Assistindo a tenebrosa atuação do Flamengo na quarta-feira, fiquei
imaginando se o Ney Franco iria conseguir deixar o time ainda mais
bagunçado do que estava com o Jayme. Inevitavelmente surge o argumento
de que o técnico acabou de assumir o time e mal teve tempo de treinar,
etc, etc, etc. Ainda assim, o recreativo de véspera de jogo foi
noticiado em diversos portais. Será que faltou tempo mesmo para
organizar o time?
Vejamos. O treinador espanhol que comanda o Bolívar, assumiu o time em
um domingo à noite, após uma sequência de resultados ruins no campeonato
local e na Libertadores. Na quarta-feira veio ao Rio enfrentar o
Flamengo e mostrou um time bem armado, com jogadores bem posicionados e
com proposta de jogo definida, que deu o resultado esperado. Em três
dias, com uma viagem internacional no meio. É algo que parece ser
impensável para 10 em cada 10 treinadores brasileiros, talvez com
raríssimas exceções e em casos muito especiais.
Paradoxalmente, a imprensa esportiva raramente comenta sobre a
baixíssima qualidade do trabalho feito pelos técnicos brasileiros e, ao
invés de incentivar a busca pela reciclagem, vive incensando os mesmos
"professores" de sempre, que oscilam entre os boleiros/churrasqueiros e o
disciplinadores/verborrágicos, passando pelos estagiários/inventores.
Talvez, o medo que os clubes têm de inovar no comando das equipes,
encontre algum vestígio de justificativa pelo fracasso de experiências
recentes, como a de Jorge Fossati no Internacional e Daniel Passarela no
Corinthians. Rumores de sabotagem dos jogadores, avessos a treinamentos
mais pesados e a cobranças mais sérias são freqüentes, além da sempre
lembrada "dificuldade de adaptação" dos estrangeiros.
O livro soccernomics menciona a importância da troca entre diferentes
escolas de jogo para crescimento da qualidade dos campeonatos locais e
até das seleções, especialmente com a importação de treinadores de
outros centros. É algo para se pensar, especialmente quando vemos um
treinador italiano e um argentino levando dois times espanhóis à decisão
da champions league. Vale lembrar também os outros dois
semi-finalistas, um time inglês dirigido por um português e um alemão
dirigido por um espanhol.
Olhando para o cenário nacional, não dá para imaginar a imensa maioria
dos nossos cartolas tradicionais estudando o mercado e buscando inovar
para crescer e evoluir. Uma mudança de paradigma deveria vir de gente
nova, com idéias novas, como a turma que assumiu o Flamengo. A parada
para a Copa seria uma oportunidade de ouro, com tempo para treinar e
montar um time a partir do elenco montado que está na média dos times
daqui. Infelizmente, não foi o que aconteceu.
A boa nova veio do Palmeiras, clube que tem uma situação política de evervescência
semelhante à do Flamengo e que vem tentando seguir um caminho de
austeridade e reestruturação também parecido com o nosso. Os palestrinos tiveram a
ousadia que nos faltou no momento da demissão do Jayme e foram buscar um
treinador estrangeiro, quebrando a quase reserva de mercado que existe
no nosso país para os técnicos brasileiros.
Não há como prever se vai dar certo mas para um time que acabou de
voltar da segunda divisão, talvez não haja muito a perder. Já no caso
rubro-negro, segue a interminável dança das cadeiras com o quinto
técnico em 17 meses. As notícias que saem nos portais dizem que o
departamento de futebol será reformulado até a parada para a Copa. Será
muito bom para o clube se essas mudanças tiverem a ousadia que fica
evidente na reestruturação jurídica, financeira e administrativa do
Flamengo, mas que fez tanta falta na hora da escolha do novo treinador.
abraços e SRN!