Saudações flamengas a todos,
O texto dessa semana atende a uma
sugestão do colega Max Amaral, que outro dia andou indagando sobre a
expectativa da Nação Flamenga antes dos campeonatos que o Flamengo venceu.
Resolvi amplificar um pouco a ideia, e dessa forma segue um apanhado do ar que
se respirava às vésperas de cada um desses campeonatos, bem como os respectivos
resultados, as expectativas que se confirmaram, ou não. Boa leitura.
1980
FAVORITOS E COTADOS
Internacional (atual campeão,
Falcão, manteve a base), Palmeiras (atual semifinalista, manteve o elenco),
Vasco (atual vice, bom histórico recente), Corinthians (campeão paulista,
Sócrates em ótima fase), Atlético-MG (contratou Palhinha, mostrou força nos
amistosos), Santos (Meninos da Vila amadurecendo), Flamengo.
O FLAMENGO
O tricampeão estadual pratica um
futebol vistoso e é tida como talentosa, mas a falta de títulos de expressão
pesa. Ademais, a equipe não foi bem nos amistosos preparatórios (derrotas para
Atlético-MG e Vasco, e um sofrido empate com o São Paulo). Zico, seu principal
jogador, ainda sofre com a pecha de “jogador de Maracanã”.
RESULTADO
Internacional perdeu foco com a
Libertadores e sofreu com a perda de rendimento de Falcão (lesões e iminente
saída pro exterior). Palmeiras sentiu a saída de Telê, foi goleado pelo
Flamengo e rodou na Terceira Fase. Vasco mostrou competitividade, mas foi
superado pelo Atlético-MG na Terceira Fase, em dura disputa. Corinthians fez
boa campanha, mas faltou força na reta final. Caiu diante do surpreendente
Coritiba. O Santos chegou a empolgar, mas não resistiu ao Flamengo, a Zico e ao
Maracanã. E o Atlético-MG confirmou as expectativas, fez campanha sólida e, com
justiça, chegou às Finais.
O Flamengo: a torcida flamenga
chegou ao entusiasmo com as duas primeiras vitórias sobre os fortes Santos e
Internacional, mas a inacreditável derrota para o Botafogo-PB no Maracanã foi
uma forte ducha de água fria. O nível de exigência aumentou, mas o time, que
atuava sem centroavante (Cláudio Adão foi colocado à venda, e seu reserva
Gerson Lopes estava lesionado. Improvisou-se Tita na função), não rendia. A
equipe venceu alguns jogos sob vaias. A chegada de Nunes melhorou substancialmente
o rendimento e, com a esmagadora vingança sobre o Palmeiras (6-2), o time enfim
embalou junto com a torcida e arrancou rumo ao inédito título brasileiro.
1982
FAVORITOS E COTADOS
Flamengo (campeão mundial e
detentor do favoritismo absoluto), São Paulo (uma das bases da seleção,
bicampeão paulista e vice brasileiro), Atlético-MG (elenco parece desgastado,
mas ainda é forte), Grêmio (melhorou o já competitivo time campeão de 1981).
FLAMENGO
Favorito absoluto ao título,
acaba de ser campeão mundial e está motivado para buscar a única taça que
faltou em 1981.
RESULTADOS
O Atlético-MG, esfacelado por
lesões e brigas internas, não resistiu ao “Grupo da Morte” formado na Segunda
Fase e caiu eliminado por Flamengo e o surpreendente Corinthians (egresso da
Taça de Prata, a Segunda Divisão). O São Paulo protagonizou dois duelos
sensacionais com o Flamengo (sendo derrotado em ambos), mas depois apresentou
campanha instável, vitimado por problemas de relacionamento especialmente com o
atacante Serginho. Caiu nas Quartas-de-Final diante do Guarani. Por fim, o
Grêmio, que construiu uma campanha semelhante à do ano anterior (em que foi
campeão), indo mal em jogos fáceis e crescendo nas partidas maiores. Assim
voltou a alcançar as Finais e foi um oponente duríssimo para o Flamengo, por
pouco não conseguindo o título.
