Em
momentos de crise, a revolta é o caminho mais curto, mas nos últimos
anos, alargando, neste século o Flamengo só anda em crise. Algo
deve ser feito para que se evolua positivamente. Além das medidas
corretas, na tomada do rumo certo, penso que a criação de processos
internos, claros, facilitem a tomada de decisões e a avaliação de
todos os fatores envolvidos. Os positivos e os negativos, para a
reprogramação e mudança de rotas, quando necessárias forem. Para
isso, o paradigma deve mudar, pois não conheço, nem reconheço, de
fora, no futebol do Flamengo os tais processos claros e a utilização
plena da inteligência a serviço do futebol do clube.
Leila
Souza em um artigo,
descreve com base em autores da área administrativa para que servem
os processos e como utilizá-los na solução de problemas e na
autoavaliação constante. Para ela, controlar a qualidade é
“Planejar, Manter e
Melhorar Constantemente”,
através das seguintes etapas:
1.
Identificação
do Problema:
Qual a frequência do problema? Como ocorre? Estabelecer uma data
limite para se ter o problema solucionado;
2.
Observação:
Investigação;
3.
Análise:
Formação do grupo de trabalho, reuniões participativas
(brainstorming);
4.
Plano
de Ação:
Elaboração da estratégia, certificar as ações sobre causas, não
sobre efeitos, Propor soluções diferentes, Fazer cronograma,
orçamento e metas;
5.
Ação/Execução:
Bloquear causas através de treinamento, Corrigir para que problemas
não ocorram pelas mesmas causas;
6.
Verificação:
Avaliar os resultados;
7.
Padronização:
Elaboração ou alteração do padrão. Esclarecer no procedimento
operacional “o que”, "quem", "quando",
"onde", "como" e principalmente "por quê",
para as atividades que efetivamente devem ser incluídas ou alteradas
nos padrões já existentes. Evitar que o problema resolvido
reapareça devido à degeneração no cumprimento dos padrões,
estabelecendo um sistema de verificação periódica.
8.
Conclusão:
Efetuar relação dos problemas remanescentes, planejar ataque a
estes problemas, Analisar etapas executadas na metodologia.
Parece
simples, não? Para nossas vidas cotidianas, no mercado de trabalho,
pode ser... Estas etapas devem se fazer presentes no futebol, talvez
estejam lá e não conseguimos enxergar, talvez não as existam,
mesmo. Caso existam, tenho sérias dúvidas de que estejam
funcionando plenamente. A repetição de problemas temporada a
temporada, como a má formação do elenco para o Campeonato
Brasileiro, a troca constante de treinadores, a não formação de
atletas que possam suprir necessidades momentâneas na base no time
principal, etc; trazem o questionamento dos métodos de trabalho do
departamento de futebol.
Precisamos
trabalhar com inteligência. O que é inteligência, na verdade?
Essa pergunta é chave para se entender o porque, na minha opinião,
do futebol não caminhar no Flamengo. Antes de recomeçar, me aterei
a alguns conceitos do assunto, como um todo, por artigos e links
sobre o assunto. A inteligência e a gestão de dados, caminham
juntas no mundo empresarial e no futebol. Não é novidade para
ninguém. O problema é como estão funcionando (ou não) no nosso
futebol.
• Melhor
alinhamento entre as áreas de tecnologia e de negócio;
• Conhecimento
dos dados através da adoção de vocabulário único;
• Melhoria
na qualidade e confiabilidade dos dados e informações através do
uso de dados cada vez mais claros, precisos, íntegros, integrados,
pertinentes e oportunos;
• Criação
da cultura do uso de indicadores de processo e qualidade dos dados;
• Reutilização
de dados considerados corporativos, contribuindo dessa forma para a
melhoria da qualidade dos dados e também reduzindo os esforços,
tempos e custos do desenvolvimento de novas aplicações;
• Redução
dos riscos e falhas no desenvolvimento dos sistemas e aplicações;
• Eliminação
na quantidade de informações redundantes;
• Estabelecimento
de mecanismos formais de segurança, acesso e disponibilização a
quem realmente necessita;
• Aumento
da produtividade das pessoas que utilizam os dados e as informações.
Os
benefícios citados resultam em vantagens competitivas. Estes são
alguns dos motivos que norteiam uma mudança de paradigma no futebol
do clube, nos bastidores, no que não se consegue enxergar das
arquibancadas.
Wellington
Felix, apresenta em Introdução à Gestão da Informação, uma
tabela que
ajuda a entender o processo de gestão da informação para a gestão
do negócio, como um todo. Vejam:
Andrey
Freitas, diz em outro artigo,
que a “inteligência é o conhecimento que foi sintetizado e
aplicado à determinada situação, baseada na experiência e
intuição. Podemos dizer que inteligência seria ministrar um
medicamento à pessoa com febre, ou qualquer outra iniciativa, com
base na sua experiência”. Após a descrição, ele apresenta os
cinco níveis hierárquicos de uma métrica:
• Dado:
é a matéria-prima que será utilizada na produção de informações.
