Saudações
flamengas a todos,
Essa
semana, dou continuidade à série que menciona as apostas de baixo
custo feitas pelo Flamengo em diferentes períodos de sua história,
mas as apostas que ficaram pelo caminho. Para quem não acompanhou,
repito a descrição da ideia.
“Penso
ser interessante recorrer à história para analisar três momentos
vitoriosos do rubro-negro, que redundaram nas equipes vencedoras em
80-83, 86-87 e 91-92.
Nessa
série, serão mostrados jogadores que vieram ao Flamengo como
investimento de baixo custo, trazidos de equipes menores ou
recrutados das divisões de base, com o objetivo de compor o elenco
e, talvez, crescer ganhando destaque.
Com um
pequeno porém.
Serão
listados os jogadores que, dentro desse contexto, não deram certo,
ou tiveram um sucesso apenas relativo. Os que ficaram pelo caminho,
sem conseguir (pelo menos no Flamengo) alçar voos que os levassem ao
caminho do protagonismo pleno.”
AS
APOSTAS ESQUECIDAS – PARTE II (1980 a 1983)
ATACANTES
- PONTAS
CARLOS
HENRIQUE (1978-1981)
Contratado
junto à Desportiva-ES, antes de ser incorporado ao elenco foi
emprestado ao Goiás para ganhar experiência. Rápido e arisco,
começou a ganhar sequência no time titular diante das recorrentes
lesões de Júlio César “Uri Geller” (o titular incontestável).
No entanto, nunca desfrutou de unanimidade junto à torcida, muito
por conta da sua extraordinária capacidade de criar e desperdiçar
oportunidades de gol. Ao final do Brasileiro de 1981, foi tragado
pela mini-reformulação no elenco e acabou negociado com o
Londrina-PR, onde se tornou ídolo. Também teve destaque no
Palmeiras, alguns anos depois.
SIVALDO
(1980)
Rápido,
agressivo e insinuante, parecia a aposta certeira para a reserva de
Júlio César “Uri Geller”, e foi com esse objetivo que foi
trazido por emprésimo junto ao Vitória-BA para o segundo semestre
de 1980. No entanto, não teve sorte. Lançado em uma excursão à
Europa, sofreu uma grave contusão logo no seu primeiro jogo como
titular, contra o Perugia-ITA, que o alijou do restante da temporada.
Ao final do ano, foi devolvido ao clube baiano, onde se recuperou e
voltou a ter destaque.
CHIQUINHO
(1981)
Revelado
pelo Olaria, onde foi destaque na conquista da Taça de Bronze de
1981 (espécie de Brasileiro da Série C), chegou ao Flamengo
indicado por Dino Sani, no segundo semestre. Exalava confiança, a
ponto de, ao ser escalado para o primeiro clássico contra o Vasco,
afirmar que “nunca me assustou, costumava ganhar deles pelo Olaria,
aqui vai ser até mais fácil”. Com as constantes brigas entre Tita
e a diretoria, foi amplamente aproveitado, agradando os torcedores
com seu futebol agressivo, veloz, de drible fácil e enorme
facilidade de criar chances de gol (embora a finalização não fosse
propriamente seu forte). Foi um dos reservas mais aproveitados na
vitoriosa temporada de 1981. No ano seguinte, começou a perder
espaço com a crescente ideia de Carpegiani de utilizar escalações
com dois volantes (Andrade e Vítor), e passou a não frequentar
sequer o banco de reservas. Com a contratação de Wilsinho, acabou
negociado com o Sport-PE. Ainda andou tendo certo destaque no Guarani
(que montou ótimas equipes em 1985-86), antes de se radicar no
futebol português.
POPEIA
(1982)
Único
reforço do Flamengo no primeiro semestre de 1982 (o clube havia
acabado de conquistar o Mundial), foi uma aposta pessoal de
Carpegiani, que viu naquele atacante do Colorado-PR capacidade de
preencher os requisitos de um futebol cada vez mais moderno e tático.
Com efeito, o forte de Popeia era a versatilidade, pois, apesar de
ponta-direita de origem, sabia atuar como meia, volante e até
lateral. No entanto, perdeu espaço após algumas atuações opacas
pela Segunda Fase do Brasileiro, sendo posteriormente aproveitado
apenas em algumas partidas do Estadual, quando o Flamengo usou times
reservas. Ao final do ano foi negociado com o Internacional, onde
também apareceu pouco. Faleceu, vítima de câncer intestinal, em
abril de 2014.
