A percepção humana
funciona, às vezes, de forma bastante estranha. Da arquibancada do Maracanã,
tive a impressão de ver o Flamengo jogar contra um time nitidamente superior ao
nosso. No intervalo inclusive, comentava com alguns amigos no estádio sobre o
panorama do jogo que nos parecia bastante desfavorável, com o time sem meio de
campo, sem saída de bola e tendo que recorrer a chutões dos zagueiros e volantes
para a velocidade do Gabriel e do Éverton. Houve um momento inclusive, que
pareceu durar uma eternidade, em que o time rubro-negro assistia o adversário
tocar a bola em campo e nas arquibancadas a torcida assistia calada os mineiros
cantando alto no Maracanã.
O forte time mineiro veio
bem armado para o Maracanã, dificultando a saída de bola do Flamengo e atacando
usando toda a amplitude do campo. Especialmente no primeiro tempo, a armadilha
funcionou e a defesa do Flamengo ficou perigosamente espaçada, dando espaço aos
velozes atacantes oponentes, que felizmente não conseguiram aproveitar as
brechas na defesa.
Felizmente, no segundo
tempo o Flamengo foi bem melhor do que no primeiro tanto no campo quanto nas
arquibancadas. Mais organizado em campo e com os jogadores rubro-negros
voltando à compactação habitual o time conseguiu rearmar o forte bloqueio na
entrada da área mantendo o oponente longe do nosso gol. Defender, defender e
tentar encaixar um contra-ataque. Dentro das limitações técnicas do time,
pioradas pelas contusões, era o que dava para fazer além de contar, claro, com
o apoio da torcida que não vacilou. Cantando forte durante todo o segundo
tempo, a mística de tempo antigos espremeu o visitante entre o time e as
arquibancadas do gol da estrada de ferro. O mesmo gol onde Nunes venceu João
Leite nas imagens que os telões do Maracanã não cansaram de exibir, lembrando
bem aos mineiros onde estavam e o que teriam pela frente.
De volta ao jogo, a
disputa pelo controle do meio de campo quase não aconteceu e isso na volta pode
ser realmente decisivo. No Maracanã, os mineiros tocaram a bola com bastante
desenvoltura e movimentação, enquanto os rubro-negros equilibraram na vontade,
com dobras na marcação e às vezes até com uma sobra. O grande problema é que,
sem Alecsandro, o Flamengo não conseguiu manter a posse de bola, que na maioria
das vezes era chutada para o ataque, batendo na defesa adversária e dando início
a uma nova ofensiva. Para confirmar a classificação para a decisão, uma das
questões que Luxemburgo vai ter que resolver é como conseguir controlar o ritmo
do jogo, que deve ser jogado num ritmo mais intenso.
Aqui uma pausa para falar
da evolução do Gabriel, coroada com uma jogada de craque em que ele mostrou
velocidade, habilidade e inteligência. Se o Flamengo de 2013 consagrou Paulinho
e o Brocador, o camisa 17 parece ser a bola da vez nesse final de 2014 e terá
sem dúvida, atenção especial de Levir Culpi na preparação para o próximo
confronto. Ainda assim, durante a maior parte do jogo de ida, ele não conseguiu
fugir da boa marcação dos mineiros e só conseguiu jogar quando teve mais espaço
no segundo tempo, pela esquerda do ataque. Duas boas arrancadas e, na minha
opinião, dois pênaltis, o primeiro marcado fora da área de maneira errada.
Para semana que vem, ao
contrário do que aconteceu nesse primeiro jogo, o panorama se mostra mais
favorável na próxima quarta-feira. Tendo que fazer o resultado, o adversário
virá para cima de nós com tudo logo no início, mas deixará espaços generosos
que precisaremos saber aproveitar. Mais ainda, será fundamental preparar o time
tanto para o caso de levarmos um gol cedo quanto para o caso de marcarmos um. O
exemplo do confronto que envolveu mineiros e paulistas nas quartas de final tem
que ser bastante estudado pelos jogadores, bem como o estilo do árbitro que for
escalado.
Creio que a postura deve
ser idêntica à que o Mais Querido teve no segundo tempo do jogo no Morumbi, em
que não apenas equilibrou o jogo mas conseguiu controla-lo, alternando jogadas
em velocidade com boas trocas de bola no meio. Da mesma maneira, o início
daquele jogo também serve de referência, em que o Flamengo tentou apenas se
defender e resistir à pressão do adversário jogando muito atrás e acabou
levando um gol antes dos 15 minutos. Somente quando avançou a marcação para a
sua intermediária é que o Flamengo conseguiu equilibrar o jogo e controlar o
adversário.
A história está a nosso favor,
jogando em casa ou fora, desde Zico, Nunes e Renato até Petkovic e Adriano. Sem
contar que a última semifinal disputada por um time rubro-negro no Mineirão
acabou com uma retumbante goleada dos visitantes.
Mas antes disso ainda
temos que passar pela Chapecoense.
abraços a todos e SRN!