Irmãos rubro-negros,
que estupenda entrevista fez o Flavio H.
Souza (Pedrada RN) com o Luiz Eduardo Baptista, o Bap, e publicada no Mundo
Rubro-Negro: http://www.mundorubronegro.com/entrevista-exclusiva-com-luiz-eduardo-baptista-o-bap/
Bastante esclarecedora, a entrevista
escancarou as vísceras da formação, ainda em 2009, do grupo político que
culminou na criação da “Chapa Azul” e na eleição de Eduardo Bandeira de Mello para
presidente do Clube de Regatas do Flamengo, no pleito de dezembro de 2012.
Após praticamente dois anos de gestão
conjunta, o Bap decidiu se desligar da diretoria, apontando como razão da
ruptura divergências a respeito do procedimento decisório.
Em outras palavras, segundo o Bap, houve
quebra do acordo previamente ajustado quanto ao modo pelo qual as decisões
seriam tomadas.
Embora o modelo delineado pelo estatuto do
Flamengo seja presidencialista, havia um acordo de cavalheiros para que as
decisões fossem tomadas por um colegiado, o Conselho Diretor, formado pelas
pessoas que integram o “núcleo duro” do grupo político dirigente.
Nas palavras do Bap, paulatinamente as
decisões passaram a respeitar menos as orientações do colegiado e a obedecer
mais a vontade do presidente Eduardo Bandeira de Mello, dando ensejo à perda de
confiança não apenas em relação a certas pessoas, mas também quanto à
possibilidade do atual mandatário conduzir o Flamengo ao patamar de grandeza que
lhe é inerente.
Bap deixou claro que o rompimento é definitivo
e que já articula nos bastidores apoio político para a formação de uma chapa de
oposição, que poderá contar inclusive com membros que permanecem na diretoria.
Não há dúvidas: foi dada a largada, talvez
prematuramente, com possíveis reflexos no futebol do clube, para a disputa
eleitoral que ocorrerá em dezembro deste ano.
...
Analisando a entrevista, e desde já
deixando claro que comento de fora, sem qualquer familiaridade com os fatos que
se desenrolaram, e ainda se desenrolam, na política do clube, acho que o Bap realmente deve
ter suas razões para abandonar uma gestão que ele ajudou a formar.
Não duvido que com o passar do tempo tenha
havido uma maior centralização do poder decisório nas mãos do presidente
Eduardo Bandeira de Mello.
Agora, com o devido respeito, e aqui,
reitero, emito uma opinião à distância, não me convence muito esse conversa de
que “as decisões eram colegiadas, tomadas pela vontade da maioria”.
Explico: o Bap é muito inteligente e, ele mesmo
confirma isso, parece ser uma pessoa de personalidade muito forte; como tal, aparenta
possuir uma opinião altamente elogiosa sobre si mesmo; isso, por sua vez, acarreta,
em regra, uma sensibilidade aflorada no lidar com críticas e perspectivas
contrárias; daí certa tendência para impor suas opiniões.
Embora até acredite que, uma vez decidida
a questão, e ainda que fosse voto vencido, ele a respeitasse, acho que o Bap é
um sujeito dificílimo de conviver num ambiente de tomada de decisão coletivo. Ele
parece ser uma pessoa que tenta de todas as formas fazer valer o seu
entendimento, e que não aceita fácil ou passivamente o êxito de uma proposta
divergente.
Então, essa idéia da “decisão colegiada”, em
se tratando de uma pessoa de personalidade notoriamente forte e impositiva,
fica, naturalmente, um tanto quanto relativizada.
Que o Flamengo, por sua grandeza, deva evitar uma administração personalista, está certíssimo; que duas ou mais
cabeças pensam melhor que uma, sobretudo quando o emocional está intensamente
envolvido no processo, idem.
Mas, a despeito de concordar integralmente
com essas afirmações, creio, também, que há uma certa fogueira de vaidades a
queimar na Gávea, de um lado e de outro.
Esse racha não é bom para ninguém, muito menos
para o Flamengo. O ideal, tenho certeza, seria a solução ventilada pelo Flavio,
a respeito da possibilidade de um reencontro e da composição de uma chapa
única, contando com o EBM, Bap, Wallim e todos os que integram o núcleo do
grupo político.
...
Concorde-se ou não com as razões invocadas
pelo Bap para a ruptura, o fato é que algumas observações dele estão corretas e
deveriam servir para melhorar a gestão do clube.
Nesse sentido, as lutas que se avizinham
para o Flamengo serão duríssimas e exigirão do clube uma postura muito mais
firme e corajosa do que temos visto recentemente, como, por exemplo, no
revoltante episódio envolvendo as ofensas dirigidas pelo tal Rubinho ao presidente Eduardo Bandeira de Mello.
