sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Matar, morrer, sobreviver

Na última quarta-feira, quando o Mais Querido saía de campo após se classificar para as semi-finais da Copa do Brasil, um repórter, ao entrevistar o lateral Leo Moura, fez uma constatação e uma pergunta, pertinentes e interessantes: “Assim como no ano passado, o Flamengo faz uma campanha fraca no campeonato brasileiro, mas vai longe na Copa do Brasil. Por que o desempenho do time é melhor no mata-mata do que nos pontos corridos?”

Olhando para o histórico do Flamengo desde que o campeonato nacional passou a ser disputado em pontos corridos, fica bastante claro que essa realmente não é a nossa praia. Mesmo nos campeonatos em que tivemos bons resultados, a sequência 2007, 08 e 09, o forte da nossa equipe não foi a regularidade, chave para vencer esse tipo de competição. O próprio torcedor rubro-negro costuma ficar esperando pelas famosas arrancadas que levam milhares ao Maracanã. Mas é no mata-mata que a mística rubro-negra se mostra em toda sua força, imortalizada no famoso “deixou chegar f.....”.

Refletindo sobre o futebol brasileiro de pontos corridos, é fácil observar que quase sempre o campeão é um time que se mostra forte desde as primeiras rodadas. Ainda que a maioria dos times passem por momentos de oscilação, costuma vencer aquele que se prepara melhor para enfrentar esse momento. O planejamento necessário geralmente passa pela montagem de um bom elenco ou pela capacidade de neutralizar rapidamente as crises que surgem quando as vitórias escasseam. E estas são duas características muito pouco comuns no Mais Querido dos últimos anos.

O mata-mata ao contrário, dá a equipes mais inconstantes a oportunidade de jogar, ou até mesmo salvar, o ano em uma ou duas partidas. A história reescrita na grande exibição da temporada, num lance genial, de pura sorte, numa expulsão, ou no imponderável em campo. É a hora em que o planejamento enfrenta a disposição igualados pela imprevisibilidade do jogo e também, claro, pelos fatores extra-campo. Provocações, tabus, estatísticas e a pressão da torcida podem fazer muita diferença nessa hora. E talvez venha exatamente daí, uma certa preferência da galera rubro-negra pelos jogos decisivos.

Dentre os diversos motivos que o torcedor Flamengo tem para se orgulhar, a impressionante força da Magnética está sempre entre os primeiros. Todo rubro-negro frequentador de estádio tem pelo menos uma lembrança de um jogo tido como perdido que foi ganho no grito da torcida. Reconhecimento que nos é dado até pelos adversários, que podem até não temer nos enfrentar em pontos corridos, mas sabem que no mata-mata é outro papo, como o campeão brasileiro relembrou no ano passado.

Mas mesmo a Nação não mantém o fôlego ao longo das chatíssimas 38 rodadas do nosso campeonato brasileiro. Para aqueles que defendem os pontos corridos, é uma questão de tempo, de se acostumar ou até mesmo de educar os torcedores para entenderem que “cada jogo é uma decisão”. Pode ser que seja, realmente. Mas acho difícil convencer qualquer torcedor que um jogo numa quinta-feira à noite contra o Avaí pela 16ª rodada de um campeonato que dura o ano inteiro vai ter o mesmo peso de uma semi-final contra um rival histórico. A conclusão me parece bem simples. Daqui a 20 anos, independentemente dos resultados, dentre as duas mencionadas, de qual partida você vai lembrar?


abraços a todos e SRN!