sexta-feira, 6 de junho de 2014

O cara e a hora


Olhando para o cenário dos executivos de futebol no Brasil, acredito que o Flamengo escolheu o cara certo para comandar o departamento. O grande senão é que, talvez, tenha sido na hora errada, afinal, Felipe Ximenes é tido principalmente como um excelente gestor, com foco no trabalho estrutural, e nesse momento, a Gávea vive a sua grande crise da temporada 2014.

O novo diretor executivo do futebol rubro-negro tem um histórico conhecido na organização e montagem de estruturas profissionais nos clubes onde passou. Seu maior caso de sucesso é a reestruturação do futebol do Coritiba, após a queda para a série B em 2009, levando o time paranaense a duas finais de copa do Brasil. Na época, a gestão do futebol coxa branca chegou a ser até tema de reportagem de revista especializada em negócios e era tida como referência no futebol brasileiro.

O sonoro esporro dado nos jogadores no estádio de Uberlândia apresentou aos torcedores uma outra face do diretor, perfeitamente apropriada para o momento do Flamengo. E ainda que tenha sido um alivio para muitos torcedores - que gostariam de ter a oportunidade de esculhambar aquele bando - os boatos de que os jogadores ficaram incomodados com a situação são sinais animadores e perturbadores. A tão falada falta de comando ficou claramente exposta quando o capitão do time questionou a postura do diretor ao dizer que "no Flamengo as coisas se resolvem na conversa". Por outro lado, já estava mais do que na hora de aparecer no clube alguém que chegasse para acabar com a bagunça quase oficial do departamento de futebol. Era preciso mostrar que o clube - agora que paga em dia - é quem manda nos jogadores e não o contrário.

A missão que foi delegada a Felipe Ximenes, além de não ser nada fácil já começa com uma tarefa que vem sido a tônica da gestão Bandeira de Melo à frente do Mais Querido: impedir que o futebol atrapalhe todo o resto do trabalho de reestruturação do clube. Por mais incrível que pareça, a maior ameaça ao bom trabalho que vem sendo feito nas mais diversas áreas do clube é o péssimo trabalho desenvolvido até aqui no futebol rubro-negro. Apesar dos dois títulos conquistados, parece consenso que o departamento mais importante para 10 entre 10 torcedores do Flamengo está longe de um caminho tranquilo e seguro. O caminho do sucesso do diretor passará necessariamente por diminuir a fervura do caldeirão rubro-negro que acaba, mais cedo ou mais tarde, incinerando qualquer trabalho de longo prazo desenvolvido no futebol do clube.

Se conseguir sobreviver a essa tarefa por tempo suficiente, o diretor poderá exercitar sua especialidade moldando praticamente do zero um departamento de futebol inteiramente profissional no Flamengo. Sua experiência em clubes com diferentes níveis de organização, recursos, pressão e profissionalismo serão decisivas para que seja elaborado, junto ao Conselho Diretor do Mais Querido um novo organograma em que as funções e responsabilidades sejam definidas com clareza. Estabelecer qual a atribuição de cada um (VP, diretor, gerente, supervisor) era uma das grandes dúvidas que pairavam sobre o departamento durante a gestão Wallim/Pelaipe. A indefinição que muitas vezes foi usada para despistar a imprensa sobre negociações, acabou sendo explorada por opositores como demonstração de falta de firmeza, e foco de ataques inclementes pela mídia esportiva sensacionalista.

Um excelente começo para Ximenes seria promover uma verdadeira renovação no elenco rubro-negro, afastando imediatamente os jogadores que vem demonstrando falta de profissionalismo, independentemente do tempo de casa. Que ele tenha serenidade para evitar decisões intempestivas e firmeza para não cair na conversa mole que já derrubou tantos treinadores, gerentes, diretores, preparadores físicos, VPs, etc.

Abraços a todos e SRN!