Brasil ou FLAlemanha? |
Em janeiro publiquei um post cheio de erros e acertos, (O Que Você faria se Fosse Wallim ou Pelaipe?), que indicava os rumos que o Flamengo tomaria durante o ano e o que “deveria fazer” pra não passar sufoco. Pois bem, acreditei na mudança de estilo e na dinâmica de jogo. Nada mudou, até piorou. Botei fé nas contratações, que em condições normais de temperatura e pressão, renderiam bem Léo, Erazo, Feijão, Éverton, Elano, Alecsandro, caso trouxessem os três outros reforços que havia indicado. Aliás um veio: Canteros.
Naquele momento havia a grande possibilidade da saída de Hernane (que parece se consolidar agora) e a não vinda de Elias (que de fato aconteceu). Os nomes da lista foram especulados em algum momento no Flamengo, eram Lucas Pratto, centroavante e Ignácio Piatti, 26 anos, meia, além de Canteros. Veio Lucas Mugni. Se estivéssemos naquele momento montando o elenco e tivéssemos trazido aquelas peças, que eram discutidas por nós torcedores, estaríamos sofrendo como agora? Provavelmente não.
Tudo que descrevi foi um exercício de futurologia esperançosa e cega. Tudo que posso fazer como torcedor, mas que um clube profissional não deveria de jeito algum. A situação é desesperadora e hoje eu tentaria qualificar com nomes polêmicos, para tiro curto. Leandro Damião por empréstimo de 5 meses renováveis pra mais 12 meses, (ganha 400 mil/mês no Santos); Luís Ricardo, lateral direito, encostado no São Paulo (boa ideia do “rei do Cartola”, Hélio Santoro); Márcio Azevedo por empréstimo, já que está na Ucrânia.
Tudo um grande devaneio de minha pessoa, desespero puro. Aí vem o companheiro de Buteco e moderador do Blog, BCB, dá uma pancada na minha cabeça e coloca os pés no chão com argumentos que compartilho. Vamos a eles:
“Sei que muitos estão com olhos somente para o dia a dia do clube, para colocação no campeonato, e com razão. Também me preocupa muito, claro, mas eu não consigo deixar de me preocupar ainda mais com os planos do Flamengo, se é que existem, a longo prazo. O que pretende o Flamengo? Vamos ser um clube comprador, formador de atletas, vamos assumir um papel de protagonistas, de coadjuvantes? O que estamos fazendo, fora as finanças, para obter qualquer coisa?
Eu queria mais gente no Flamengo pensando sobre futebol, mas não basta ser um burocrata, eu queria gente com pensamento inovador, com uma abordagem moderna. Se eu fosse VP de futebol antes de contratar qualquer um para o departamento de futebol, primeiro escalão, o cidadão teria que me responder satisfatoriamente a seguinte pergunta:
- Como você vê o Flamengo hoje e qual a sua sugestão para colocar o Flamengo no topo? Colocar o Flamengo no topo, essa é a missão, tem que ser a obsessão, o mantra.
Pegando emprestado uma passagem do livro "Os números do jogo", o Flamengo e o futebol brasileiro são Davi e os gigantes europeus são Golias. Se formos enfrentá-los no jogo deles, GRANA, nunca vamos ganhar. Qual a abordagem para o Flamengo se tornar gigante de novo? Sinceramente, por mais difuso que seja o assunto, isso me preocupa muito mais do que eventuais times ruins pontuais que tenhamos, um jogador ou treinador que não gostamos, etc. O que quer o Flamengo?
A minha sugestão, que nada tem de original, é o Flamengo investir na base. Mas não é na estrutura, isso também, claro, é investir nas pessoas. Sabemos que o sistema educacional do Brasil é falido, que a média da educação aqui é péssima. O Flamengo tem que selecionar crianças com potencial e dar a elas tudo a partir dos, sei lá, 10, 12 anos. Educação de primeira qualidade, para sejam profissionais conscientes, inteligentes, bem formados. O Flamengo precisa fazer isso.
O futebol do século XXI é mais jogado com a mente do que o futebol do século XX, mais lento, mais intuitivo. Jogador burro só joga se for um fenômeno hoje, os clubes europeus, os grandes compradores, levam isso em consideração. A saída é essa, a chance do Flamengo tirar a diferença para os grandes clubes do mundo é formar seus próprios craques. Tem que mudar isso. Eu sou 100% favorável ao fim da concentração.
Vamos parar de sermos babás de jogadores, os caras têm que virar homens, serem responsáveis pelos seus atos. Caguei se vão pra noite, quem vai e quem não vai. Quero PERFORMANCE em campo, chega de paternalismo, de coleguismo, dessa merda. É ser profissional. Todo mundo sabe o que tem que fazer, simplesmente tem que fazer e arcar as consequências se não fizerem.
Senhores, hoje no Globo tem um artigo interessante falando como o 7x1 na Copa parece ter sido a gota d´água para a agora definitiva separação entre pátria e futebol, o que acho ótimo. Trazendo esse pensamento para a realidade do Flamengo, eu acho que estamos todos nós torcedores passando por um momento difícil e doloroso, que transcende o Flamengo, de uma mudança profunda no futebol.
O esporte está mudando, a maneira como ele é jogado, gerido e como a torcida se relaciona com ele, tudo isso já é diferente e será ainda mais no futuro. É duro deixar pra trás 70 anos de determinadas práticas mas quem não se adaptar, morre. Temos que lentamente deixarmos de lado algumas práticas, tipo a de querer achar salvadores da pátria. […] Acho que daqui a uns 20 anos vamos poder olhar pra trás e entender quantas mudanças estão acontecendo agora, e como foi complicado lidar com elas”.
Tem como não concordar com o que disse o BCB? Ele disse tudo o que gostaria de dizer neste momento de crise e não consegui verbalizar, muito menos digitar. O Esporte mudou, o futebol mudou. Dito isto, recomendo a quem gostar de esporte, aplicando ao futebol, o programa “Segredos do Esporte” da ESPN Brasil, capitaneado por Paulo Calçade, onde demonstra como o esporte brasileiro está no fundo do poço, talvez no calabouço da estrutura esportiva mundial. O Atraso é gigantesco.
Amigos, o que queremos do Flamengo? Não é fácil responder. Que tenhamos um Flamengo organizado no futebol, parte mais aparente de nossas falhas seculares, que o Flamengo consiga competir com os grandes clubes europeus, “os golias” a que se referia o BCB. Competir. Atualmente isso não é possível. Agradeço ao BCB mudar os rumos de uma coluna sem rumo. Estava bem perdido após a derrota contra a portentosa Chapecoense. Os dias difíceis passarão, com trabalho, mas qual trabalho? O que pretende o Flamengo?