sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Falar... do quê?

Com o futebol já em clima de férias - tanto na postura dos jogadores quanto no interesse da torcida - entramos naquela fase do ano de abordar outras temáticas do universo Flamengo. A idéia aqui é propor uma tabelinha com o texto de 3a feira do Luiz Filho e ir um pouco além no debate sobre a comunicação do Flamengo.

Toda forma de comunicação pressupõe uma mensagem, um emissor, um meio ou canal e um receptor a quem ela é direcionada. No caso do Flamengo, historicamente, a confusão sempre aconteceu em todas as três partes, começando pelo emissor. Quantas vezes não vimos o presidente falar uma coisa, o vice de futebol falar outra e o técnico falar uma terceira? Isso sem contar com as famosas “raposas felpudas”, “conselheiros influentes”, insiders, funcionários que não quiseram se identificar e por aí vai.

Os canais não costumam ser menos confusos, com raras exceções. Notícias sem fatos e declarações retiradas de contexto já fazem parte do cotidiano do rubro-negro, sem esquecer das famosas Barrigas, especialidade da imprensa radiofônica do Rio de Janeiro.

Mas o ponto que quero abordar mesmo é a relação entre a mensagem e o receptor. A comunicação do Flamengo é (ou talvez devesse ser) direcionada principalmente a dois grupos que não necessariamente comungam dos mesmos interesses nem são afetados da mesma forma nos diferentes canais. Falo obviamente dos sócios e de todos os torcedores que não pertencem ao quadro social do Clube. Essa diferença ficou cristalizada em uma declaração da ex-presidente quando disse que dava prioridade total aos interesses do sócio, já que o torcedor não vota. Ocorre que, apesar das consequências políticas dessa escolha, ela pode indicar um caminho para orientar uma discussão entre a diferença de interesses dos dois grupos em questão e da melhor maneira de atendê-los ou, ao menos, comunicar-se com eles.

Comecemos com os torcedores, que são a maioria e, na opinião deste que escreve, a razão de ser do Flamengo. O interesse do torcedor em geral se resume a uma palavra: Título. Antes que comecem a voar as cadeiras do Buteco, convém lembrar que toda generalização apesar de burra, busca apenas encontrar um denominador comum em grupos de grande (ou enorme) complexidade. A maior parte de nós deve conhecer rubro-negros de todos os matizes, desde gênios historiadores até pensadores analistas do jogo e fanáticos apaixonados. Mas também conhecemos caras que não sabem sequer quando o Flamengo joga e apenas olham o resultado no jornal para sacanear os rivais. E no fim das contas, seja pelo amor incondicional ao Mais Querido ou apenas pela gozação ao vizinho, as vitórias e os títulos do Rubro-Negro são o que une os desejos de todos nós.

Deixo então aos amigos, um primeiro tema a ser debatido, que seria o que a diretoria atual do Flamengo teria para comunicar ao seu torcedor, que viu o time brigar dois anos seguidos (nessa gestão) contra o rebaixamento, mas ser campeão nacional em 2013 e estadual em 2014. Interessa ao torcedor saber se o Flamengo é ou não um “clube-cidadão”? Se temos CND? Se a Holanda ou os Estados Unidos vão treinar na gávea?  Ou seria a montagem de um grande time, a contratação de novos ídolos e o respeito aos antigos? Quem sabe talvez a busca por preços de ingressos acessíveis sem que o Flamengo seja prejudicado cada vez que jogar no Maracanã? Ou ainda formas de torcedores de fora do rio de janeiro ficarem menos tempo sem ver o Mengo jogar em sua cidade ou em seu estado?

Na verdade, todas essas coisas têm sido feitas ou pelo menos tentadas, mas quanto disso chega de forma clara ao torcedor comum?

O universo do sócio não é menos complexo. A Gávea está longe de ser um primor de sede e os últimos anos não lhe foram mais generosos. Para o sócio também existem as preocupações com a situação financeira caótica do clube, que durante anos se dividia no dilema entre dar foco total ao futebol ou financiar o clube inteiro com seus recursos. E há ainda um mar de desinformação causado pela incessante disputa entre os diversos grupos políticos, que a cada eleição se mostram reagrupados em novas configurações.

Nesse flanco, o esforço do clube para se comunicar tem sido mais fácil de ser percebido. Desde os balancetes trimestrais aos informes enviados constantemente por e-mail, passando por reuniões do presidente com os sócios, a diretoria rubro-negra vem sempre buscando dar a todos ciência de suas ações e conquistas. Mas a formalidade dos comunicados e uma certa distância física para o associado vêm dando espaço para o crescimento do discurso dos descontentes. Esse aspecto se torna mais importante especialmente pela comparação com a gestão anterior, que se fazia presente de forma constante nas dependências da sede, sempre buscando mostrar aos sócios que o clube não estava abandonado. Aqui, talvez o meio seja quase tão importante quanto a mensagem, bem como o tempo em que as notícias são dadas.

No ano de 2015, um enorme desafio da diretoria será a construção de um canal de relacionamento mais forte com os sócios, especialmente os frequentadores da Gávea. Muitas vezes, acaba-se criando uma falsa confusão entre compreender e atender interesses com atitudes de cunho populista mas o mundo não é simples assim e o Flamengo muito menos.

Prestar atenção aos interesses dos sócios e dos torcedores não se opõe a tomar as medidas que o Flamengo precisa para ser saneado e nem necessariamente é sinônimo de gestão temerária. Uma das armas que a oposição vem usando, e que vem encontrando bastante receptividade, é o discurso de opor um Flamengo modernizado aos interesses dos torcedores e dos sócios. Entender de que forma pensa cada um desses grupos e como se comunicar com ele, é a melhor maneira de neutralizar esse discurso.

Para encerrar, vale ressaltar que o objetivo desse texto não é simplesmente criticar a política de comunicação do clube, mas apenas debate-la, em busca de soluções.


abraços a todos e SRN!