Olhando para o cenário dos
executivos de futebol no Brasil, acredito que o Flamengo escolheu o cara certo
para comandar o departamento. O grande senão é que, talvez, tenha sido na hora
errada, afinal, Felipe Ximenes é tido principalmente como um excelente gestor, com
foco no trabalho estrutural, e nesse momento, a Gávea vive a sua grande crise
da temporada 2014.
O novo diretor executivo
do futebol rubro-negro tem um histórico conhecido na organização e montagem de
estruturas profissionais nos clubes onde passou. Seu maior caso de sucesso é a
reestruturação do futebol do Coritiba, após a queda para a série B em 2009,
levando o time paranaense a duas finais de copa do Brasil. Na época, a gestão
do futebol coxa branca chegou a ser até tema de reportagem de revista
especializada em negócios e era tida como referência no futebol brasileiro.
O sonoro esporro dado nos
jogadores no estádio de Uberlândia apresentou aos torcedores uma outra face do
diretor, perfeitamente apropriada para o momento do Flamengo. E ainda que tenha
sido um alivio para muitos torcedores - que gostariam de ter a oportunidade de
esculhambar aquele bando - os boatos de que os jogadores ficaram incomodados
com a situação são sinais animadores e perturbadores. A tão falada falta de
comando ficou claramente exposta quando o capitão do time questionou a postura
do diretor ao dizer que "no Flamengo as coisas se resolvem na
conversa". Por outro lado, já estava mais do que na hora de aparecer no
clube alguém que chegasse para acabar com a bagunça quase oficial do
departamento de futebol. Era preciso mostrar que o clube - agora que paga em
dia - é quem manda nos jogadores e não o contrário.
A missão que foi delegada
a Felipe Ximenes, além de não ser nada fácil já começa com uma tarefa que vem
sido a tônica da gestão Bandeira de Melo à frente do Mais Querido: impedir que
o futebol atrapalhe todo o resto do trabalho de reestruturação do clube. Por
mais incrível que pareça, a maior ameaça ao bom trabalho que vem sendo feito
nas mais diversas áreas do clube é o péssimo trabalho desenvolvido até aqui no
futebol rubro-negro. Apesar dos dois títulos conquistados, parece consenso que
o departamento mais importante para 10 entre 10 torcedores do Flamengo está
longe de um caminho tranquilo e seguro. O caminho do sucesso do diretor passará
necessariamente por diminuir a fervura do caldeirão rubro-negro que acaba, mais
cedo ou mais tarde, incinerando qualquer trabalho de longo prazo desenvolvido
no futebol do clube.
Se conseguir sobreviver a
essa tarefa por tempo suficiente, o diretor poderá exercitar sua especialidade
moldando praticamente do zero um departamento de futebol inteiramente
profissional no Flamengo. Sua experiência em clubes com diferentes níveis de
organização, recursos, pressão e profissionalismo serão decisivas para que seja
elaborado, junto ao Conselho Diretor do Mais Querido um novo organograma em que
as funções e responsabilidades sejam definidas com clareza. Estabelecer qual a
atribuição de cada um (VP, diretor, gerente, supervisor) era uma das grandes
dúvidas que pairavam sobre o departamento durante a gestão Wallim/Pelaipe. A
indefinição que muitas vezes foi usada para despistar a imprensa sobre
negociações, acabou sendo explorada por opositores como demonstração de falta
de firmeza, e foco de ataques inclementes pela mídia esportiva sensacionalista.
Um excelente começo para
Ximenes seria promover uma verdadeira renovação no elenco rubro-negro, afastando
imediatamente os jogadores que vem demonstrando falta de profissionalismo,
independentemente do tempo de casa. Que ele tenha serenidade para evitar
decisões intempestivas e firmeza para não cair na conversa mole que já derrubou
tantos treinadores, gerentes, diretores, preparadores físicos, VPs, etc.
Abraços a todos e SRN!