Não adianta: o Flamengo sempre vai estar envolvido em alguma polêmica. Qualquer uma. Verdadeira ou não. Um exemplo? Contratamos o melhor atacante em atividade na América do Sul, "roubando" o maior ídolo recente de um rival paulista, e, antes da sua estreia, só se falava no acordo feito para não escalá-lo contra seu ex-time. Desde a noite de quinta, no entanto, não se fala em outra coisa que não uma possível repatriação do Felipe Melo.
A identificação com o rubro-negro é indiscutível mas o Pitbull, apelido que ganhou na Turquia, é muito mais do que isso. Sua carreira foi de altos e baixos, muito por causa do forte temperamento. Fundamental ao marcar o gol que evitou o rebaixamento do Flamengo em 2001, Felipe fez parte do supertime que conquistou a tríplice coroa pelo Cruzeiro em 2003, mas também esteve no time do Grêmio que foi rebaixado no ano seguinte. Pra piorar, se envolveu em escândalo com briga e prostitutas na sua saída.
Foi para a Europa, passou por Mallorca, Racing Santander e Almería e foi vendido para a Fiorentina em 2008 por €8M. Fez um ótimo ano, foi convocado pelo Dunga e chamou a atenção da Juventus, que teve que pagar a multa de €25M para tirá-lo de Florença. Era sua grande chance de se consolidar com um dos melhores volantes do mundo mas a cabeça não permitiu. Até começou bem mas a inconstância e os cartões o transformaram numa espécie de símbolo negativo da fase posterior ao rebaixamento da Vecchia Signora. Felipe se encontrou no Galatasaray. A coincidência da sua maturidade com a extremamente apaixonada torcida turca alçaram o jogador a um status de ídolo.
E nós, como entramos nessa? Felipe nunca escondeu sua vontade de jogar novamente pelo Flamengo e, nos últimos dias, mais do que nunca, isso pareceu mais próximo. Papos, boatos são de que ele reduziria sua pedida salarial para voltar, mas quanto? Outra pergunta importante que eu ouvi bastante: precisamos de mais um volante? É essa a nossa prioridade ou é melhor gastar esse dinheiro em outro jogador?
Minha resposta é: eu investiria. Todos vocês já sabem qual a minha opinião sobre a falta de protagonistas nesse elenco rubro-negro, questão que melhorou com as chegadas do Guerrero e do Emerson, e o Felipe Melo seria o líder que falta nesse grupo. Taticamente, ele poderia fazer muito bem a transição entre defesa e ataque, mesmo sem ser efetivamente um meia. Nos quatro anos de Galatasaray, Felipe jogou em todas as funções do meio de campo e foi até zagueiro em algumas partidas. Falando em números, ele jogou 34 partidas na temporada passada, marcando dois gols e dando uma assistência. Mas, claro, não seria por esses números que o contrataríamos.
Felipe tem, em média, 87% de acerto de passes, 3,3 cortes e 2,9 interceptações por partida, cometendo aproximadamente apenas duas faltas por jogo. Números interessantes para um volante. Na parte ofensiva, suas médias são de 1,1 chutes, 0,9 passes-chave, 0,8 dribles e 2,7 faltas sofridas por partida. Sofre mais faltas do que as faz. A bola passa muito pelos seus pés, sempre por volta de 50 vezes por jogo. Não é o meia que muitos sonham, mas é o tipo de jogador que faz o time rodar. Dividiria essa tarefa com o Canteros.
Além disso, a identificação com a torcida é enorme. A percepção nas redes sociais durante o dia de ontem era de aprovação da absoluta maioria. Mesmo depois de um áudio vazado que mostra que o seu desprendimento financeiro pode não ser tão grande quanto seu amor pelo rubro-negro. Dizem que o Flamengo estava disposto a contratar o Elias. Especificidades a parte, o Felipe Melo é tão jogador quanto ele, se não mais. Mantendo a tão famosa austeridade, eu traria. Assim como o Guerrero, eleva o time a outro patamar. Mas aparentemente a direção do futebol não pensa como eu.