sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Metas e Indicadores

Todos sabemos que Vanderlei Luxemburgo não propriamente uma unanimidade para a imprensa esportiva em geral. Entre as muitas críticas que se faz ao treinador, uma das mais comuns é falar, com um certo deboche, dos seus “projetos”.
 
Projetos, como tudo na vida, têm características distintas que passam pela relevância, orçamento, prioridade e prazos de execução sendo que os de longo prazo, costumam ser, mas nem sempre, os mais complexos e mais importantes. E um dos aspectos que os tornam mais complicados é justamente o acompanhamento do trabalho ao longo do tempo, isto é, como saber se o trabalho está evoluindo e no ritmo desejado. Nesse meio tempo, uma outra tentação frequente é a mudança dos objetivos do projeto. Ela decorre quase sempre do desempenho acima do esperado de algum dos indicadores escolhidos para avaliação do trabalho desenvolvido. Neste momento, costuma surgir o risco de se modificar os objetivos do projeto ou aumentando metas quantitativas ou ampliando o escopo de atuação da equipe.
 
Essa pequena reflexão sobre a natureza dos projetos serve para observar o momento do Flamengo no Campeonato Brasileiro e na temporada 2014 em geral. Estamos passando exatamente pelo momento descrito acima, em que o nosso indicador de aproveitamento de pontos disparou com a marca alcançada de 4 vitórias em 5 jogos. Começam a surgir, na imprensa, no clube e, claro, entre os torcedores, as expectativas de vôos mais altos, sendo, inclusive, perguntado ao treinador na coletiva após a vitória de quarta-feira. O seco “não”, dado como resposta por Luxemburgo, mostra um pouco do cuidado que o treinador vem tendo com o seu projeto atual.
 
Os resultados em campo não permitem negar a evolução que o time alcançou sob o comando do novo treinador. A comparação com o aproveitamento do antecessor é cruel e devastadora mas podemos falar também de outros indicadores. O time que era a pior defesa do campeonato sofreu apenas 2 gols nos últimos 5 jogos. O ataque que fizera apenas 7 gols em 12 jogos fez 5 nos últimos 5 jogos, sendo 3 em cruzamentos do João Paulo. E o time, que estava emocionalmente em frangalhos quando Luxa assumiu, agora tem a confiança para sair perdendo e, com o apoio incondicional da torcida – que parou de vaiar e passou a apoiar de verdade – conseguir virar uma partida contra um adversário com jogadores mais técnicos e um time mais bem armado. Mas mesmo assim, Luxemburgo continua batendo na tecla de que ainda precisamos “sair da confusão”.
 
Pessoalmente, concordo totalmente com essa postura e busco fundamentos para ela em outros indicadores, um pouco menos objetivos que os números que, afinal, não são tudo no futebol. O time está mais compacto, mas o gol marcado por Maicossuel mostra que a recomposição da defesa ainda é muito lenta e desorganizada. As laterais continuam sendo um problema grave, tanto pela falta de qualidade defensiva, resultado do péssimo posicionamento de Leo Moura e João Paulo, quanto da inacreditável falta de reservas para as posições. O problema das laterais, sacrifica os contra-ataques, pois prende os pontas do time para ajudar na defesa. E por último a falta de entrosamento em um meio de campo cuja escalação muda a cada jogo por conta de suspensões e improvisações – especialmente nas laterais – que não permitem que esse setor do time consiga desenvolver um bom conjunto.
 
Esse time – pela primeira vez no ano podemos dizer que o Flamengo tem um time – apesar de brigador ainda é extremamente frágil para alçar vôos mais altos. A falta de peças de reposição é um risco alto que não pode ser mascarado pelos bons resultados alcançados recentemente. Se existe um projeto – não do Luxemburgo, mas do Flamengo – de longo prazo para recondução do futebol do clube a um lugar de destaque, ele deve englobar metas intermediárias que devem ser buscadas gradualmente, sem desvios de rota ou mudanças de escopo. A primeira meta é chegar a pontuação que garanta o clube na primeira divisão, e a não redução de recursos na temporada 2015. O resto, por enquanto, são miragens e tentações, sendo a Copa do Brasil a maior delas.
 
Abraços a todos e SRN!