O Flamengo, definitivamente, ainda não chegou ao ponto de nos dar duas alegrias em um mesmo dia, ou talvez tudo faça parte de um plano para não nos empolgarmos demais com um título mundial de basquete. Será que estou sendo muito amargo ou dramático? Bem, não foi uma goleada e sim uma derrota por apenas um gol; contudo, se teve uma partida que realmente me irritou desde que Vanderlei Luxemburgo assumiu o comando técnico do time, foi a de ontem. Lembrou-me muito o jogo contra o Goiás na Arena Pantanal, em Cuiabá: o time teve menos vontade que um adversário mediano, de elenco mais fraco, e foi sobrepujado exatamente por isso, mais até do que pelas opções do treinador na escalação, malgrado as consabidas e exaustivamente conhecidas limitações técnicas de nossas peças de reposição, mal de que padecemos e que nos inflige terrível sofrimento a cada vez que precisamos jogar sem um dos jogadores titulares mais importantes. Só que ontem todo mundo abusou da nossa paciência. Parecia um teste de controle emocional. Perder porque o adversário é superior tecnicamente é uma coisa; mas quando isso acontece porque o adversário correu mais, aí dá muita raiva. Muita. Fiquei, ao final da partida, com uma série de dúvidas. Mas vamos primeiro ao jogo.
***
Comentei com os amigos que estavam conectados ao Buteco logo antes dos dez minutos que o bate-e-volta da bola quando chegava no ataque do Flamengo era mau presságio. Fiquei com a impressão que Luxemburgo, em razão da suspensão de Cáceres e para não ter que escalar Amaral ou Recife, e ciente das severas limitações defensivas de Luiz Antonio, optou por recuar Canteros e Márcio Araújo, confiando que Luiz Antonio e Éverton levariam o time à frente, com isso mantendo o esquema tático, apenas mudando algumas peças de função. Ledo engano. Totalmente sem articulação, o meio foi completamente envolvido pelo Bahia no início da partida. No ataque, quando a bola chegava, Elton, fora de forma, não conseguia dar sequência a uma jogada sequer. Era como se o time estivesse com um a menos. Havia espaços pelo setor esquerdo defensivo do Bahia, mas como o homem de aproximação pela meia direita era o Luiz Antonio e Leonardo Moura permanecia plantado na defesa, nada de útil se criava. Já pela esquerda, Éverton, bem marcado, pouco fez. Em contrapartida, o Bahia atacava e o meio não conseguia bloquear.
Produto e consequência da letargia rubro-negra foram os dois gols do Bahia. No primeiro, falhas individuais e sequenciais, que começaram com Éverton tomando um lençol na intermediária e assistindo passivamente a progressão da jogada, passando por Samir, que permitiu o giro e o passe da lateral para o meio da grande área, e depois por Luiz Antonio e Chicão, que simplesmente assistiram ao giro e conclusão de Emanuel Biancucci para as redes, claro que com a colaboração final de Paulo Victor, mal colocado. Todo mundo só assistindo. Muito embora seja necessário reconhecer o mérito do adversário na articulação da jogada em alta velocidade, a passividade de todo o sistema defensivo na marcação foi decisiva para a abertura do placar em desfavor do Flamengo.
A partir de então o Flamengo se ligou e terminou o primeiro tempo jogando melhor do que o Bahia. Percebam que, naquela altura dos acontecimentos, Elton continuava em campo e a formação tática do time era rigorosamente a mesma do início da partida, o que, ao meu ver, é prova do que afirmei no início desse texto: apesar da formação e da escalação escolhidas pelo treinador provavelmente não terem sido as melhores escolhas possíveis, e eu até acho que realmente não foram, o principal problema era a postura do time. O certo é que, na saída para o intervalo, o empate parecia palpável, possível. Não era absurdo ter esperanças na volta para o segundo tempo.
