quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A ambição

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Ontem, no dia 05/08/2015, assisti o River Plate ser campeão da Libertadores ganhando o Tigres do México por 3 x 0. Um time que chegou a ser rebaixado no campeonato argentino, se recuperou a ponto de ganhar o título do campeonato e agora a Libertadores. Ambição, desejo, vontade.

Outro dia vi um trecho de filme interessante enquanto fazia um zapping que me fez pensar. Foi algo assim: Um sujeito, com o estereótipo do cara charmoso, rico, bonitão, flertava com uma moça bonita, que estava tentando produzir um website para a firma dele. Ela, com tanto assédio, em meio a uma tentativa que estava saindo desastrosa de sedução, com pombas lançadas na sala sendo atingidas pelas pás do ventilador de teto, disse desesperada para o cara:"Sou casada!". E ele:"Porque não me disse antes?". Ela:"Porque achava que flertando contigo conseguiria o contrato! E eu estava gostando disso e não queria parar. Meu marido é calmo, dependente. E no momento preciso de um cara assim. Ele é um Volvo e você é uma Ferrari!" E aí ele respondeu:"Não sou Ferrari. Pareço assim para você. Sou um cara vazio. Sem você não sou nada. Só você me consegue fazer brilhar!" 


Claro que todos nós temos algo ou alguém na vida que nos fazem "brilhar". Conquistas de objetivos na vida, relações amorosas, filhos, etc. Mas, enquanto torcedores do Flamengo, nosso time evidentemente faz parte desta chama. Nós queremos que o Flamengo nos faça "brilhar", isto é, nos sentirmos mais vivos, mais intensos, mais satisfeitos. E, para muita gente, que está em situação carente, de desespero pessoal, econômico, familiar, etc, o time vira sua única chance de brilho e satisfação. O livro Soccernomics, por exemplo, em um capítulo mostra que o número de suicídios aumenta entre os homens quando seu time vai mal. É uma relação pessoal. O Futebol, o clube, constrói a relação do indivíduo com uma identidade esportiva. 


E como o Flamengo pode fazer sua torcida "brilhar"? Construindo uma ambição desmedida com conquistas esportivas. Montando times que disputem o G4, por exemplo, ano após ano para que em anos recorrentes sejamos campeões brasileiros e campeões da Libertadores. Isto tem que estar em nossas metas, em nossa visão. Evidente que para isto não só temos que continuar neste modelo de sustentabilidade econômica iniciada com a gestão da Chapa Azul como temos que paramentar o clube do melhor CT da América, de dirigentes esportivos top de linha, de serviços médicos e fisiológicos com os melhores profissionais e equipamentos tecnológicos e de recuperação possíveis. De ter uma Base que forneça profissionais de alto nível, com todos os fundamentos executados com qualidade para que possam ser utilizados no elenco profissional ou serem repassados para outros clubes trazendo boa renda para o departamento.


Enfim, o Flamengo precisa desta AMBIÇÃO desmedida em todos os seus dirigentes, associados e torcedores para que voltemos a viver o momento explosivo da geração Zico de 81. E que ela não seja apenas outro momento histórico único em um poster na parede.  


E foi esta ambição que ocasionou o racha na Chapa Azul? Não, as justificativas do rompimento que foram alegadas dizem respeito apenas ao suposto "personalismo" do Eduardo Bandeira. Quando foi o personalismo do Bap que o fez romper unilateralmente com a gestão, movimento que não foi seguido de imediato por seus aliados no Conselho Diretor, que continuaram na gestão até que na terça-feira foram lançar uma chapa juntos. Ou seja, vi neste movimento a ambição de um pequeno grupo de deter o poder para eles. A ambição de poder. Normal e esperada em qualquer tipo de instituição. Pessoas são assim. Não considero negativa porque se ninguém tiver esta ambição quem irá comandar? Ou botar a cara a tapa e liderar processos e movimentos? Mas esta ambição de poder de um grupo foi pensada e articulada para poder colocar o Flamengo em um caminho de proeminência no futebol? Pelos discursos que transpareceram no lançamento da chapa não. Deram destaques aos "brilhos dos próprios nomes", na postura salvacionista e diria prepotente que o Flamengo sem eles não conseguirá contratos. Ora, se uma empresa não quiser patrocinar o clube porque o fulano X não está mais no telefone, pior para a empresa, certo? Quer visibilidade e massa de torcedores espalhada em território nacional? Só tem um clube para procurar, amigo.


Enfim, quero mais. Gostaria da gestão atual e da chapa que vier a formar, e das concorrentes também, um comprometimento pleno a ambição do Flamengo se tornar o melhor clube da América de forma estrutural e esportiva. Pode levar anos. É um processo, eu sei. Mas cada gestão que vier tem que carregar esta chama. Ela é que fará brilhar o coração do torcedor e aquecer milhões.


Por Flavio H Souza
twitter: @PedradaRN