Saudações flamengas a todos,
Uma queixa recorrente de muita
gente tem se concentrado na falta de competitividade de vários jogadores do
nosso elenco, o que, infelizmente, tem se mostrado procedente. Essa
semana, revisito alguns anos da nossa história recente, mostrando que nem só de
“raça, amor e paixão” viveu nossa torcida. A listagem abaixo contempla
jogadores (a maioria deles de qualidade) que, por motivos distintos, acabaram
não se mostrando à altura do desafio de defender um clube da envergadura do
Flamengo. Naturalmente há mais exemplos, e quem desejar poderá ficar à vontade
para citar outros nomes.
OS JOGADORES QUE VIRARAM SUCO
1 – SÉRGIO (1996)
Chegou ao Flamengo no início do
ano, envolvido em uma troca que levou o lateral Índio, o zagueiro Cláudio e o
volante Marquinhos para o Palmeiras, vindo, além do goleiro, o volante Mancuso
para a Gávea. Desde as primeiras atuações demonstrou insegurança, falhando
sucessivamente em saídas de cruzamentos e rebatendo bolas fáceis. Mesmo assim,
sua posição de titular não vinha sendo contestada, até o dia em que deu uma
entrevista fatídica, confessando “tremer as pernas diante do Maracanã cheio”.
No jogo seguinte, falhou clamorosamente no gol que decretou o empate contra o
modesto Olaria (1-1), que virtualmente eliminou o time da Taça Cidade
Maravilhosa. Com a pressão insustentável, perdeu a posição para Roger, para
nunca mais recuperá-la. Com a contratação do veterano Zé Carlos, foi relegado
ao terceiro posto. Ainda disputou alguns amistosos até ser negociado ao final
da temporada.
2 – LEANDRO SILVA (1987-1988)
Contratado junto ao Olaria,
chegou para ocupar a reserva de Jorginho. Contudo, com as lesões e as controvertidas
renovações de contrato do titular, acabou entrando com certa frequência na
equipe. No Brasileiro de 1987 não comprometeu e até se tornou protagonista
involuntário da Semifinal contra o Atlético-MG, quando sofreu uma pedrada da
torcida adversária. O cenário mudou em 1988, quando ganhou uma sequência de
jogos mais longa e sua limitação técnica apareceu com maior intensidade. Más
atuações e falhas em derrotas contra o Vasco e principalmente o Nacional-URU
criaram uma pressão da qual Leandro Silva não mais se recuperou. Negociado no
Brasileiro, destacou-se anos mais tarde com boas passagens em Fluminense e
Corinthians.
3 – LUÍS PEREIRA (1980-1981)
Mesmo com a conquista do
Brasileiro, a zaga do Flamengo foi um setor bastante criticado. Buscando sanar
essa deficiência e já desejando reforçar o elenco para a Libertadores do ano
seguinte, a diretoria do Flamengo repatriou junto ao Atletico Madrid o zagueiro
Luís Pereira, um dos principais do país, nível Seleção Brasileira. No entanto,
o experiente jogador demorou a entrar em forma e jamais conseguiu se firmar,
chegando a ser barrado pela dupla Rondinelli-Marinho (justamente a que jogou o
Brasileiro e viha sendo criticada). Desanimado e desmotivado, forçou no final do Brasileiro do ano seguinte sua saída para o
Palmeiras, clube em que, nas suas palavras, “estaria mais à vontade”, em uma negociação que envolveu a vinda do atacante Baroninho. No
futebol paulista (depois do Palmeiras, defendeu a Portuguesa) voltou à velha
forma. No Flamengo, não deixou nenhuma saudade.
4 – GILMAR (2001)
Para a disputa do Brasileiro, a
diretoria viu a necessidade de trazer um zagueiro experiente, em função da
saída de Gamarra para o futebol grego. Assim, chegou Gilmar, jogador com vasto
currículo vencedor, especialmente em suas passagens por São Paulo e Cruzeiro.
Zagueiro discreto, suscitava no torcedor flamengo a lembrança de ter sido o
jogador que levou um soco de Júnior Baiano no jogo que eliminou o rubro-negro
da Libertadores de 1993. Melhor seria ter ficado apenas nessa recordação. Sua
passagem no Flamengo foi lastimável, destacando-se pela uniformidade, pois
mostrou capacidade de falhar tanto pelo alto quanto por baixo. Lento e dado a
erros capitais, não demorou a perder a vaga no time titular para os jovens Juan
e Fernando. No final do ano, foi negociado com o Botafogo, onde encerraria a
carreira. Não demorou a ser esquecido.
6 – NELSINHO (1990)
Veio do São Paulo, junto com
Bobô, em troca de Alcindo e Leonardo, todas as transações por empréstimo.
Chegou com status de selecionável, mas logo decepcionou com um futebol
medíocre, a ponto de começar a ter a posição de titular questionada. Farto das
críticas e das pressões, deu uma entrevista dizendo-se “arrependido” de ter
aceitado a troca, o que sepultou seu já difícil ambiente no clube. Barrado pelo
jovem (talentoso e irregular) Piá, ensaiou ainda uma recuperação após a chegada
de Jair Pereira, mas uma séria lesão sofrida em um jogo contra (justamente) o
São Paulo encerrou sua passagem no rubro-negro.
