O
momento que vive o futebol carioca, trouxe à tona um assunto de
grande interesse de minha parte, a criação de uma liga Nacional.
Quem acompanha o que escrevo, sabe que sou à favor de um campeonato
brasileiro disputado entre Fevereiro e Novembro, por um modelo bem
próximo ao do que discute o Bom Senso FC, quando se refere ao
calendário, mas aceito um estadual curto, de no máximo 12 datas.
Penso também, que o Flamengo deva ser o clube a desbravar estes
mares, sendo vanguardista e propositivo, mas como? Para que, com
quais objetivos? Em que modelo?
Estes
questionamentos são de tal complexidade que mereciam uma tese de
mestrado. Como aqui não é o “foro específico”, vamos
apresentar a discussão e levantar alguns pontos obscuros (mesmo que
não academicamente). Estive em uma conversa, com amigos, que tem
visões diferentes sobre o processo, e sobre o que vem ocorrendo.
Grandes questionamentos estavam presentes, inclusive sobre o futuro
dessa liga, contextualizando com o passado, que não obteve sucesso.
Para onde essa discussão toda sobre e de Federações/CBF x Liga nos
levará? Não sabemos. Caminharemos. Complexo. Tive dúvidas e o
Buteco é um lugar de ideias e reflexões importantes. Vamos as
considerações.
A
questão politica é primordial em minha visão. Ontem tivemos um
episódio que deixa claro, nem precisamos falar das discussões sobre
o campeonato carioca que ocorre desde Dezembro do ano passado. O
rebaixamento do Barra Mansa, apesar do erro técnico, tem todo o
jeito de ter sido político. O clube, estreante na 1ª divisão do RJ
esteve alinhado com Flamengo e Fluminense (Volta Redonda) até onde
deu. Sucumbiu ao poder de outros associados, e agora tem seu
rebaixamento decretado. Não duvido que caia para a 3ª divisão no
ano que vem...
Objetivamente,
há ainda a dependência financeira dos clubes, já que as federações
estão cada vez mais ricas e os clubes mais pobres, o que obriga aos
clubes, sem calendário decente, a tomar empréstimos que os prendem
neste círculo vicioso, favorecendo a “meia dúzia” de
interessados no status quo. O Flamengo já esteve incluso
neste balaio, faz pouco tempo. Não nos esqueçamos que dependíamos
de empréstimos da federação. Hoje não ocorre mais. E aí,
escolheremos pela ruptura processual ou pela ruptura definitiva?
Particularmente,
minha opinião oscila neste ponto. Mesmo tentado a romper
definitivamente, uma ruptura total traz consigo todo o ônus de se
entrar em choque com a estrutura. Não dá para entrar sozinho, lutar
sozinho, ou a estrutura te massacra! A gloriosa Copa União, e o
visionário “clube dos 13”, surgiram como ruptura, e se
transformaram em mais uma partícula de manobra da confederação
brasileira de futebol. Esse é o perigo! Uma ruptura deve ser
estruturada o suficiente para que uma liga não se transforme em
“mera federação” mais à frente. Eurico Miranda em 87 nos
ensinou do poder destas relações...
Talvez,
o “longínquo ano de 2012” nos leve a esquecer que o Flamengo é
um case de ruptura, uma ruptura processual. As eleições dos azuis
(parece que faz tempo, mas não faz) são um exemplo clássico
ruptura processual, executado por dentro do sistema. A mudança veio
de dentro para fora, graças ao desastre que foi a gestão anterior,
com indivíduos se associando em massa, ganhando poder com o voto,
dentro das regras, se organizando para impedir o pior. Isso poderia
ocorrer na estrutura política federativa do futebol brasileiro?
Respondo: talvez. Mas não acredito. É impossível! Ou quase, já
que a estrutura mata os pequenos, esmaga. Deveria ajudar, fomentar...
Como
construir essa liga, já que os exemplos de organização coletiva
dos clubes mostraram que é “cada um por si e Deus por ninguém”?
Tem que conversar, ceder, não dá para repetir o mesmo erro da
dissolução do clube dos 13. Inclusive, na época fui contra. Nunca
curti negociação individual de direitos de TV e outros contratos
análogos a uma liga, mesmo com o Flamengo sendo beneficiado por ela?
Estaríamos dispostos a renegociar direitos de TV? Qual modelo, qual
padrão? Americano, Inglês, Alemão, Espanhol? Complicado.
Coletivamente ganharemos mais, e continuaremos ganhando mais por
nosso tamanho. temos que ganhar pela competência, também.
O
modelo americano não caberia no Brasil, mesmo com o valorizado por
aqui, sistema de playoffs. Receitas divididas quase que
igualitariamente, sem rebaixamento. Não cabe. O modelo espanhol nem
pensar! Ainda mais que sabemos que a espanholização é fake... O
modelo alemão e inglês, onde se divide um percentual
igualitariamente por clube, outro por torcida e PPV comercializado e
outra parte por desempenho é um caminho seguro, aceitável. Par não
ficar em cima do muro, gosto da ideia de dividir entre os
participantes 40%, 30% pelo desempenho na competição e os 30%
restantes entre o tamanho da torcida e PPV vendido. Mas a discussão
é grande.
A
tão propalada Liga não pode funcionar como no modelo federativo
atual, mas caminharia em paralelo, de outra forma. A confederação,
no caso a CBF é a responsável pelo fomento do esporte, o futebol, e
por isso se utiliza das federações regionais para ajudá-la neste
serviço. Isso acontece? Deveria. Assim como a CBF deverá cuidar
exclusivamente da seleção brasileira e organizar um calendário
nacional, além de lutar pela racionalização de um calendário
continental. Como a função é a do fomento, a prioridade seria
formatar um modelo de calendário para os pequenos clubes, além de
apoio logístico, técnico, financeiro para a 3ª divisão nacional e
inferiores, já que a série A e a série B conseguem se manter
sozinhas.
A
Liga nacional, cuidaria do campeonato brasileiro da primeira e da
segunda divisão. Penso que tem condições de organizar, mas com
mudanças estruturais, iniciadas em funcionários profissionais que
trabalhariam exclusivamente na liga, pensando nela 24hs por dia.
Empresa que comercializaria todas as
propriedades, além de cuidar de aspectos mercadológicos e
desportivos, em um padrão. Uma identidade visual, um nome, formação
de um tribunal
de penas com regras claras (Chega de
STJD!), calendário racional, normas
para Matchday, gramado padronizado... Alguém que consiga trazer
regras, simplesmente organizar e vender o torneio.
Além
do Clube dos 13, existem outros dois modelos bem-sucedidos de liga no
país: a superliga de Vôlei e o NBB, Novo Basquete Brasil; duas
ligas com normas independentes, que atualmente trabalham em conjunto
com o modelo federativo. Mesmo que as federações estejam envoltas
de escândalos, as ligas ainda estão acima de qualquer suspeita, por
causa do modelo independente, que seria ótimo para o futebol. A
gestão é independente, o sistema age em conjunto com o modelo
federativo. Funciona assim no mundo inteiro. Até a NBA (exemplo
extremo) e as ligas americanas, por exemplo, tem acordos com suas
federações internacionais.