Por si só, os dados são essencialmente inúteis porque falham em
transmitir qualquer informação útil.
• Medida:
cada medida é composta de um ou mais dados. Medidas trazem clareza,
agrupando-os em relacionamentos reais e adicionando-os contexto.
• Informação:
é o resultado do processamento de uma medida. A informação
adiciona contexto na forma de significado, tornando assim as medidas
compreensíveis.
• Conhecimento:
é a avaliação da informação, sua relevância e importância, por
isso a transformação da informação em conhecimento depende do
background do receptor
da mesma quando a interpreta.
da mesma quando a interpreta.
• Inteligência:
é o conhecimento que foi sintetizado e aplicado à determinada
situação.
Chegamos
enfim ao ponto principal, o
de como
sairemos da mesmice, do lugar-comum para
transformar
o futebol do Flamengo em um sítio de trabalho e vanguarda, com
resultados efetivos no campo de jogo.
Com Processos e
Inteligência.
Nos dois sentidos do termo, no amplo, o das informações e no
estrito, o do tratamento do conhecimento, individual, de cada peça
da engrenagem. Só assim sairemos da crise constante, estaremos
preparados para mudanças de rota com maior facilidade. A outra ponta
do processo, para que paremos de correr atrás do rabo, é a
estruturação e a responsabilização dos entes envolvidos. Na
questão da estrutura, novamente falo de dois sentidos, no da
estrutura física e nos recursos humanos.
A
estrutura é importante, os atletas têm que ficar no CT. Por
isso, o treino “tradicional” deveria ser, em minha limitada
visão, “obrigatoriamente” pela manhã. Todos os outros trabalhos
(recuperação, reforço, bola parada... seriam pela tarde). O atleta
tem sim que ficar no clube ao menos de 8hs até as 15hs. Foco total
na profissão, no rendimento, no crescimento individual, pra melhorar
o desempenho coletivo. Lembremos que o trabalho
coletivo é a soma das individualidades. O elenco profissional do
Flamengo estaria em condições normais entre os 10 melhores do
campeonato, se estivesse rendendo minimamente (nem falarei de
salários em dia...). Não é o que estamos vendo, nem o que temos
visto nos últimos anos.
Para
ser mais objetivo, pretendo especificar o que penso para cada função
e criar um processo de avaliação que resulte em melhora do
desempenho do departamento de futebol. Sei que algo simplório, não
tenho certeza se existe no Flamengo, mas ouvi no “Resenha ESPN”,
Muricy Ramalho dizer o que funciona no São Paulo. Para isso, separei
o departamento basicamente em cinco níveis (logicamente existem
entremeios, funcionários de outras funções) são eles: os Atletas,
a Comissão Técnica, o Superintendente
(da base e profissional, uma para cada setor), o Diretor de
futebol e o Vice-Presidente ou o Conselho Gestor do
Futebol e o Conselho Diretor do Clube (CoDi).
Atletas
Muricy
disse que no São Paulo existem relatórios individualizados de
pós-jogo para os atletas, onde apenas os atletas conhecem seus
próprios resultados (nenhum
companheiro sabe do resultado de outro atleta, a não ser que
conversem entre si).
Isso é ótimo! Mas para se
formar
uma cultura de análise no Flamengo, estes relatórios deveriam ser
escalonados de baixo para cima, criando processos de análise menos
subjetivos, baseados no desempenho.
Os
atletas deveriam responder a questionários curtos com
perguntas e respostas objetivas, diariamente, sobre seu estado
físico, técnico, mental e estratégico (funcional, tático). O
atleta tem que ter a capacidade de se autoavaliar, de criar esta
responsabilidade com seu papel profissional. Estes relatórios
individuais seriam analisados pela comissão técnica. Além disso,
dentro destes “novos processos”, os auxiliares, fisiologistas,
analistas de desempenho e os preparadores físicos seriam de grande
importância, fazendo trabalhos individuais e com grande sentido
coletivo, imposto pelos trabalhos do dia a dia.
Os
atletas teriam mais tempo para entregar a estes relatórios
individuais, analisar vídeos, corrigir postura, gestos técnicos e
fatores individuais e coletivos dentro e fora do campo, com vídeos,
conversas e treinos específicos no campo. Evoluir profissionalmente,
estudar, pensar o jogo.
Comissão
Técnica
Basicamente,
neste formato de relatórios e análise de dados e inteligência, a
comissão trabalharia maciçamente com o treinador, seus auxiliares
técnicos, os fisiologistas, os preparadores físicos e os analistas
de desempenho. Estes tem como missão, além das responsabilidades
“normais”, analisar coletivamente o grupo, coletar informações,
preparar relatórios
semanais e pré e pós-jogo
para que
o
Supervisor
auxilie em discrepâncias do processo.