O Flamengo: foi mais difícil que
parecia. O Flamengo foi “o time a ser batido”, e com isso enfrentou sempre adversários
no auge da motivação. Mesmo assim encantou torcedores e crônica com um belo
futebol, notadamente na Primeira Fase, com as sensacionais viradas sobre São
Paulo e Náutico. Depois, alguns problemas de lesão (especialmente Nunes)
atrapalharam o andamento da equipe, que precisou muito do apoio da torcida para
reverter situações complicadas (especialmente nas partidas contra Atlético-MG e
Santos). Na reta final a equipe se reencontrou e mostrou força para se impor
diante de adversários qualificados. Cumpre ressaltar que o Flamengo foi campeão
enfrentando rigorosamente todas as principais equipes do país à época. Foi o
campeonato de Zico, o artilheiro e melhor jogador da competição.
1983
FAVORITOS E COTADOS
Flamengo (apesar da
crise interna, é tido como o melhor time do país), Palmeiras (que montou um
time inteiro de ótimos jogadores), Santos (que encorpou o time com Serginho e
Paulo Isidoro), Vasco (atual campeão estadual e com um time renovado), Grêmio
(trouxe Tita e reforçou-se para a Libertadores).
FLAMENGO
O time afundou em
crises internas após as derrotas na reta final do ano anterior. Crises de
relacionamento afloraram, jogadores foram afastados e/ou negociados, o
treinador Carpegiani pela primeira vez viu seu cargo seriamente ameaçado. Para
piorar, o supervisor Domingos Bosco, uma espécie de ponto de equilíbrio do
grupo, morreu de forma abrupta. O clima para o início do Brasileiro, assim, era
o pior possível, apesar da chegada dos reforços Baltasar e Robertinho.
RESULTADOS
O Palmeiras rapidamente
encaixou e mostrou força, especialmente na vitória sobre o Flamengo no Morumbi,
na Segunda Fase (3-1, de virada). Mas andou subestimando alguns adversários, o
que cobrou seu preço na Terceira Fase, em que não resistiu a Vasco e Santos. O
Vasco iniciou irregular, claudicante. Na Segunda Fase, sofreu e escapou de ser
eliminado no Maracanã pelo Bahia graças a um pênalti duvidoso nos minutos
finais. No entanto, cresceu contra adversários mais fortes, despachou o
Palmeiras da competição, mas acabou superado por um Flamengo que voava sedento
de vingança. No fim, seus jogadores ainda protagonizaram um patético papelão,
ameaçando agredir a arbitragem.
O Grêmio assustou o
país ao enfiar 5-1 no São Paulo, mas logo perderia o interesse na competição,
mais concentrado na Libertadores. Por fim, o Santos protagonizou dois
interessantes duelos com o Flamengo na Primeira Fase (uma vitória para cada),
mostrou poderio numa goleada histórica sobre o Cruzeiro (5-0), e chegou às
Finais após calar o Mineirão com um empate em 0-0 com o surpreendente
Atlético-MG (que vinha com elenco renovado).
O Flamengo viveu várias
crises e recomeços, foi dado como morto dúzias de vezes, viveu a experiência de
ser estrepitosamente vaiado no Maracanã em várias oportunidades, mesmo em
vitórias (como os 2-0 sobre o Tiradentes que custaram a cabeça de Carpegiani), quase
andou eliminado (buscou a duras penas um empate em Campos contra o Americano,
evitando uma derrota que o complicaria), e inclusive chegou a protagonizar
vexames, como o empate em 1-1 com o Moto Club, em pleno Maracanã. Mas, após a
terceira mudança na comissão técnica, o time engrenou, justamente na reta
final. A torcida entendeu, abraçou o time, e o Flamengo assim, arrancou para o
tri brasileiro. O jogo-chave foi a espetacular goleada sobre o Corinthians
(5-1). A partir dali, o título se tornou palpável e provável.
Semana que vem: segunda e última parte.