sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Percepções

A percepção humana funciona, às vezes, de forma bastante estranha. Da arquibancada do Maracanã, tive a impressão de ver o Flamengo jogar contra um time nitidamente superior ao nosso. No intervalo inclusive, comentava com alguns amigos no estádio sobre o panorama do jogo que nos parecia bastante desfavorável, com o time sem meio de campo, sem saída de bola e tendo que recorrer a chutões dos zagueiros e volantes para a velocidade do Gabriel e do Éverton. Houve um momento inclusive, que pareceu durar uma eternidade, em que o time rubro-negro assistia o adversário tocar a bola em campo e nas arquibancadas a torcida assistia calada os mineiros cantando alto no Maracanã.

O forte time mineiro veio bem armado para o Maracanã, dificultando a saída de bola do Flamengo e atacando usando toda a amplitude do campo. Especialmente no primeiro tempo, a armadilha funcionou e a defesa do Flamengo ficou perigosamente espaçada, dando espaço aos velozes atacantes oponentes, que felizmente não conseguiram aproveitar as brechas na defesa.

Felizmente, no segundo tempo o Flamengo foi bem melhor do que no primeiro tanto no campo quanto nas arquibancadas. Mais organizado em campo e com os jogadores rubro-negros voltando à compactação habitual o time conseguiu rearmar o forte bloqueio na entrada da área mantendo o oponente longe do nosso gol. Defender, defender e tentar encaixar um contra-ataque. Dentro das limitações técnicas do time, pioradas pelas contusões, era o que dava para fazer além de contar, claro, com o apoio da torcida que não vacilou. Cantando forte durante todo o segundo tempo, a mística de tempo antigos espremeu o visitante entre o time e as arquibancadas do gol da estrada de ferro. O mesmo gol onde Nunes venceu João Leite nas imagens que os telões do Maracanã não cansaram de exibir, lembrando bem aos mineiros onde estavam e o que teriam pela frente.

De volta ao jogo, a disputa pelo controle do meio de campo quase não aconteceu e isso na volta pode ser realmente decisivo. No Maracanã, os mineiros tocaram a bola com bastante desenvoltura e movimentação, enquanto os rubro-negros equilibraram na vontade, com dobras na marcação e às vezes até com uma sobra. O grande problema é que, sem Alecsandro, o Flamengo não conseguiu manter a posse de bola, que na maioria das vezes era chutada para o ataque, batendo na defesa adversária e dando início a uma nova ofensiva. Para confirmar a classificação para a decisão, uma das questões que Luxemburgo vai ter que resolver é como conseguir controlar o ritmo do jogo, que deve ser jogado num ritmo mais intenso.

Aqui uma pausa para falar da evolução do Gabriel, coroada com uma jogada de craque em que ele mostrou velocidade, habilidade e inteligência. Se o Flamengo de 2013 consagrou Paulinho e o Brocador, o camisa 17 parece ser a bola da vez nesse final de 2014 e terá sem dúvida, atenção especial de Levir Culpi na preparação para o próximo confronto. Ainda assim, durante a maior parte do jogo de ida, ele não conseguiu fugir da boa marcação dos mineiros e só conseguiu jogar quando teve mais espaço no segundo tempo, pela esquerda do ataque. Duas boas arrancadas e, na minha opinião, dois pênaltis, o primeiro marcado fora da área de maneira errada.

Para semana que vem, ao contrário do que aconteceu nesse primeiro jogo, o panorama se mostra mais favorável na próxima quarta-feira. Tendo que fazer o resultado, o adversário virá para cima de nós com tudo logo no início, mas deixará espaços generosos que precisaremos saber aproveitar. Mais ainda, será fundamental preparar o time tanto para o caso de levarmos um gol cedo quanto para o caso de marcarmos um. O exemplo do confronto que envolveu mineiros e paulistas nas quartas de final tem que ser bastante estudado pelos jogadores, bem como o estilo do árbitro que for escalado.

Creio que a postura deve ser idêntica à que o Mais Querido teve no segundo tempo do jogo no Morumbi, em que não apenas equilibrou o jogo mas conseguiu controla-lo, alternando jogadas em velocidade com boas trocas de bola no meio. Da mesma maneira, o início daquele jogo também serve de referência, em que o Flamengo tentou apenas se defender e resistir à pressão do adversário jogando muito atrás e acabou levando um gol antes dos 15 minutos. Somente quando avançou a marcação para a sua intermediária é que o Flamengo conseguiu equilibrar o jogo e controlar o adversário.

A história está a nosso favor, jogando em casa ou fora, desde Zico, Nunes e Renato até Petkovic e Adriano. Sem contar que a última semifinal disputada por um time rubro-negro no Mineirão acabou com uma retumbante goleada dos visitantes.

Mas antes disso ainda temos que passar pela Chapecoense.


abraços a todos e SRN!