E o conjunto destes associados, muitos deles rubro-negros de fato, diga-se, formam o colégio eleitoral que, de 3 em 3 anos elegem (ou reelegem) o mandatário e sua equipe. Viva a democracia, certo? Sim e não. A democracia é boa como conceito de governabilidade de uma sociedade ou um grupo fechado, mas a dúvida é: É boa para um negócio?
Que empresa privada sobreviveria com eleições tri-anuais de seus presidentes e vice-presidentes, independente de seus resultados? Nenhuma, certo? Projetos se perderiam, diretorias e gerências ficariam sem rumo e certamente seriam substituídas por novos indicados, afinal o novo grupo no poder, se oposição, se elegeu para mudar "tudo isto que está aí" .
Futebol precisa mudar |
E o novo grupo vem e muda tudo. Planejamento para próxima temporada, estruturação do departamento, cargos, salários, filosofia de treinamento, capacitação de recursos humanos, fluxos de decisões, tudo pode mudar. E dependendo da capacidade das "cabeças coroadas" a mudança pode ser drástica. Para melhor ou para pior.
Como acionistas sobreviveriam a isto? Como os consumidores aguentariam uma empresa que se comporta de forma bipolar em intervalos de poucos anos, melhorando ou degradando seus próprios produtos/serviços de acordo com a eleição de seus mandatários, eleitos ou não por suas qualidades gerencias ou apenas de retórica?
Pois é. Mas um clube de futebol funciona assim. Os acionistas, vulgo, associados elaboraram estatuto para que funcionasse deste jeito. Afinal, diferente de uma empresa, um clube social não é para dar lucro e os consumidores, vulgo, torcida, sabem desta bipolaridade e a cada período eleitoral torcem desesperadamente para o clube para o qual torcem não estrague o que foi feito e, melhor ainda, repare o mal feito e melhore o presente e o porvir.
Com isto tudo dificilmente o negócio "Futebol" pode ser implementado a contento em um clube social como o Flamengo, diante das exigências atuais do futebol contemporâneo, em que se exige planejamento a médio/longo prazo para estrutura ótima de treino, de hospedagem, de fisiologia, preparação física, departamento médico, treinamentos táticos, técnicos, que visam capacitar os jogadores a exercerem suas funções em campo com o maior grau de rendimento possível. Onde exige-se os melhores profissionais para negociação de contratos, logística, adequação de novos contratados, assistência psicológica, tudo isto dentro de uma filosofia previamente definida pelo clube de funcionamento de seu negócio, isto é, o futebol. Terá uma base que servirá para negociação de jogadores e apoio a elenco profissional? Então nesta base deve haver estratégia que possibilite que a venda dos direitos dos jogadores cubram os custos de operação e gere lucro para o departamento de futebol como um todo, para melhor equipagem de suas instalações, contratações de profissionais, logística, etc.
Ou seja, o futebol, sendo um negócio precisa saber o que ele "tem que ser". Qual o seu ideal, considerando que estamos em 2015 e vivemos agora a pouco o "7 a 1" ? O Flamengo precisa saber o que quer, para assim ter um processo de decisões que construam o futebol do Flamengo de acordo com o planejado, independente do dirigente amador, diretor executivo ou técnico da vez.
Mas como isto é possível no modelo "democrático" de um clube social de bairro? Só é possível se o grupo mandatário ter um projeto de poder de vigência longa, não se separar, e manter sua base eleitoral afinada com o projeto para que não venha um grupo aventureiro de oposição, com bravatas e dedos na cara, desfazer todo o trabalho. Mas o projeto, além de ser muito bem elaborado, precisa ser ACEITO pelos associados, que devem acompanhar o andamento de sua execução e gerenciamento de ocorrências. Um projeto destes que visa TRANSFORMAR o futebol do semi-amador que temos hoje, para um top de linha como o Flamengo e sua torcida merecem, precisa ser desenvolvido e acompanhado pelos melhores especialistas no assunto. E deste estudo derivarem discussões e adaptações para sua aplicabilidade no Flamengo,considerando suas particularidades, vantagens e dificuldades próprias.
Sendo assim, o que aconselharia?
Contratação de uma assessoria/consultoria européia, de ponta, para montagem e acompanhamento do projeto de futebol do Flamengo. De um plano de negócios, considerando base, estrutura, profissional, staff, RH, financeiro, fluxos de decisões, softwares de apoio, etc. Top de linha, com fases de implantação, considerando o mínimo que temos hoje, que, segundo o Luxemburgo, não serve sequer para treinamento por dias seguidos, tendo o time que ir para Atibaia.
Na minha opinião, considerando a experiência européia que está no topo em relação ao futebol, formando times e estruturas de apoio super competitivos, devemos sim, ter a humildade de reconhecer nosso atraso e os chamar para a elaboração deste projeto. E este projeto, uma vez aceito pela base eleitoral, e cobrada sua execução por ele não só facilitará a reeleição do grupo que está no poder, caso bem executado, como dificultará que, caso um grupo de oposição mesmo assim ser eleito, o projeto de futebol seja desprezado ou jogado fora.
Precisamos de um projeto de futebol, mais uma vez, elaborado por grandes especialistas no assunto considerando os anseios da alma rubro-negra, que seja sustentável e acompanhado. Aprovado pelos associados e por sua torcida. Isto transpassaria gestões. Sua execução não é fácil, nem rápida, mas só assim, penso eu, garantiríamos um profissionalismo pleno e perene de nosso 'core business' em meio as limitações estatutárias de um clube social.
Por Flavio H Souza
twitter: @PedradaRN