Um clube multi-facetado. Claro que, normalmente, o torcedor pensa no Flamengo como um clube de futebol, onde joga o seu time, o Flamengo. Mas não é bem assim. O Flamengo não foi originalmente pensado como clube de futebol, certo? Sabemos todos. Foi idealizado como um clube de remo do bairro do Flamengo, por, dizem, jovens angustiados de assistirem outros jovens do bairro vizinho de Botafogo conquistarem as meninas da região. Se organizaram, fizeram vaquinha para comprar as embarcações (a primeira, "Pherusa", afundou na primeira viagem) e formaram um clube de remo de fato e de direito. É assim que se faz, é assim que se realiza. Da ideia se faz a ação. Mesmo que imperfeita, a realidade é feita das ações. E com tantas ideias rondando o Flamengo, como vimos, desde sua criação, hoje temos um clube que é uma "indústria" de serviços de convivência social, esportivos, entretenimento, educacionais e, claro, "religiosos", considerando o Flamengo como um "ente religioso" a ocupar a mente e alma de seus milhões de torcedores.
Um clube. Vários caminhos e camadas. |
E o mundo hoje é bem complexo. E caro. Dispendioso nos mínimos detalhes. Para fazer esta roda girar com o mínimo de qualidade é preciso controle, processos, cadeias de comando, disciplina, orçamento, equilíbrio financeiro, jurídico, estabelecimento de hierarquias de responsabilidades e, vamos combinar, Direção executiva altamente capacitada.
Não cabe mais, nesta altura de campeonato, uma Direção formada na base do "vamos lá", "quem manda sou eu", "não tenho plano nem projeto mas eu sou foda". Isto acabou. A Lei de Responsabilidade Fiscal Rubro-Negra, espera-se, deu um basta neste tipo de aventureiro falastrão. Do nome pomposo e ideias vazias. Hoje exije-se projetos com Organização e Métodos. O Flamengo vai crescendo suas receitas e atingindo o equilíbrio financeiro. Em poucos anos terá a receita do mesmo tamanho de sua dívida.
E tudo isto o que temos? O multi-facetado. É toda área social para cuidar. Com seus custos além da receita que a unidade social gera. Mas é demanda de seus associados, ou pelo menos parte importante deles, que tem o convívio social dentro da sede como parte essencial de suas vidas. E temos também todo o segmento poli-Esportivo. Histórico e essencial do que o Flamengo é. E o poli-esportivo exige hoje um profissionalismo bem maior. Comissões técnicas de ponta, atletas e estruturas adequadas para o grau de competitividade necessária para o Flamengo, que nasceu para estar sempre no topo. E tudo ficou muito caro. Então precisa-se de projetos de incentivo para vir dinheiro. E para vir projetos de incentivo o clube precisa estar economicamente equilibrado, pagando suas dívidas e ter gente capacitada para inscrever projetos que possam ser aceitos e remunerados. Atletas de competição não são mais amadores. Querem patrocínio, ou bolsas, querem técnicos e equipamentos de treino à altura de seus competidores. Para um clube, que não recebe ajuda do Governo Federal, é muito caro de se manter. Exige-se também a contratação de...Diretor Executivo para estar à frente de forma profissional, diariamente. E para contratar um Diretor Executivo top de linha, é preciso que ele, além de estar satisfeito com a remuneração, claro, precisa confiar na equipe dirigente que estará acima dele. O VP é o Alexandre Póvoa? Fica muito mais fácil vir do que um qualquer aí, "indicado político".
Paralelo a isto, a razão de ser, o futebol. Altamente turbinado e problemático. O que era aposta vira solução. O que era solução até uns meses atrás, se torna problema. Jogadores, geralmente com dificuldades cognitivas, péssima formação cultural e educacional, muitas vezes vindo de lares desfeitos, rumam a grandes centros de futebol na esperança e sorte de seu talento vingar. E alguns deles chegam no Flamengo. Se o clube não tem um Centro de Inteligência adequado, vai chegar qualquer um, não é mesmo? Flamengo vira apostador de risco. E, sabemos, o rico mesmo é o cassino. Mas, o Flamengo, entre crises e contratações dúbias, formou sim o seu Centro de Inteligência. Agora softwares, câmeras, equipamentos, monitoram jogadores e estudam a viabilidade de contratação de outros. As apostas serão mais certeiras com o tempo, diminuindo o risco. Assim como qualquer treinador terá acesso a informações que poderão ser utilizadas para solucionar deficiências observadas nos jogadores tanto em jogos como em treinamentos.
E isto é caro. É dispendioso. Precisa de...Diretor Executivo, controlando a situação de forma profissional. Precisa também de projeto para o setor, para saber até onde quer chegar com a Base, por exemplo, porque não vende ninguém, porque pouquíssimos são aproveitados, porque tanta deficiência, em jogadores sub-20, em finalizações, passes, dribles, marcação, cruzamentos. Algo está bastante errado. É preciso rever os processos. E para isto, claro, exige-se outro enorme investimento em tempo, profissionais, capacitação e...dinheiro. Tanto tempo legado a amadores, que colocavam, talvez, jogadores de amigos e parentes, nos quais passavam a mão no ambiente caótico sem disciplina, não tem mais vez.
O Flamengo, portanto, não é só futebol. Não é só social. Nem só remo. Nem só vôlei. Nem só basquete ou natação. O Flamengo é tudo isto aí. E não adianta negarmos, quisermos priorizar um lado ou outro. O Flamengo não nasceu para ficar limitado a um braço. Bem organizado e forte economicamente terá braços o suficiente para abraçar o universo. Bem organizado e forte, este é o mantra.
Flavio H Souza
Twitter: @PedradaRN
Flavio H Souza
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