5 – DJAIR (1995-1996)
Chegou ao Flamengo com o status
de ter sido um dos principais jogadores do time que conquistou pelo Fluminense
o Estadual de 1995. Embora fosse credenciado pelo seu futebol elegante, de
passes refinados, jamais conseguiu se impor no rubro-negro. Frio, sem vibração,
sucumbiu diante do caos administrativo vivido pelo clube no segundo semestre do
Brasileiro. Foi um dos jogadores que mais resistiram à série de privilégios
concedidos a Romário e Edmundo, o que levantou dúvidas sobre sua aplicação em
algumas partidas. Mesmo assim, permaneceu no elenco para 1996, a pedido de Joel
Santana. No entanto, embora tenha iniciado como titular, sua barração (entrou
Nélio) acabou ajudando a encaixar e a fazer a equipe funcionar de forma mais
vibrante e dinâmica. Ao final do Estadual, não aceitou reduzir a pedida
salarial e deixou a Gávea, indo para o São Paulo.
8 – RENATO CARIOCA (1988-1990)
Destaque no América que chegou às
Semifinais do Brasileiro de 1986, chegou ao Flamengo após ser cobiçado por
várias equipes (o pacote de ajuda rubro-negra, onde vários jogadores foram
cedidos aos americanos, foi decisivo para a negociação). Iniciou bem, marcando
gols em amistosos pela Europa, mas acabou estigmatizado após o péssimo começo
da equipe no Brasileiro de 1988. Apesar do nítido talento (meia driblador, de
futebol vertical e ótimo finalizador), foi perseguido por sua frieza em campo,
confundida com pouca dedicação. Não demorou a perder a vaga na equipe, que só
recuperaria no final do ano, já sob o comando de Telê Santana, que sempre
admirou seu jogo. No primeiro semestre de 1989 viveu seu melhor momento,
atuando em sua posição de origem (era o meia de fato, enquanto Zico atuava mais
recuado), mas, apesar dos gols e do bom futebol, foi um dos responsabilizados
pela perda de um título que parecia certo. Sucumbiu ao péssimo ambiente que
tomou conta do clube após a venda de Bebeto e nunca mais conseguiu atuar bem.
Seguiu como reserva (ou nem isso) até 1990, quando foi negociado com o
Fluminense, onde conseguiu boa passagem.
10 – EDU MARANGON (1990)
Meia extremamente habilidoso, de
futebol clássico, rico em lançamentos longos e de um chute venenoso, figura
fácil na Seleção Brasileira, chegou ao Flamengo no início de 1990 com a missão
de atuar como o substituto de Zico, que havia se aposentado. Equivocadamente,
chamou para si uma pressão desnecessária ao se declarar “apto” para a tarefa.
No entanto, seu futebol demasiado cadenciado e lento logo se mostrou
incompatível com a função de atuar mais próximo aos atacantes (sentia-se melhor
jogando um pouco mais recuado, como meia de ligação). Com os maus resultados
iniciais e o péssimo rendimento, passou a ser brindado com vaias e xingamentos.
Um dia, após mais uma má atuação, “colocou o cargo à disposição”, reconhecendo
estar mal e oferecendo-se para a reserva, o que, na prática, foi encarado como
uma rendição (“não aguentou e pediu pra sair”). Prontamente foi barrado e nunca
mais recuperou a posição. Ainda em 1990, foi negociado com o Santos. No futebol
paulista recuperou seu jogo, mas manteve-se irregular.
7 – ALEX (2000)
Poucos momentos da história
recente do Flamengo terão sido tão conturbados como aquele 2000. O caudaloso
dinheiro da ISL foi tostado com cachos e mais cachos de jogadores, nem sempre
prontamente remunerados, nem sempre de postura exemplar. Ironicamente, mas não
surpreendentemente um dos mais profissionais de todos, o habilidoso meia Alex foi
engolido pela atmosfera caótica e permissiva vivida pelo clube, e jamais
conseguiu mostrar um arremedo de bom futebol, salvo em duas partidas já no
final da temporada (4-1 Corinthians e 3-2 Vitória). Nas outras partidas foi
burocrático e apático, sofrendo com vaias, críticas e a reserva.
9 -CHIQUINHO (1985-1986)
A maior revelação do futebol
brasileiro em 1984 (quando, atuando pelo modesto Botafogo-SP, tornou-se
artilheiro de um dos mais disputados Campeonatos Paulistas da história),
Chiquinho foi disputado a tapa entre várias equipes de primeira linha naquelas
férias de verão. Acabou escolhendo o Flamengo, clube em que viu a possibilidade
de ser titular e com isso ascender em sua carreira. Com efeito, o rubro-negro,
que havia negociado seus dois atacantes de área (Nunes e Edmar) apostou no
jovem Chiquinho, que não demorou a sentir a pressão. Veloz mas afoito e
estabanado, desde cedo demonstrou uma impressionante capacidade de criar e
desperdiçar oportunidades de gol, levando o torcedor a extremos de irritação.
Sempre alternou altos e baixos, oscilando entre alguns bons momentos fartos em
gols (especialmente contra o Botafogo, sua vítima preferida) com períodos de escassez onde chegou a ser reserva. No início de 1986,
despertou o interesse do Benfica-POR e o Flamengo, buscando fazer caixa, não
dificultou sua saída. Em Portugal, foi ídolo e goleador.
11 – CARLOS ALBERTO DIAS (1994)
Sonho
antigo da diretoria do Flamengo, chegou compondo (junto com Valdeir, Charles e
Boiadeiro) um pacote de reforços para a disputa do Estadual. Entretanto nunca
emplacou. Gordo e demonstrando notável apatia e lentidão, jamais chegou a ser
uma opção real para formar o meio-campo da equipe. Com a boa fase de Marquinhos
e Boiadeiro, rapidamente se acomodou com a reserva. Ao final do Estadual, o
Flamengo preferiu não exercer a opção de compra, e Carlos Alberto Dias retornou
ao futebol paranaense.
AVISO AOS NAVEGANTES
Essa semana estarei em viagem a
serviço, então provavelmente não poderei participar, como de costume, dos
comentários e discussões daqui do Buteco. Boa semana a todos.