Não
seria assim, tão simples derrubar o treinador e a comissão técnica
ficaria mais forte perante o grupo de jogadores.
É
de suma importância este fator estratégico. Pode parecer que a
responsabilidade sobrecarregaria a Comissão Técnica, mas pelo
contrário, os atletas teriam que dividir a responsabilidade, pois
ficaria mais nítido o compromisso ou descompromisso dos atletas.
Quanto menos subjetiva, mais fácil de se detectar fatores externos
que atrapalham o desempenho.
Supervisor
Tem
como função, receber
e
analisar os relatórios
semanais e os de pré e pós-jogo da comissão técnica e preparar
relatórios quinzenais
para o Diretor
de futebol.
Também prepararia os relatórios dos atletas, questionários curtos,
ajudando na avaliação coletiva, junto com a comissão técnica.
Pode produzir os
relatórios
de todo o elenco, até para saber o porque de certos
atletas
não tem sido relacionados ou
até o não funcionamento de algumas “peças”
não funcionam.
Analisará
de perto o trabalho da comissão técnica e dos atletas, sendo o elo
entre os atletas, a comissão técnica e o Diretor de futebol. Mais
ou menos o que fazia Paulo Pelaipe. As categorias de base teriam
seu supervisor específico. Como sugestão tenho o próprio
Muricy. Não se desgastaria tanto com o campo e bola, preservaria sua
saúde e trabalharia no Rio de Janeiro onde morou. Com um projeto
bacana, acho que aceitaria. Para as categorias de base, sugiro uma
dupla: Jayme de Almeida e Adílio, treinados para ocupar tal função.
Diretor
de Futebol
A
peça mais importante do sistema, fará funcionar o departamento de
futebol, controlando o setor com a autonomia e a cobrança
necessária.
Controle total de orçamento e gestão. Tem como meta ordenar a base
e o futebol profissional com estes controles de inteligência
aplicados, tornando o trabalho menos subjetivo, como disse acima.
Contratará
o Supervisor para gerir o trabalho, uma comissão técnica fixa do
clube, procurar profissionais de ponta, ampliar o trabalho dos
analistas de desempenho e a base de dados levada a
sério,
buscar profissionais qualificados, na academia, principalmente alguns
que tenham curso fora do país, ampliar o trabalho dos olheiros,
trazer treinadores funcionais, para rever e consertar movimentos dos
atletas. Na base e para os profissionais. Treinador de zagueiros,
laterais, atacantes... O treinador só trará para o Flamengo um
auxiliar técnico e seu analista de desempenho. Os
relatórios do Diretor de futebol serão mensais e não ao sabor dos
ventos.
Vice-Presidente
ou Conselho Gestor do Futebol
Em
princípio
gosto da ideia de se trabalhar com conselho de futebol. Desde que o
gerente de Futebol tenha autonomia de gestão. O conselho serve para
impor metas, criar rotas, implantar filosofia, definir estio de jogo,
etc. mas deve dar autonomia. O bom do modelo é não recair sobre uma
única pessoa a responsabilidade de conduzir o processo. O que não
pode virar é um “conselho de palpiteiros”.
Conselho
Diretor do Clube (CoDi)
Este
aspecto contou com o feedback do próprio texto, nos comentários
enviados no blog e dos amigos por whatsapp. A tarefa mais importante
é a do Conselho Diretor. Ela está no centro da questão, a
reaproximação entre clube e torcida/consumidor, como no sentido
antigo de Religião (religação).
A tarefa é criar
e comunicar uma identidade Rubro-Negra.
A apresentação de “Missão, Visão e Valores”, que o clube
pretende, o que quer ser, como fazer e onde deseja chegar. Com metas
e períodos a se cumprir. Aí sim, todas as peças da cadeia, de cima
para baixo poderiam ser avaliadas com justiça, sem subjetividades,
por um projeto completo de gestão do Futebol do Flamengo.
Todos
os agentes teriam suas responsabilidades e funções ampliadas, porém
divididas. Geralmente,
a maior responsabilidade recai sobre o treinador. Talvez isso mude um
pouco. Pode também ser o momento de se tentar um treinador
estrangeiro para
implementar diferentes métodos, buscar o intercâmbio, ser vanguarda
de fato e de direito, em conceitos sólidos, ao mesmo tempo criando a
identidade do Clube de Regatas do Flamengo.
Os processos somados a inteligência tem o papel de transformar as
decisões do futebol mais técnicas, objetivas, menos subjetivas, ao
sabor das vontades pessoais. Isso protege o sistema, aperfeiçoa os
métodos de trabalho, previne desastres, define objetivos e como
alcançá-los. O caminho da busca da excelência fica um pouco mais
curto. Tem que se
planejar
e executar melhor.