Esta semana, gostaria de
convidar os amigos do Buteco a uma reflexão sobre o estardalhaço que foi feito
acerca da demissão do antigo treinador rubro-negro.
O fato em si, a demissão,
era algo absolutamente normal, esperado até, e desejado por muitos entre torcedores,
dirigentes, comentaristas e, quem sabe, até pelos jogadores. Já não havia sobre
a diretoria do futebol rubro-negro a aura de mudança de paradigma encontrada em
outros departamentos, por conta das trocas de treinadores em 2013. De modo que,
seguindo o padrão demonstrado até aqui, diga-se semelhante a todos os outros
clubes do país, era natural demitir um técnico que ganhou apenas uma das últimas
nove partidas.
O modo como foi feito, por
sua vez, foi terrível e remontou às piores trapalhadas que foram frequentes no
Flamengo em tempos não muito distantes. Tivemos vazamento de negociação,
informações desencontradas circulando pela imprensa, demora no posicionamento
oficial do clube, bate-boca e denúncias pipocando em rádios, emissoras de TV e
portais da internet e críticas extremamente contundentes de jornalistas sérios
e respeitados, além obviamente daqueles que não merecem ser lidos nem
lembrados.
Não é meu objetivo
explicar os fatos, nem tentar entender o que aconteceu de verdade no processo
de demissão do Jayme e da negociação e contratação do seu substituto. Também
vou deixar para os detetives da internet a montagem do quebra-cabeças que pode
dizer de onde saiu o vazamento que detonou a crise. Mas desejo levantar um
debate sobre o que envolve toda essa celeuma a respeito da postura encampada
pela diretoria do Flamengo.
Lembremos por um instante
da situação em que o clube estava dois anos atrás. Em plena crise com a saída
do ex-craque dentuço, com uma diretoria perdida, que batia cabeça em todas as
direções e um time que caminhava a passos largos para a tragédia. Os atuais
comandantes do Mais Querido surgiram de fora do universo do futebol, trazendo
esperança para a torcida e muita desconfiança para os habitantes tradicionais
do mundo da bola. Com a vitória na eleição, começaram a surgir práticas que
romperam diversos paradigmas rubro-negros, que íam da bagunça generalizada nas
finanças do clube aos intermináveis vazamentos de informação.
De uma hora para outra, jornalistas
perderam acesso irrestrito aos cargos importantes no clube. Setoristas não
circulavam mais livremente pelo clube e pelo CT. Torcidas organizadas perderam
os ingressos e por aí vai. Posteriormente, as novas práticas “desagradáveis”
chegaram a nós torcedores, com ingressos mais caros e a quase que obrigação de
se tornar sócio torcedor do clube para quem gosta de ir aos estádios. E todas
as decisões sempre justificadas pelas políticas de austeridade, de arrumação da
casa e por uma mudança na postura, de bagunçado e displicente consigo mesmo,
para um clube sério e profissional.
Mas eis que surge uma
situação em que o profissionalismo do clube falha fragorosamente em um processo
que deveria ser simples. Erros em sequência criaram uma oportunidade de ouro
para os opositores questionarem as práticas e a competência da diretoria do
Flamengo. O vazamento da demissão do técnico, rapidamente foi parar até em
acusações de racismo e respingar em outras ações do clube que nada tem a ver
com o futebol. Mas na prática, teria sido
o caso do Jayme mais sério do que os erros cometidos na demissão do Renato
Abreu ou do gravíssimo – e ainda inexplicado – caso da escalação do André
Santos?
A direção rubro-negra sabe
que está promovendo transformações sérias em um universo complicado. Para dar uma
idéia do impacto da transformação ocorrida, basta saber que o clube tido como o
mais caótico em outros tempos recebeu essa semana um prêmio de administração
mais transparente do futebol. Devem saber também, que essas transformações não
estão agradando aos que ganhavam com o Flamengo caótico. O rebuliço causado
pelo “caso Jayme” deu uma mostra muito clara dos esforços que serão feitos para
desqualificar essa mudança de filosofia dentro do clube.
No livro “A arte da guerra”,
o general Sun-Tzu disse:
“Atenção ao inimigo enraivecido que está preparado
para confrontar-se com você por longo período sem travar batalha nem abandonar
sua posição. Considere-o com o maior cuidado.”
É algo que os comandantes
rubro-negros deveriam considerar com muita seriedade.
abraços a todos e SRN!