O Flamengo, diante da humilhação sofrida pelo presidente do clube numa reunião do Conselho Arbitral, deveria ter
rompido imediatamente com a Ferj, abandonando o Campeonato Carioca ou mandando a campo
apenas o time reserva.
O clube deve, sim, lutar pela criação de
uma Liga e livrar-se de vez desse bando de sanguessugas, pois sem o Flamengo o
futebol carioca não existe.
Mas além da briga pela criação
de uma Liga, a ocasião exigia do Flamengo um posicionamento muito mais firme e incisivo em relação à Ferj e ao campeonato.
E se porventura os contratos de transmissão firmados e os estatutos arcaicos
que prendem os clubes como escravos não nos permitissem a ruptura total, que ao menos
o clube desprezasse a disputa, botando em campo apenas o time reserva.
No fim, embora "sob protesto", jogamos pra valer, lotamos o Maracanã e enchemos o bolso do Rubinho e afins de dinheiro. Pior, não fomos para a final em virtude de um roubo descarado. Nem aquele milhãozinho de reais da Taça Guanabara nós botamos no cofre.
Em suma: vivenciamos um vexame, dentro e fora de campo.
Em suma: vivenciamos um vexame, dentro e fora de campo.
Além disso, está cada vez mais evidente
que o Flamengo necessita urgentemente de um estádio próprio, se pretende
ombrear com os maiores clubes do país e do continente.
O Flamengo hoje é mantido como refém do
Maracanã.
Enquanto o Cruzeiro, por exemplo, fica com
72% da renda que sua torcida proporciona no Mineirão, o Flamengo, o trem pagador
não apenas da Ferj, do Eurico e de uma infinidade de clubes minúsculos, fica no
máximo com 30% do que a Nação Rubro-Negra gera de receita no Maracanã.
Nosso ginásio só saiu, se é que sairá,
depois que houve uma mobilização incluindo diretoria, torcida e alguns setores
da imprensa.
Como construiremos nosso estádio num meio sórdido como são a política e o futebol brasileiros, e em particular
o contexto carioca?
Com certeza não será agindo com fleuma, pedindo
licença e por favor.
Portanto, na minha humilde opinião, falta
à diretoria, às vezes, adotar uma postura menos polida e mais agressiva. Não
adianta defender-se com uma pena a quem lhe ataca com um porrete.
...
No mais, continuo fervoroso entusiasta da
diretoria e de tudo o que tem sido feito em prol do Flamengo. Sou grato, de
coração, por terem resgatado o Mais Querido das mãos de um bando de
incompetentes oportunistas.
Mas é preciso ouvir com atenção as
críticas pontuais de quem deseja o bem do Flamengo. E isso engloba também a
gestão do futebol, ainda muito aquém do que tem sido realizado extra-campo.
A gestão capitaneada por Eduardo Bandeira
de Mello revolucionou o modo de gerir o Flamengo. Trouxe para o clube as mais
modernas práticas de governança corporativa e hoje o Flamengo voltou, ao menos
fora de campo, a ser a maior referência do futebol brasileiro.
...
Dentro de campo, o Mengão venceu e
classificou-se para a próxima fase da Copa do Brasil, eliminando o jogo de volta.
A despeito da fragilidade do adversário, o
jogo foi tranqüilo, com o Flamengo dominando amplamente as ações desde o
início.
O Flavio, ontem, fez uma ótima análise da
partida, que eu subscrevo integralmente.
Apenas gostaria de corroborar o que foi
dito por ele a respeito do Mugni, que surpreendentemente jogou bem de volante, mostrando
boa desenvoltura para a posição.
Mas eu indago: esse deslocamento do Mugni é
fruto da visão do Vanderlei Luxemburgo, ou seria mais uma invencionice do
técnico?
Além do Mugni, e como muito bem observado
pelo Flavio, quem também entrou bem foi o estreante Almir.
Fazendo o que Márcio Araújo, Gabriel e Everton
não possuem condições de realizar, que é botar a bola no chão e fazê-la girar,
o Almir estreou bem, quase marcando um bonito gol em jogada individual.
Sua atuação demonstra algo constatado pela
torcida há muito tempo, e com particular ênfase pelo nobre Carlos Mouta: a
necessidade premente do Flamengo contratar um jogador que pense no meio de
campo do time.
Evidentemente, esse jogador não é o Almir
e tampouco é o Arthur Maia.
Resta ao clube fazer um esforço e buscar um
jogador com essas características no mercado.
...
Abraços e Saudações Rubro-Negras a todos.
Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.