sexta-feira, 16 de maio de 2014

Um flanco exposto


Esta semana, gostaria de convidar os amigos do Buteco a uma reflexão sobre o estardalhaço que foi feito acerca da demissão do antigo treinador rubro-negro.

O fato em si, a demissão, era algo absolutamente normal, esperado até, e desejado por muitos entre torcedores, dirigentes, comentaristas e, quem sabe, até pelos jogadores. Já não havia sobre a diretoria do futebol rubro-negro a aura de mudança de paradigma encontrada em outros departamentos, por conta das trocas de treinadores em 2013. De modo que, seguindo o padrão demonstrado até aqui, diga-se semelhante a todos os outros clubes do país, era natural demitir um técnico que ganhou apenas uma das últimas nove partidas.

O modo como foi feito, por sua vez, foi terrível e remontou às piores trapalhadas que foram frequentes no Flamengo em tempos não muito distantes. Tivemos vazamento de negociação, informações desencontradas circulando pela imprensa, demora no posicionamento oficial do clube, bate-boca e denúncias pipocando em rádios, emissoras de TV e portais da internet e críticas extremamente contundentes de jornalistas sérios e respeitados, além obviamente daqueles que não merecem ser lidos nem lembrados.

Não é meu objetivo explicar os fatos, nem tentar entender o que aconteceu de verdade no processo de demissão do Jayme e da negociação e contratação do seu substituto. Também vou deixar para os detetives da internet a montagem do quebra-cabeças que pode dizer de onde saiu o vazamento que detonou a crise. Mas desejo levantar um debate sobre o que envolve toda essa celeuma a respeito da postura encampada pela diretoria do Flamengo.

Lembremos por um instante da situação em que o clube estava dois anos atrás. Em plena crise com a saída do ex-craque dentuço, com uma diretoria perdida, que batia cabeça em todas as direções e um time que caminhava a passos largos para a tragédia. Os atuais comandantes do Mais Querido surgiram de fora do universo do futebol, trazendo esperança para a torcida e muita desconfiança para os habitantes tradicionais do mundo da bola. Com a vitória na eleição, começaram a surgir práticas que romperam diversos paradigmas rubro-negros, que íam da bagunça generalizada nas finanças do clube aos intermináveis vazamentos de informação.

De uma hora para outra, jornalistas perderam acesso irrestrito aos cargos importantes no clube. Setoristas não circulavam mais livremente pelo clube e pelo CT. Torcidas organizadas perderam os ingressos e por aí vai. Posteriormente, as novas práticas “desagradáveis” chegaram a nós torcedores, com ingressos mais caros e a quase que obrigação de se tornar sócio torcedor do clube para quem gosta de ir aos estádios. E todas as decisões sempre justificadas pelas políticas de austeridade, de arrumação da casa e por uma mudança na postura, de bagunçado e displicente consigo mesmo, para um clube sério e profissional.

Mas eis que surge uma situação em que o profissionalismo do clube falha fragorosamente em um processo que deveria ser simples. Erros em sequência criaram uma oportunidade de ouro para os opositores questionarem as práticas e a competência da diretoria do Flamengo. O vazamento da demissão do técnico, rapidamente foi parar até em acusações de racismo e respingar em outras ações do clube que nada tem a ver com o futebol. Mas na prática, teria sido o caso do Jayme mais sério do que os erros cometidos na demissão do Renato Abreu ou do gravíssimo – e ainda inexplicado – caso da escalação do André Santos?

A direção rubro-negra sabe que está promovendo transformações sérias em um universo complicado. Para dar uma idéia do impacto da transformação ocorrida, basta saber que o clube tido como o mais caótico em outros tempos recebeu essa semana um prêmio de administração mais transparente do futebol. Devem saber também, que essas transformações não estão agradando aos que ganhavam com o Flamengo caótico. O rebuliço causado pelo “caso Jayme” deu uma mostra muito clara dos esforços que serão feitos para desqualificar essa mudança de filosofia dentro do clube.  

No livro “A arte da guerra”, o general Sun-Tzu disse:
Atenção ao inimigo enraivecido que está preparado para confrontar-se com você por longo período sem travar batalha nem abandonar sua posição. Considere-o com o maior cuidado.

É algo que os comandantes rubro-negros deveriam considerar com muita seriedade.

abraços a todos e SRN!