domingo, 27 de setembro de 2015

Alfarrábios do Melo


Saudações flamengas a todos,
Uma queixa recorrente de muita gente tem se concentrado na falta de competitividade de vários jogadores do nosso elenco, o que, infelizmente, tem se mostrado procedente. Essa semana, revisito alguns anos da nossa história recente, mostrando que nem só de “raça, amor e paixão” viveu nossa torcida. A listagem abaixo contempla jogadores (a maioria deles de qualidade) que, por motivos distintos, acabaram não se mostrando à altura do desafio de defender um clube da envergadura do Flamengo. Naturalmente há mais exemplos, e quem desejar poderá ficar à vontade para citar outros nomes.

OS JOGADORES QUE VIRARAM SUCO

1 – SÉRGIO (1996)
Chegou ao Flamengo no início do ano, envolvido em uma troca que levou o lateral Índio, o zagueiro Cláudio e o volante Marquinhos para o Palmeiras, vindo, além do goleiro, o volante Mancuso para a Gávea. Desde as primeiras atuações demonstrou insegurança, falhando sucessivamente em saídas de cruzamentos e rebatendo bolas fáceis. Mesmo assim, sua posição de titular não vinha sendo contestada, até o dia em que deu uma entrevista fatídica, confessando “tremer as pernas diante do Maracanã cheio”. No jogo seguinte, falhou clamorosamente no gol que decretou o empate contra o modesto Olaria (1-1), que virtualmente eliminou o time da Taça Cidade Maravilhosa. Com a pressão insustentável, perdeu a posição para Roger, para nunca mais recuperá-la. Com a contratação do veterano Zé Carlos, foi relegado ao terceiro posto. Ainda disputou alguns amistosos até ser negociado ao final da temporada.

2 – LEANDRO SILVA (1987-1988)
Contratado junto ao Olaria, chegou para ocupar a reserva de Jorginho. Contudo, com as lesões e as controvertidas renovações de contrato do titular, acabou entrando com certa frequência na equipe. No Brasileiro de 1987 não comprometeu e até se tornou protagonista involuntário da Semifinal contra o Atlético-MG, quando sofreu uma pedrada da torcida adversária. O cenário mudou em 1988, quando ganhou uma sequência de jogos mais longa e sua limitação técnica apareceu com maior intensidade. Más atuações e falhas em derrotas contra o Vasco e principalmente o Nacional-URU criaram uma pressão da qual Leandro Silva não mais se recuperou. Negociado no Brasileiro, destacou-se anos mais tarde com boas passagens em Fluminense e Corinthians.

3 – LUÍS PEREIRA (1980-1981)
Mesmo com a conquista do Brasileiro, a zaga do Flamengo foi um setor bastante criticado. Buscando sanar essa deficiência e já desejando reforçar o elenco para a Libertadores do ano seguinte, a diretoria do Flamengo repatriou junto ao Atletico Madrid o zagueiro Luís Pereira, um dos principais do país, nível Seleção Brasileira. No entanto, o experiente jogador demorou a entrar em forma e jamais conseguiu se firmar, chegando a ser barrado pela dupla Rondinelli-Marinho (justamente a que jogou o Brasileiro e viha sendo criticada). Desanimado e desmotivado, forçou no final do Brasileiro do ano seguinte sua saída para o Palmeiras, clube em que, nas suas palavras, “estaria mais à vontade”, em uma negociação que envolveu a vinda do atacante Baroninho. No futebol paulista (depois do Palmeiras, defendeu a Portuguesa) voltou à velha forma. No Flamengo, não deixou nenhuma saudade.

4 – GILMAR (2001)
Para a disputa do Brasileiro, a diretoria viu a necessidade de trazer um zagueiro experiente, em função da saída de Gamarra para o futebol grego. Assim, chegou Gilmar, jogador com vasto currículo vencedor, especialmente em suas passagens por São Paulo e Cruzeiro. Zagueiro discreto, suscitava no torcedor flamengo a lembrança de ter sido o jogador que levou um soco de Júnior Baiano no jogo que eliminou o rubro-negro da Libertadores de 1993. Melhor seria ter ficado apenas nessa recordação. Sua passagem no Flamengo foi lastimável, destacando-se pela uniformidade, pois mostrou capacidade de falhar tanto pelo alto quanto por baixo. Lento e dado a erros capitais, não demorou a perder a vaga no time titular para os jovens Juan e Fernando. No final do ano, foi negociado com o Botafogo, onde encerraria a carreira. Não demorou a ser esquecido.

6 – NELSINHO (1990)
Veio do São Paulo, junto com Bobô, em troca de Alcindo e Leonardo, todas as transações por empréstimo. Chegou com status de selecionável, mas logo decepcionou com um futebol medíocre, a ponto de começar a ter a posição de titular questionada. Farto das críticas e das pressões, deu uma entrevista dizendo-se “arrependido” de ter aceitado a troca, o que sepultou seu já difícil ambiente no clube. Barrado pelo jovem (talentoso e irregular) Piá, ensaiou ainda uma recuperação após a chegada de Jair Pereira, mas uma séria lesão sofrida em um jogo contra (justamente) o São Paulo encerrou sua passagem no rubro-negro.

