segunda-feira, 19 de outubro de 2015

CRF - Clube de Recuperação Financeira

Salve, Buteco! O nosso querido amigo Luiz Filho, em um comentário posterior à derrota para o Figueirense no meio da semana, escreveu que "essa derrota foi a cara do Flamengo nos últimos 20 anos". E não é que é verdade? Toquinhos improdutivos para os lados e um adversário da Região Sul do país correndo dobrado em campo, ganhando todas as divididas, contra-atacando em velocidade e frequentemente chegando à nossa área com perigo. Andei refletindo e eu acho que foi o Departamento de Futebol profissional do Flamengo que pouco mudou nesse triênio. Na verdade, mudou em aspectos latentes, que constituíam defeitos visíveis que de fato foram corrigidos, como por exemplo o pagamento de salários em dia e o afastamento de jogadores com conduts inadequadas que expunham a imagem do clube fora de campo. Inegável o avanço, mas não foram pouc@s que cometeram o erro de achar que já era o bastante para representar uma profunda e efetiva reestruturação no setor, a ponto de produzir os efeitos desejados pela torcida dentro das quatro linhas.

A entrevista de Eduardo Bandeira de Mello a Carlos Eduardo Mansur e Eduardo Zobaran em "O Globo", edição de sexta-feira, mostra como a Diretoria que se auto-proclama revolucionária em âmbito administrativo ainda pensa atrasado em gestão futebolística. Algumas pérolas: "Um dos erros que a gente reconhece foi que  na primeira metade do primeiro mandato nós tratamos o futebol de forma muito empírica, no 'Vamo lá, moçada'. Isso foi corrigido e aplicamos métodos científicos", o que teria acontecido, segundo o presidente, a partir do início de 2015. Outra: "(...) quando eu falo de métodos científicos, falo de investimento na base, inteligência em mercado e excelência em performance. O que não significa não possa substituir treinadores, que é uma característica do futebol brasileiro." E tem mais (ainda a respeito de troca de treinadores): "Isso é causa ou é consequência? Não trocou os treinadores porque foi campeão ou foi campeão porque não trocou os treinadores? Vários clubes não trocaram e foram rebaixados. Vários trocaram e foram campeões. Acho que isso é algo que temos que evoluir: nós, imprensa, até chegar em um modelo mais estável. (...) Você tem um treinador que você pode achar que está fazendo um bom trabalho, mas ele perde três partidas seguidas, vários colegas de vocês mandam whatsapp perguntando se vai substituir. Isso começa a refletir. Acontece no futebol brasileiro e não é só no Flamengo."

O ponto de vista do presidente Eduardo Bandeira de Mello a respeito da longevidade de treinadores em uma equipe de futebol profissional é diametralmente oposto, em níveis de qualidade, modernidade e profissionalismo, ao excelente trabalho que lidera na reestruturação administrativa e financeira no Flamengo. É curioso notar, nesse ponto, que o nosso presidente inclusive fugiu do mais importante tópico dentro do tema: os critérios que utilizou para selecionar os profissionais que contratou. E tudo isso explica muito do que tem ocorrido com o Flamengo nos resultados do futebol profissional nesse triênio, além de demonstrar cabalmente que o Flamengo de hoje, no setor, não é tão diferente assim do Flamengo dos últimos vinte, vinte e cinco anos.

Não sou amigo de Oswaldo de Oliveira, mas a partir dessa entrevista, e considerando o que ocorreu com Cristóvão Borges, eu lhe daria um conselho: contrate um hacker para dar uma "filtrada" no WhatsApp do presidente Eduardo Bandeira de Mello. Pelos critérios do presidente, sua chapa está esquentando...

Quantos treinadores o Flamengo terá até o final do triênio?

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A entrevista também contém contradições facilmente detectáveis, pois o próprio EBM chama Vanderlei Luxemburgo de centralizador ao mesmo tempo em que fala a respeito de critérios científicos, os quais, se foram mesmo aplicados desde o final de 2014, devem inevitavelmente ser chamados de imprecisos, senão falhos, na medida em que selecionaram para o Flamengo atletas do nível de Thallyson, Arthur Maia, Almir e Anderson Pico. E se Luxemburgo é centralizador, podemos concluir que essa Diretoria cometeu o mesmo erro de Patrícia Amorim ao "terceirizar" o Departamento de Futebol ao "centralizador" Vanderlei Luxemburgo"?

De qualquer modo, e sendo condescendentes, se considerarmos que o presidente quis dizer que os critérios científicos passaram a ser aplicados após a saída de Luxemburgo, quando foram contratados jogadores como Guerrero, Ederson e Alan Patrick, podemos até reconhecer que ainda vivenciamos o início de sua implementação, sem prejuízo de constatarmos desde logo que não foi possível solucionar um antigo e sério problema, perceptível a olhos vistos: a falta de vibração e comprometimento do time, que simplesmente fracassou em todas as oportunidades nas quais entrou em campo para disputar partidas oficiais com contexto minimamente decisivo ou de grande pressão no ano de 2015.

