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Eu
estava conversando com o Luiz Filho sobre a enorme frustração que
esse time do Flamengo nos causa semana sim, outra também, quando
expus a ele uma teoria que apareceu na minha cabeça. Ele me intimou
a colocar no papel e trazer aqui para discutir com os amigos do
Buteco, então ‘tamos aí.
Para
começar, me permitam apenas explicar algo rápido: sou tão Flamengo
quanto qualquer um aqui mas, por ter nascido em Minas e morar nos
EUA, acho que minha visão do Flamengo tende a ser um pouco diferente
da de quem está aí vendo o Cristo Redentor todos os dias, nem que
apenas na novela das 9. Minha análise é fruto, sim, da raiva de
perder para aquele time ridículo do Vasco repetidas vezes esse ano,
mas também vem da observação do comportamento da torcida do
Flamengo – é nóis! – frente a vitórias e derrotas. Essa nossa
bipolaridade que nos faz acreditar piamente em G4 no domingo e em
rebaixamento na quarta feira.
Pois
então.
Vendo
as críticas endereçadas ao EBM após o jogo contra o Vasco, eu
cheguei a conclusão que os ataques à administração Azul não se
dão por causa de um trabalho particularmente ruim.
Mas
pelo fato de não ser absurdamente bom.
Essa
diretoria não é pior, em termos de administração do futebol, que
a de nenhum de seus antecessores (recolham as pedras, eu explico isso
melhor aí embaixo).
Mas
a nossa paciencia acabou. Exigimos excelência. Perfeição.
Grandeza.
E
não vamos perdoar ninguém que nos ofereça menos que isso.
Agora,
peguem esses dois exemplos aqui embaixo, duas idéias que tentam
explicar os Estados Unidos.
Primeiro,
essa imagem aqui, a capa de um livro do Stephen Colbert:
Traduzindo
livremente, seria algo como “America
de Novo: Recuperando a grandeza que nós nunca tivemos”.
(Para
quem não conhece, o Colbert é um humorista americano que criou um
personagem engraçadíssimo, um apresentador de programas políticos
ultra-conservador. Algo bem comum aqui nos States).
O
segundo exemplo é de uma série de TV sensacional que, infelizmente,
só durou 3 temporadas: Newsroom.
Um
jornalista, em uma palestra em uma universidade, tem que responder a
pergunta: “O que faz da America o melhor país do mundo?”
A
resposta dele é das coisas mais sensacionais da história da
televisão. Assistam, vale a pena.
O
que esses dois exemplos têm em comum? Uma chamada à autocrítica,
uma reflexão sobre a imagem que se vende, na qual se acredita, sobre
a qual se trabalha e, do outro lado, a dura realidade.
É
aqui que voltamos ao Flamengo. Voltamos à enorme revolta de todo
mundo – minha, inclusive – depois da desclassificação frente ao
pior time do Vasco da história.
Voltamos
às críticas à diretoria do Flamengo por falhar tão
espetacularmente na sua missão de fazer do Flamengo um time
imbatível.
Voltamos
ao Flamengo no meio da tabela do Brasileiro.
Nossa
revolta é pelo fato do Flamengo não estar à altura de sua
grandeza. Pelo fato de os Azuis não conseguirem implementar uma
administração profissional no futebol do Flamengo. Pelo fato de não
sermos campeões de tudo.
E
é precisamente aqui que eu acho que nós nos iludimos. O Flamengo
não tem essa grandeza toda que nós imaginamos. O Flamengo nem é o
maior protagonista do futebol brasileiro.
O
Flamengo é um dos 12 times “grandes” do Brasil, mas se
desconsiderarmos o período maravilhoso da Era Zico, nunca foi O
grande time do Brasil, exceto por pequenos lampejos.
Dos
nossos 6 títulos brasileiros, 5 aconteceram dentro de um período de
12 anos com Zico e Júnior comandando a bagaça. E o último, após
um hiato de 17 anos, só aconteceu por causa de uma confluência
astrológica absurdamente improvável.
Tirando
o nosso título na Libertadores em 81, só passamos vergonha na
competição.
Quanto
tempo faz que não entramos nem no G4 do Brasileiro?
Quando
foi que tivemos uma administração profissional, séria, dedicada?
Quando
foi que o futebol do Flamengo foi melhor do que é hoje?
Essa
é a minha teoria. Somos um dos “grandes” do Brasil, mas apenas
um dos grandes.
Médio,
na verdade. Mediocre. Meio de tabela, como o provam os últimos 25
anos.
O
que temos de realmente excepcional é o tamanho da torcida.
Sim,
eu sei. Não é nada agradável ler isso. Mas os fatos estão aí, se
esfregando nas nossas caras o tempo todo.
Só
que, da mesma maneira que fica implícito no vídeo do Newsroom aí
em cima, os mesmos fatos que gritam que nós não somos os melhores
do mundo (não mais, não ainda) também nos mostram que temos tudo
para ser.
Só
dependemos de nós mesmos.
*Medíocre:
adj.
Que está entre o grande e o pequeno, entre o bom e o mau: obra
medíocre.
Mediano;
falta de criatividade ou originalidade; característica do que é
comum.
s.m. Algo ou alguém que não tem grande valor
intelectual; sem capacidade para realizar algo; desprovido de talento
e que está abaixo da média.