Mas então veio o fator João Paulo. Olhem, ele até parecia que passaria incólume, mas resolveu, quem sabe por solidariedade aos seus companheiros, cometer um dos pênaltis mais sem sentido e irresponsáveis que já vi, com isso dando ao Bahia a oportunidade para ampliar o placar logo no comecinho da segunda etapa. Um verdadeiro balde de água fria. O time então demorou alguns minutos para absorver o baque. Naquela altura dos acontecimentos, Gabriel já estava em campo, substituindo Elton desde a volta do intervalo. Houve ganho em mobilidade e velocidade, mas o jovem baiano mostrou as mesmas deficiências de sempre nas conclusões, a mesma falta de objetividade. Ainda assim, João Paulo, tentando reagir, "achou" um daqueles velhos cruzamentos perfeitos e Eduardo da Silva deu a esperança de que o empate poderia chegar... até que foi substituído.
Com a substituição de Eduardo, provavelmente sem condições físicas ideais por estar voltando de contusão, foram-se as últimas chances do Flamengo voltar a marcar gols na partida. Percebam que, com Éverton "manjado", marcado em cima, sobrou para Luiz Antonio, Arthur e Gabriel, como jogadores mais adiantados, a função de concluir a gol. Como posso descrever esse quadro? Para mim, é como tentar furar cimento com uma broca de espuma. Não tem como dar certo. Ressalvados um ou outro ataque e uma boa defesa do Paulo Victor, o final do jogo foi o Bahia se fechando e o Flamengo rondando a grande área sem produzir absolutamente nada.
***
Vêm então as dúvidas, fazendo aqui a ressalva de que não estou condenando o Luxemburgo, pois as limitações do elenco são severas e as opções disponíveis não oferecem garantia alguma de melhora no rendimento da equipe:
1) por que, contra Goiás e Bahia, o time deu a impressão de correr menos que o adversário? Por acaso foram considerados jogos descartáveis? O time se poupou tendo em vista os compromissos seguintes? Ou o Flamengo sente dificuldades contra esse tipo de adversário, com jogadores mais rápidos e leves, e que imprimem forte marcação no meio? Se o time voltar a correr e marcar o adversário, como nas partidas anteriores, o que o torcedor deve concluir ao se lembrar da partida de ontem?
2) Arthur é um "leão-de-treino"? Quero deixar bem claro que não estou fazendo lobby por Negueba, Nixon ou Sartori, façam-me o favor, mas por que não rodar um pouco mais o banco e mesmo as substituições?
3) O Mattheus é absolutamente incapaz de jogar no meio campo do Flamengo? Renderia ainda menos do que o Luiz Antonio ou do que o Mugni, sendo então melhor manter os jogadores que vêm sendo utilizados, ainda que rendendo pouco?
4) Até o final do ano veremos os laterais reservas Leo e Anderson Pico em condições de dar alguma alternativa viável ao treinador nas laterais?
5) O Flamengo não consegue segurar time algum sem o Cáceres em campo?
6) Há algum volante na base que seja melhor do que o Recife ou o Amaral?
7) Há algum atacante na base que possa servir de alternativa ao Luxemburgo?
8) Quais são as perspectivas no Brasileiro daqui em diante, com a volta da Copa do Brasil?
8) Quais são as perspectivas no Brasileiro daqui em diante, com a volta da Copa do Brasil?
***
Quarta-feira tem América/RN na Arena das Dunas. O adversário está há dez rodadas sem vencer na Série B, sendo o primeiro time à frente da ZR; não venceu sob o comando do atual treinador (cinco jogos) e a torcida está em crise com o principal jogador do time, o camisa 10 Rodrigo Pimpão, que revidou xingamentos em razão de possível negociação com o Sport Recife e precisou ser contido por seguranças para não chegar às vias de fato com alguns torcedores, sendo acusado de render menos desde que a negociação se iniciou.
Além das perguntas do tópico anterior, tenho duas últimas antes de passar a bola pra vocês: 9) que time escalariam na quarta-feira? e 10) todo esse intenso e esmagador favoritismo do Flamengo pode provocar desatenção ou excesso de confiança?
Bom dia e SRN a tod@s.