atletas e profissionais treinados e especializados para minimizar riscos, danos. Precisamos trabalhar demais para que o Flamengo volte a ser gigantesco em campo. Aproveito para gradecer enormemente a tabelinha com o Guilherme de Baere! Obrigadaço!


P.S.: O vídeo sobre o trabalho da EXOS, empresa que vai ajudar a melhorar o desempenho do Flamengo no campo, demonstra que a reestruturação do departamento de futebol será completa. Esta é uma parceria que o clube buscou, contratada como consultoria em julho e efetiva a partir de 2016. Tudo leva a crer que teremos uma reformulação completa do departamento de futebol do Flamengo.