Não posso, não devo e nem quero
ser referência para ninguém, contudo busco informações que me
façam compreender a algumas das coisas quais enxergo à “olho nu”.
Talvez me considere um grande interessado em Flamengo, em diversos
assuntos, de sua política, estrutura organizacional, dos esportes
disputados, serviços distribuídos, etc., não apenas no futebol. Um
curioso. Mesmo curioso, não consigo enxergar as entranhas do
futebol, e as pessoas que dirigem, neste mandato ou em mandatos dos
últimos 25 anos ao menos, também não conseguem. Tavez por ter
menos de 2 anos de associado, ou por ser obscuro mesmo. Não sei se
por sorte, providência divina, não consegui assistir à peleja de
domingo, onde me relataram que o Flamengo fez apenas uma finalização
decente em 90 minutos e o técnico da equipe se disse satisfeito com
o desempenho, quando o adversário “treinou” vencendo por 1x0.
Como mudar?
Para a mudança de paradigma é
preciso o investimento. Em profissionais de melhor qualidade, para
funções-chave, os melhores profissionais do país, muito
treinamento e controle das ações da pasta. Talvez seja preciso
mudanças em postos-chave e a busca pelos melhores profissionais do
mercado brasileiro não é simples, e deve ser executada a qualquer
custo, mesmo que seja para mexer com os brios de quem esteja lá. Não
se trata de instabilizar o departamento, apenas deixá-lo eficaz,
competitivo, eficiente.
Como o título da coluna diz, e
“o futuro do futebol”? O que pensam as chapas? Como os programas
de governo são o documento que referendam estatutariamente os planos
das campanhas, as diretrizes das chapas. Li as ideias da Chapas
Azul e da Chapa Verde, tentei ler a da Chapa
Branca, mas disconsiderei o último, tamanha pobreza do que
se espera para o Flamengo. Tentarei me ater à parte do Futebol dos
Planos de Governo (PDG).
O PDG da Chapa Verde é meio decepcionante. Tudo
bastante genérico.
De uma forma geral ele é
pautado em pessoas, não em
ideias. Para o futebol
prometem:
-
Conclusão do CT com investimentos de R$ 30MM, está junto com os planos do futebol, assim como a construção de um estádio na Gávea para 25 mil pessoas.
-
Investimento de R$ 60MM no triênio, para a base. R$ 20MM por ano, que seria comandada por um ex-jogador do clube.
-
Contratação de um “gerente de campo”, o supervisor que eu cito acima.
-
Posicionamentos institucionais relacionados ao futebol também estão nos planos do futebol.
As questões objetivas, mesmo que
poucas me agradam: a contratação do supervisor e aviso de quanto
será gasto na base. Excelente! Isso é o que eu desejo em um plano
de governo. O que fazer e como fazer. Repito, muito pobre este plano
relacionado ao futebol. Meio decepcionante. Pautado em pessoas, não
em ideias.
O
Plano de governo da
Chapa Azul tem
51 páginas, sete delas voltadas para o futebol. O PDG promete
realizar reformas
estruturais em quatro eixos do departamento: Gestão; Avaliação de
Desempenho e Inteligência de Mercado; Capacitação; e Categorias de
base. O plano diz que
“são
diretrizes para nos conduzir a um nível de excelência nas Américas,
coincidindo com a previsão de um orçamento superior para o futebol
em 2016-2018. Um salto que nos alçará à condição de competidor
de alto desempenho em todos
os campeonatos que disputarmos nos próximos anos”.
Prometem:
-
Com a i) conclusão do nosso Centro de Treinamento; ii) mais recursos financeiros disponíveis para o departamento de futebol (qualificação do elenco, inclusive); e iii) reformas em quatro eixos fundamentais (Gestão; Avaliação de Desempenho e Inteligência de Mercado; Capacitação; e Categorias de Base), atingiremos um outro patamar de governança, investimento e rendimento esportivo no próximo triênio.