5 – DJAIR (1995-1996)
Chegou ao Flamengo com o status de ter sido um dos principais jogadores do time que conquistou pelo Fluminense o Estadual de 1995. Embora fosse credenciado pelo seu futebol elegante, de passes refinados, jamais conseguiu se impor no rubro-negro. Frio, sem vibração, sucumbiu diante do caos administrativo vivido pelo clube no segundo semestre do Brasileiro. Foi um dos jogadores que mais resistiram à série de privilégios concedidos a Romário e Edmundo, o que levantou dúvidas sobre sua aplicação em algumas partidas. Mesmo assim, permaneceu no elenco para 1996, a pedido de Joel Santana. No entanto, embora tenha iniciado como titular, sua barração (entrou Nélio) acabou ajudando a encaixar e a fazer a equipe funcionar de forma mais vibrante e dinâmica. Ao final do Estadual, não aceitou reduzir a pedida salarial e deixou a Gávea, indo para o São Paulo.

8 – RENATO CARIOCA (1988-1990)
Destaque no América que chegou às Semifinais do Brasileiro de 1986, chegou ao Flamengo após ser cobiçado por várias equipes (o pacote de ajuda rubro-negra, onde vários jogadores foram cedidos aos americanos, foi decisivo para a negociação). Iniciou bem, marcando gols em amistosos pela Europa, mas acabou estigmatizado após o péssimo começo da equipe no Brasileiro de 1988. Apesar do nítido talento (meia driblador, de futebol vertical e ótimo finalizador), foi perseguido por sua frieza em campo, confundida com pouca dedicação. Não demorou a perder a vaga na equipe, que só recuperaria no final do ano, já sob o comando de Telê Santana, que sempre admirou seu jogo. No primeiro semestre de 1989 viveu seu melhor momento, atuando em sua posição de origem (era o meia de fato, enquanto Zico atuava mais recuado), mas, apesar dos gols e do bom futebol, foi um dos responsabilizados pela perda de um título que parecia certo. Sucumbiu ao péssimo ambiente que tomou conta do clube após a venda de Bebeto e nunca mais conseguiu atuar bem. Seguiu como reserva (ou nem isso) até 1990, quando foi negociado com o Fluminense, onde conseguiu boa passagem.

10 – EDU MARANGON (1990)
Meia extremamente habilidoso, de futebol clássico, rico em lançamentos longos e de um chute venenoso, figura fácil na Seleção Brasileira, chegou ao Flamengo no início de 1990 com a missão de atuar como o substituto de Zico, que havia se aposentado. Equivocadamente, chamou para si uma pressão desnecessária ao se declarar “apto” para a tarefa. No entanto, seu futebol demasiado cadenciado e lento logo se mostrou incompatível com a função de atuar mais próximo aos atacantes (sentia-se melhor jogando um pouco mais recuado, como meia de ligação). Com os maus resultados iniciais e o péssimo rendimento, passou a ser brindado com vaias e xingamentos. Um dia, após mais uma má atuação, “colocou o cargo à disposição”, reconhecendo estar mal e oferecendo-se para a reserva, o que, na prática, foi encarado como uma rendição (“não aguentou e pediu pra sair”). Prontamente foi barrado e nunca mais recuperou a posição. Ainda em 1990, foi negociado com o Santos. No futebol paulista recuperou seu jogo, mas manteve-se irregular.

7 – ALEX (2000)
Poucos momentos da história recente do Flamengo terão sido tão conturbados como aquele 2000. O caudaloso dinheiro da ISL foi tostado com cachos e mais cachos de jogadores, nem sempre prontamente remunerados, nem sempre de postura exemplar. Ironicamente, mas não surpreendentemente um dos mais profissionais de todos, o habilidoso meia Alex foi engolido pela atmosfera caótica e permissiva vivida pelo clube, e jamais conseguiu mostrar um arremedo de bom futebol, salvo em duas partidas já no final da temporada (4-1 Corinthians e 3-2 Vitória). Nas outras partidas foi burocrático e apático, sofrendo com vaias, críticas e a reserva.

9 -CHIQUINHO (1985-1986)
A maior revelação do futebol brasileiro em 1984 (quando, atuando pelo modesto Botafogo-SP, tornou-se artilheiro de um dos mais disputados Campeonatos Paulistas da história), Chiquinho foi disputado a tapa entre várias equipes de primeira linha naquelas férias de verão. Acabou escolhendo o Flamengo, clube em que viu a possibilidade de ser titular e com isso ascender em sua carreira. Com efeito, o rubro-negro, que havia negociado seus dois atacantes de área (Nunes e Edmar) apostou no jovem Chiquinho, que não demorou a sentir a pressão. Veloz mas afoito e estabanado, desde cedo demonstrou uma impressionante capacidade de criar e desperdiçar oportunidades de gol, levando o torcedor a extremos de irritação. Sempre alternou altos e baixos, oscilando entre alguns bons momentos fartos em gols (especialmente contra o Botafogo, sua vítima preferida) com períodos de escassez onde chegou a ser reserva. No início de 1986, despertou o interesse do Benfica-POR e o Flamengo, buscando fazer caixa, não dificultou sua saída. Em Portugal, foi ídolo e goleador.
 
11 – CARLOS ALBERTO DIAS (1994)
Sonho antigo da diretoria do Flamengo, chegou compondo (junto com Valdeir, Charles e Boiadeiro) um pacote de reforços para a disputa do Estadual. Entretanto nunca emplacou. Gordo e demonstrando notável apatia e lentidão, jamais chegou a ser uma opção real para formar o meio-campo da equipe. Com a boa fase de Marquinhos e Boiadeiro, rapidamente se acomodou com a reserva. Ao final do Estadual, o Flamengo preferiu não exercer a opção de compra, e Carlos Alberto Dias retornou ao futebol paranaense.


AVISO AOS NAVEGANTES

Essa semana estarei em viagem a serviço, então provavelmente não poderei participar, como de costume, dos comentários e discussões daqui do Buteco. Boa semana a todos.