PRÓLOGO

Isso fez reverberar uma forte
reação contra o treinador que, de personalidade forte, minimizou as críticas.
Mas as nuvens apenas estão começando a se formar, perceptíveis apenas para os
mais atentos.
PRIMEIRO ATO

Enquanto isso, nos amistosos
preparatórios para o Estadual, Lazaroni faz testes no time. Neles, Sócrates
está barrado. Por Ailton.
SEGUNDO ATO

A decisão do Doutor é recebida
com estupefação por dirigentes, jogadores, jornalistas. Mas Lazaroni, apesar do
esforço, não consegue disfarçar a satisfação. “Direito dele. Fará falta, como
qualquer jogador faria.”. “Pra mim, nunca foi craque”, exclama, deixando-se fotografar
sorridente. A reação do treinador suscita um misto de descontentamento e mesmo
revolta. Alguns líderes de Torcidas Organizadas começam a pregar abertamente a
queda de Lazaroni, até porque o início flamengo no Estadual está longe de
agradar. Após uma boa vitória contra o Bangu (1-0, em grande estreia oficial de
Renato), o time é fragorosamente derrotado pelo desconhecido Porto Alegre, em
Itaperuna (0-2, com direito a olé), ocasião que ensejou mais uma atordoante
declaração de Lazaroni, dando conta que “temos que entender que só com nomes
famosos não venceremos ninguém. Essa época já passou”.
O Flamengo, já sem Sócrates,
ensaia uma reação, ao vencer Portuguesa e Cabofriense (2-0 e 3-0,
respectivamente), mas perde Renato, com suspeita de fratura no pé direito, e
volta a viver turbulências, quando Lazaroni resolve manter Adílio no banco,
promovendo o jovem Zinho a titular.
Aliás, Adílio, que é o grande
nome da vitória sobre o time de Cabo Frio, com dois gols, vai aos microfones e
avisa, “agora não aceito mais a reserva”. A torcida, nesses jogos, segue
cantando alegremente (ou nem tanto): “Fora Lazaroni”, “Fora burro”, “A-dí-lio,
A-dí-lio”, “Só-cra-tes, Só-cra-tes”.
Os mais atentos começam a se
preocupar. O ar está inflamável. Quase irrespirável.
TERCEIRO ATO

A situação de Lazaroni se torna
insustentável. A diretoria resolve agir. É convocada uma Reunião.
Nessa reunião, estão presentes o
Presidente, o VP de Futebol, o Diretor de Futebol, o Supervisor de Futebol, o
representante dos jogadores (Zico) e um representante das Torcidas Organizadas.
Após muita discussão, argumentos aqui e ali, define-se que Lazaroni será
mantido. Mas não há unanimidade. Longe disso.
Ao final da entrevista, o
presidente sai e, aos microfones, anuncia a permanência do treinador, “o
Flamengo tem um projeto de longo prazo, não vai abrir mão dele por causa de um
revés”
QUARTO ATO

A atuação da equipe contra o
pequeno Mesquita é deprimente. Além de apáticos, os jogadores agora estão nervosos.
A bola queima. O time, confuso e desorganizado, cria pouco ou quase nada, e não
é derrotado por causa da boa atuação de Cantarele. No fim, um 0-0 melancólico.
Os torcedores dessa vez não conseguem invadir o campo, mas atiram moedas e
cédulas nos jogadores. “Fora Marajás”, “Fora Lazaroni”, “Fora”. Há rumores de
que o ônibus do time será emboscado no trajeto de volta, o que obriga o
motorista a alterar o itinerário.
A diretoria, dessa vez, sequer
cogita reunião. Lazaroni é mantido sem maior discussão.
QUINTO ATO

No dia seguinte, uma nova reunião
é marcada. Dessa vez, apenas entre o Presidente e os VP's de Futebol, Finanças,
Administração e outras eminências pardas. Dali, saem demitidos o próprio VP de
Futebol, o Diretor de Futebol e toda a comissão técnica, inclusive Sebastião
Lazaroni.
O Presidente, mais uma vez, vai
aos microfones: “não está bom, os resultados estão mostrando. Tem que mudar
tudo. Tudo. Faremos uma profunda reestruturação em todo o futebol”
Lazaroni, surpreso e magoado,
tenta manter o equilíbrio, evita declarações mais controvertidas, tenta manter
o silêncio, embora demonstre visivelmente sua frustração. Limpa os armários,
despede-se dos jogadores, entra no carro e cruza os portões da Gávea, a rumo de
casa.
Nunca mais Sebastião Lazaroni
trabalhará no Flamengo.
SEXTO ATO
A diretoria reúne a imprensa e
anuncia as mudanças emergenciais no Departamento de Futebol. Na entrevista,
divulga-se que o Flamengo está em busca de um treinador renomado e capaz de
conduzir a reformulação no setor. O nome mais cotado é Parreira, que chega a
ser sondado, embora esteja trabalhando no Oriente Médio. Outros nomes
ventilados são Telê Santana e mesmo Cesar Luis Menotti, arroz de festa em toda
especulação que envolva um novo treinador para o Flamengo. Enquanto isso, o
auxiliar Carlinhos assumirá a equipe nos jogos finais da Taça Guanabara. A
ideia é estrear o novo treinador já no início da Taça Rio.
Enquanto a diretoria bate cabeça
atrás de um novo nome, Carlinhos dá nova cara à equipe. Logo de cara, o time,
que não marcava gols há 270 minutos, enfia 5-0 no Campo Grande, jogando o fino
da bola. Depois, algumas boas partidas e uma elogiada atuação no 0-0 contra o
Vasco, em que o time perde várias oportunidades de gol. Tímido e avesso a
badalações, Carlinhos cumpre seu trabalho de interino e sai de cena invicto.
Recupera o prestígio perdido na desastrosa passagem de 1983 e retorna à função
de auxiliar visto com outros olhos. Cedo ou tarde, ganhará nova chance.
Depois de muito tentar, a
diretoria enfim acena com o nome mais acessível. Antonio Lopes é demitido do
Fluminense e acerta contrato com o Flamengo. Irá, como previsto, dirigir o time
a partir da Taça Rio.
Membros da diretoria vão aos
jornais e afirmam: “nossa opção pelo Antonio Lopes vem da necessidade de impor
linha dura. Os jogadores precisam de comando”. Fica a dúvida se a filosofia de
linha-dura pautou a vinda de Lopes ou se o rígido Lopes chegou porque era o
único disponível.
EPÍLOGO

De bom, a volta de Zico e um
arranjo tático interessante, com a efetivação de Bebeto como “falso nove”,
arranjo que seria aprimorado mais tarde no Campeonato Brasileiro.
A saída de Lopes enseja a
efetivação de Carlinhos no comando técnico. Entretanto, passa-se um turno
inteiro do Brasileiro e o time, a rigor, só conseguiu uma boa atuação, a
sofrida vitória contra o Vasco (2-1, gol nos acréscimos). O elenco possui
vários e severos focos de desagregação, Zico, que seria um elemento
aglutinador, continua às voltas com sucessivas lesões e já fala em parar, as
torcidas organizadas, que andaram quietas, já começam a se manifestar ameaçando
reviver os dias de terror de março, o próprio Carlinhos é tido como frágil e
despreparado, e a própria diretoria, resignada diante da incapacidade de trazer
um nome consagrado a curto prazo, esboça uma nova reestruturação para o ano
seguinte.
Diante de um quadro tão
desolador, muitos flamengos apenas esperam que o ano termine logo.
Um ano, até então, para se
esquecer.