-
Implantação do Plano Diretor do Futebol, com estrutura de governança, redefinição do organograma dos profissionais do Departamento de Futebol e desenho de funções, adaptados a partir das principais experiências de sucesso;
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Será elaborado um Regimento Interno para o Departamento de Futebol com documentação do job description e definição das competências e limites de atuação dos principais participantes - inclusive a respeito da escolha de profissionais e dos valores de contratações de atletas, salários e luvas;
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O modelo de gestão do Futebol terá liderança visível e assídua, com possibilidade de uso de consultores externos com comprovada expertise no futebol e/ou carreira esportiva no clube;
-
A condução esportiva/técnica do departamento terá especial ênfase, para que as categorias de base e o futebol profissional tenham uma diretriz e filosofia únicas. Serão estabelecidas metas de rendimento para a Comissão Técnica, com comparação entre os resultados de campo e o método empregado nos treinamentos;
-
Buscaremos importar conhecimento e promover o intercâmbio com os grandes clubes europeus para implantar as melhores práticas e processos para o nosso Departamento de Futebol, se possível com intermédio da Adidas, nossa patrocinadora de material esportivo;
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A política de remuneração dos profissionais do Futebol será atrelada a resultados, principalmente coletivos. O modelo levará em conta o orçamento do clube e será apresentado ao elenco no início de cada temporada e suficientemente exposto aos novos atletas contratados;
-
Serão aprimoradas as normas de conduta e de comunicação aplicáveis aos atletas e integrantes do departamento;
-
Haverá maior integração do Departamento de Futebol com outras áreas do clube como Marketing, Comunicação, Financeiro, Patrimônio, Jurídico e Recursos Humanos;
-
As realizações e decisões estratégicas da gestão do Futebol serão comunicadas mais frequentemente aos associados:
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Manutenção e aperfeiçoamento dos projetos estruturantes do Futebol do Flamengo, como o Centro de Excelência em Performance, o Centro de Inteligência de Mercado, criados em 2015, e o desenvolvimento da abordagem psicológica e de coaching;
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Investimento em tecnologia, com aquisição de equipamentos e softwares;
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Criação de processos de avaliação de todos os funcionários do Departamento de Futebol com estabelecimento de prazos e feedbacks sobre cumprimento das metas;
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Criação de base de dados suprida com relatórios de avaliação periódica de cada atleta do clube e observações contendo dados como informações técnicas, físicas e psicológicas.
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Toda contratação de atleta profissional será avalizada por relatório em que conste a avaliação técnica sobre o rendimento atual do profissional, seu histórico e produtividade; e analise física e psicológica. O relatório será assinado por cada profissional que avaliou o atleta;
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Aumento e qualificação da rede de “olheiros”, inclusive no mercado sul-americano.
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Criação de Programa de Formação de Talentos focado no suporte à gestão executiva e técnica do Departamento de Futebol;
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Incentivar, monitorar e exigir a qualificação e desenvolvimento permanente dos profissionais do departamento, tanto das divisões de base, quanto do Futebol profissional, através de graduações, cursos de especialização, workshops, palestras e afins;
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Estabelecimento de planos de apoio à educação dos jovens atletas e um programa paralelo para que conheçam a história rubro-negra e seus personagens, com amparo de projetos incentivados.