Sou da opinião que o problema começa pela distância, indiferença e até certo ponto soberba de uma Diretoria que gere o clube administrativa e financeiramente de forma exemplar, porém o futebol de maneira atrasada e amadora em alguns aspectos, e absurdamente incompetente no contexto geral, a ponto dos atletas, a quem não estou eximindo de responsabilidade, sentirem-se desmotivados e isentos de responsabilidade ou de cobrança por resultados, inobstante seus direitos trabalhistas e de imagem pagos pontualmente.

Se pararmos para refletir sobre esse ponto de forma um pouco mais detida, chega a ser contraditório que esteja ocorrendo no Flamengo de hoje, especialmente com essa Diretoria. No setor privado, no mundo executivo e empresarial de grandes negócios e mais altos níveis de produção e competitividade, os funcionários não são pressionados, cobrados, acompanhados de perto, estimulados de todas as formas possíveis? É assim que os Diretores do Flamengo administram suas próprias empresas? Provavelmente não!

Por outro lado, é difícil imaginar um setor como o Departamento de Futebol estabilizado e rendendo frutos a médio e longo prazos se a média de longevidade dos treinadores é quadrimestral, se normalmente o treinador não trabalha com o elenco que ajudou a montar e se a metodologia de trabalho tático, técnico e físico muda a cada quadrimestre. Os resultados, colhidos a partir de um método "empírico" de trabalho, pautam as mudanças, quando deveriam ser obtidos como decorrência da execução de uma filosofia e de um plano de trabalho de longo prazo para o setor. Nada diferente do que ocorreu nas últimas duas, três décadas, portanto.

Por isso mesmo, os resultados não deveriam surpreender, assim como a falta de compromisso ou mesmo compreensão dos jogadores em relação a uma filosofia de trabalho que sabem que mudará em poucos meses, em geral no máximo quatro, ou será que alguém acha que os jogadores de futebol não percebem que os dirigentes trabalham de forma "empírica"?

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Oswaldo varia pouco em nível tático e, como Cristóvão, seu antecessor, insiste com um sistema que expõe uma das defesas mais vazadas do campeonato em contextos absolutamente desfavoráveis. Dito isso, ontem, contra um Internacional que tem um dos ataques menos positivos do campeonato, e que pouco atacou e contra-atacou, ao menos na minha opinião, não errou no esquema tático. Se houve algumas falhas de posicionamento, como no gol do Internacional (Pará, especialmente), não se pode chegar ao ponto de dizer que o erro tenha decorrido do próprio esquema e nem que o time esteve desarrumado dentro de campo.

Oswaldo (que eu não considero treinador ideal para o Flamengo) tampouco teve culpa pela partida que Everton fez e nem muito menos do lixo de apresentação que Paulinho teve ao substitui-lo, apenas para ficar em dois exemplos de apatia e desleixo. Apesar disso, na minha opinião, o Flamengo não jogou mal. Não que tenha jogado com a sintonia de uma orquestra sinfônica, mas convenhamos, teve mais volume de jogo e criou mais chances, algumas delas claras, todas desperdiçadas pura e simplesmente por erros de finalização. Não consigo qualificar como má apresentação uma derrota que ocorreu porque os jogadores, por imperícia e provavelmente falta de foco e estabilidade emocional, desperdiçaram várias chances de gol.

O problema, com esse time, é que, quando depende daquele algo mais, da dose a mais de transpiração e inspiração, nada acontece. Não vibra com a torcida, os jogadores não se emocionam, não se comovem, não jogam com alegria e não têm motivação para vestir o Manto Sagrado e levar o Flamengo ao lugar em que deveria estar: entre os primeiros, disputando os principais títulos. É também um time que sucumbe ao menor nível de pressão.

Não eximo qualquer desses atletas de responsabilidade, mas sigo pensando que o exemplo teria que começar vindo de cima e não vem sendo dado há bastante tempo. E quando o problema persiste ao longo de várias Diretorias e temporadas, com diferentes gerações de jogadores, é evidente que sua origem está no clube e não nos atletas.

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Estamos em período de campanha eleitoral pela presidência do Flamengo. Antes que algum incauto que não acompanha este blog me acuse de proselitismo eleitoral, recomendo a leitura da importante revelação de Eduardo Bandeira de Mello, na mesma entrevista, a respeito de como Wallim Vasconcellos conduziu a negociação de Elias com o Sporting Lisboa em 2013/2014. Ele mesmo, Wallim Vasconcellos, que em um ano e meio de clube teve nada menos do que cinco treinadores, contando Ney Franco.

Penso que as duas chapas, azul e verde, têm em comum a ideologia e o desejo de mais poder na estrutura político-administrativa do Flamengo, como também muitos dos defeitos. Estamos presenciando uma disputa por ocupação de espaços, com pouquíssimo debate em torno de ideias.

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Há um padrão negativo no histórico do Flamengo fora de casa contra os ataques mais positivos nesse campeonato, como Palmeiras e Atlético/MG. Acho que, se Oswaldo escalar a defesa exposta no Itaquerão, devemos nos preparar para uma desagradável chuva de gols. A defesa já comprovou que não consegue suportar pressão dos ataques mais fortes. O risco, nas próximas rodadas, contra Corinthians e Santos é real e iminente.

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Concordam, discordam? Mandem as suas impressões e escalação para a partida contra o Corinthians.

Bom dia e SRN a tod@s.