Muito difícil escrever esse texto. Como elaborar algo com um mínimo de serenidade diante do quadro de terra arrasada do Departamento de Futebol do nosso time? Bem, eu começo então afirmando que, se a expressão popular "o fundo do poço" precisasse de uma ilustração na vida real e no futebol profissional, teria como melhor exemplo a atuação do time do Flamengo ontem em Uberlândia. Não, não foi pelo placar, mas porque poucas vezes na minha vida vi um time tão desunido, sem vontade, alguns até explicitamente com comportamento debochado, completamente entregue fisicamente, desordenado no âmbito tático e inoperante em nível técnico. Assustou-me como até os que entraram no segundo tempo abaixavam a cabeça e desistiam dos lances diante da menor resistência apresentada pelos adversários. Some-se a isso a vice-lanterna da competição e o pedido de demissão de um dos principais nomes do movimento que levou a atual Diretoria ao poder no clube, o vice-presidente de futebol, e temos então o completo cenário de terra arrasada.
É ociosa qualquer análise em nível físico, tático e técnico, seja porque são evidentes as deficiências que a comissão técnica anterior legou à atual, seja porque não menos evidente é o sério problema de relacionamento dentro do elenco, visível pela forma titubeante e contraditória com que o treinador Ney Franco escalou a equipe nos cinco jogos que comandou o Flamengo. Nem quando conseguiu alguma evolução, caso da partida fora de casa contra o Santos, Ney teve coragem para repetir uma escalação que deixava dois dos mais "famosos" e experientes jogadores do time no banco de reservas. Ney ficou no meio do caminho entre escalar uma formação mais jovem e competitiva nesses últimos cinco jogos e tentar não desagradar jogadores mais velhos com o banco de reservas. Sua insegurança contribuiu para o desastroso resultado de doze pontos perdidos em quinze disputados, e parece ter rachado ainda mais um elenco que já era dividido.
Os gritos e o chilique de sua parte, noticiados pela imprensa após a partida, com todo o respeito, soam convenientes quando os jogadores já estão de costas para ele, rumo a vergonhosos quinze dias de férias concedidos pela Diretoria com o time na vice-lanterna da competição. Ney, definitivamente, não é um disciplinador. Resta à Diretoria compreender esse perfil e lhe dar suporte para trabalhar, ou do contrário o ambiente apenas se deteriorará e sua segunda passagem pela Gávea representará um embaraçoso tempo perdido.
***
Como reforçar um time que está muito aquém de seus adversários em nível físico? A identificação das posições carentes, nesse quadro, não é nem um pouco fácil. O grupo teve alterações desde 2013, mas não é significativamente diferente do que aquele que conquistou a Copa do Brasil e, quando o time jogava completo no Brasileiro, conquistava os pontos necessários e enfrentava de igual para igual até mesmo os adversários mais fortes.
Preocupa-me, por exemplo, a caça desenfreada a um meia de criação. Não que eu discorde da carência do elenco nessa posição e nem tampouco de sua importância, mas todos sabemos que há muito mais procura do que ofertas de boa qualidade no mercado. Espero, então, que as especulações vindas da imprensa para a contratação de Montillo, em decadência e que não conseguiu se firmar no obscuro e fraco futebol chinês, com salários no topo do mercado brasileiro sejam apenas boatos. Representaria falta de descortino e critério por parte de quem tem a responsabilidade de selecionar os reforços. Não havendo oferta, que se monte o time sem um meia tipicamente de criação, como muitas equipes competitivas conseguem.
Parecem-me tão ou até mais urgentes as situações da lateral esquerda e do ataque, além do goleiro, inclusive reserva, contando, é claro, que Léo, contratado para a lateral direita no início do ano, volte a jogar futebol.
***
O certo é que eu começaria essa reformulação do elenco com a dispensa das fontes do problema de relacionamento interno. O Flamengo não pode aceitar que Elano reclame pela imprensa da reserva e que Ney o escale na partida seguinte, dando-lhe satisfação. O Flamengo não pode ter em Leonardo Moura, de 35 (trinta e cinco) anos de idade, um lateral que sequer consegue mais voltar até a própria linha de fundo para marcar o atacante ou o lateral adversário, um jogador intocável, titular absoluto e insubstituível. O Flamengo não pode tolerar a forma física de André Santos e suas amplamente documentadas incursões noturnas.
Além disso, a atuação do elenco ontem, e nos jogos antecedentes, não pode passar incólume a uma severa avaliação e a precisas e essenciais dispensas.
Eu avaliaria ainda a situação de Alecsandro, de quem eu não tinha queixas até ontem, por conta das embaixadinhas na intermediária da defesa do Flamengo, que levaram ao segundo gol. A mim pareceu deboche e sacanagem. A conferir. Prefiro contar com a seriedade de Hernane, Cáceres, Wallace e Éverton, por exemplo, a ter esse tipo de boleiro no elenco.
Como dito antes, o treinador está longe de ser um motivador nato e muito menos um disciplinador. Sem comando, hierarquia, disciplina e união no grupo, a boleirada reinará forte e rebaixará o Flamengo.
***
Tenho respeito por Wallim Vasconcellos e espero que sua saída seja apenas do Departamento de Futebol, em cuja direção realmente cometeu uma desnecessária sequência de erros, nada obstante ter acertado em vários outros pontos da mesma forma. Sua presença, como um dos líderes e idealizadores de um bonito movimento que busca mudar o Flamengo, ao menos para mim é importante, apesar de, particularmente, receber bem seu afastamento do comando do Futebol.
***
E você, amig@ do Buteco? Concorda com essa avaliação? O que faria para restaurar o bom ambiente no Departamento de Futebol? Quem dispensaria? Sugestão de nomes? Você tem a palavra.
Bom dia e SRN a tod@s.