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Manutenção do Certificado de Clube Formador, emitido pela CBF em 25 de maio de 2015;
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Formação de plano de atração e retenção de talentos, através do fornecimento de transporte e auxílio-refeição/moradia para os atletas da base, especialmente das categorias sub-13, sub-15 e Sub-17 (com amparo de projetos incentivados);
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Desenvolvimento de processos de captação, “peneiras” e parcerias para atrair os jovens mais promissores;
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Implantação dos métodos de avaliação de desempenho e excelência em performance às categorias de base;
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Implantação de uma filosofia única de jogo do Flamengo, para melhor preparação e adaptação do atleta de base à equipe profissional. Todas as equipes de base praticarão o esporte da mesma forma, privilegiando a posse de bola, o ataque e a raça rubro-negra, exigências da nossa torcida;
-
Integração das categorias de base de futebol de campo com o futsal;
-
Estabelecimento de metas específicas para os profissionais da base do Futebol, levando em consideração a quantidade de atletas convocados para as seleções brasileiras de base, aproveitamento nas categorias imediatamente superiores, arrecadação com venda de atletas e títulos conquistados no ano;
-
Estabelecimento de meta para que, em médio/longo prazo, pelo menos 50% da nossa equipe profissional seja composta por atletas oriundos das divisões de base do Flamengo;
- Este plano tem uma meta: vencer uma Libertadores até 2018.
Os tópicos acima estão na
íntegra, foram retirados do plano de governo (existem discrições
entre estes tópicos; preferi trazer apenas os tópicos para reduzir
e ser mais objetivo). Particularmente, gostaria de ouvir mais sobre o
setor de RH, não apenas para o futebol, para os planos do clube,
incusive sobre as job discriptions.
Para mim, os
atletas devem saber sobre a história da “empresa”, do clube,
como acontece normalmente em grandes empresas. Deveria ser
obrigatória uma aula de introdução, como se fosse uma preparação
e conscientização da “utilização de EPI”.
É
preciso dotar o clube de profissionais que melhorem seu desempenho em
campo, facilitando sua vida fora do campo. Uma espécie de secretaria
temporária que cuide dos atletas recém-chegados. Escola para
filhos, aula de línguas para estrangeiros e família, assistência
para quem vem de fora do estado, também. Extensível a base, que
por sua vez, deveria utilizar
o futsal na formação dos atletas do futebol. Instituir a modalidade
como setor indissolúvel da Vice-Presidência de Futebol, aplicada
diretamente nas categorias de base. Há uma brecha na lei Pelé que o
Flamengo pode utilizar. Não podemos formar atletas para o futebol de
campo, menores de 14 anos, mas podemos “guardá-los” enquanto
atletas do Futsal e buscar talentos desde cedo, com estrutura,
lógico.
Precisamos de estruturas e
processos. Pra isso, tem que vir gente de fora pra criar o que se
deseja. Ficar imaginando a alma Flamengo desde a década de 80,
parece utópico em minha visão. Temos que formar algo novo, um
modelo Flamengo, para o Século XXI. Trazendo profissionais de
sucesso e experimentados e formar em casa. Devemos buscar parceria ou
comprar “grandes sistemas integrados de informação”, como o SAP
usado pelo Grêmio, por exemplo. Adotaria critérios objetivos de
avaliação e desempenho das equipes e dos atletas do clube, baseados
em eficiência. Caso já existam, explicar como funcionam.
Particularmente, sou contrário à “filosofia única”. O que é
isso? Como se forma? O clube pode dar diretrizes de formação, mas é
impossível jogar como os profissionais. A não ser que o treinador
venha e fique os três anos da gestão, faça chuva ou faça sol.
Não
sou daqueles que torce mais para a chapa do que para o clube, porém
acredito no que vejo, no que vi dentro do clube no último ano, onde
pude ajudar a fazer um Flamengo melhor, acredito nos meus pares. O que mais me chateia são os ataques à pessoas que suam a camisa para ajudar ao clube, ataques de pessoas que não fazem ideia do que está dizendo ou do que se faz. O
importante é o Flamengo, ajudar o clube de forma voluntária para
mim e para muitos é um orgulho, um prazer e vejo em cada um daqueles que se
dispõem a melhorar o clube como um todo. Tento fazer um
comparativo baseado no lançamento dos planos de governo. Os PDGs vão
resolver os problemas do futebol do Flamengo? Não sei, mas apontam
um caminho. Recomendo que todos leiam. Aos
planos das
três chapas. Que os sócios escolham o melhor caminho, assim como os gestores saibam conduzir o Flamengo para o lugar que esperamos!