EDSON
(1979-1983)
Baixinho,
atarracado e abusado, vinha sendo preparado com carinho para ser
lançado no time titular do Flamengo. Ironicamente, acabou sendo um
dos pivôs involuntários para a queda de dois treinadores. Em 1980,
foi promovido na reta final do Campeonato Estadual, como uma das
medidas de Coutinho para tentar sacudir uma equipe acomodada. Foram
barrados Luís Pereira, Carpegiani, Nunes e Júlio César, o que
provocou considerável desgaste ao treinador. Anos mais tarde, em
1983, estava finalmente se firmando titular e vivia ótima fase, no
início do Brasileiro. Mas o time do Flamengo não estava bem (ainda
não havia se recuperado do fracasso no final da temporada anterior),
acumulava atuações opacas e, numa partida no Maracanã contra o
Tiradentes-PI, o treinador Carpegiani resolveu tirá-lo para promover
a estreia do jovem Bebeto. A saída de Edson, que era o melhor
jogador em campo, enfureceu os torcedores, que passaram a hostilizar
o treinador, que ao final da partida, já desgastado ao extremo,
preferiu pedir demissão (apesar da vitória por 2-0). Com o novo
treinador, Carlos Alberto Torres, Edson teve poucas chances e acabou
negociado. Foi campeão brasileiro pelo Coritiba (1985) e um dos
maiores ídolos do Cruzeiro do final dos anos 1980.
ATACANTES
– CENTROAVANTES
GERSON LOPES (1980)
Rápido, insinuante e aplicado taticamente, esse atacante matogrossense (veio emprestado do Mixto) foi o pivô involuntário da briga entre Coutinho e Cláudio Adão, no início de 1980. Nos amistosos de pré-temporada, foi efetivado na equipe titular, encaixando-se como uma luva no ataque. Seu grande momento foi a goleada sobre o Mixto em Cuiabá, onde marcou quatro gols na vitória por 7-1. Mas uma séria lesão no amistoso contra o Atlético-MG, o último antes do Brasileiro, impediu que Gérson Lopes tivesse melhor sorte no rubro-negro. Devolvido ao Mixto, acabou rodando por equipes de menor porte antes de se tornar dirigente.
ANSELMO
(1978-1982)
Revelado
na última safra dos anos 70, jamais chegou a ser seriamente cogitado
para a posição de titular, embora fosse uma boa alternativa para a
reserva, por conta de seu porte físico e futebol trombador. Com
isso, foi sendo mantido no elenco e, eventualmente, cavando suas
chances, como na Semifinal do Brasileiro de 1980, onde marcou um gol
de placa, naquele que talvez tenha sido seu grande momento no
Flamengo. Mas acabou marcado mesmo pelo soco dado no selvagem
zagueiro Mario Soto, do Cobreloa-CHI, atendendo a uma ordem do
treinador Carpegiani e lavando a alma de toda uma torcida (mesmo
suspenso, foi incluído na delegação que viajou a Tóquio, como uma
espécie de reconhecimento). Em 1982, teve algumas chances no time
titular, com a lesão de Nunes. Mas não as aproveitou, e ao final do
contrato deixou o Flamengo. Fora do rubro-negro carioca, viveu uma
passagem marcante no Ceará-CE, onde foi goleador, campeão e ídolo.
REINALDO
POTIGUAR (1981-1982)
Atacante
experiente, já havia acumulado passagens não tão frutíferas por
Santos (onde marcou em 1977 o gol da equipe no amistoso contra o
Cosmos, despedida de Pelé do futebol) e Internacional e parecia
viver o ocaso da carreira. Mas uma atuação antológica pelo Náutico
contra o próprio Flamengo, no Brasileiro de 1980 chamou a atenção
da diretoria rubro-negra, que tentou, durante exatamente um ano,
trazer o jogador (envolvido numa disputa judicial entre Santos e
Náutico sobre a propriedade do seu passe). Chegou enfim ao Flamengo
durante a temporada de 1981, onde dividiu com Anselmo a reserva de
Nunes. No ano seguinte, uma séria lesão de Nunes durante o
Brasileiro fez com que Reinaldo tivesse enfim a chance de uma
sequência de jogos. No início foi bem (marcou um dos gols da épica
virada flamenga por 3-2 sobre o Inter, no Beira-Rio), mas seu
rendimento acabou caindo e Reinaldo perdeu espaço. Incomodado com a
reserva, foi transferido em 1982 para o Vila Nova-GO.
GAÚCHO
(1982)
Com as
saídas de Anselmo e Reinaldo, a reserva de Nunes tornou-se um
problema para Carpegiani. Assim, o jovem Gaúcho, jogador de ótima
impulsão, muito bom cabeceador, aguerrido mas pouco técnico, foi
testado em alguns amistosos, onde não agradou. Acabou dispensado e,
ironicamente, a exemplo de Nunes, voltaria ao Flamengo anos mais
tarde, contratado junto ao Palmeiras (onde havia sido artilheiro). No
rubro-negro, entre 1990 e 1993, viveria os melhores anos de sua
carreira. Hoje é proprietário de um clube em Mato Grosso, onde se
radicou após pendurar as chuteiras.
JASSON
(1982)
O
Flamengo foi disputar um amistoso em Manaus-AM, e empatou a duras
penas por 2-2, sofrendo o diabo com um atacante corpulento, veloz e
de faro goleador, que marcou os dois gols de sua equipe.
Impressionada com o jovem Jasson, a diretoria providenciou sua
contratação para o segundo semestre de 1982, onde iria disputar
posição com Nunes. Mas Jasson, com sérias deficiências
fisiológicas (tinha vários focos dentários e sinal de
desnutrição), não conseguiu se impor diante de uma realidade que
sempre lhe pareceu adversa. Jamais conseguiu sequer ameaçar a
posição do titular, acanhou-se e ao final do ano foi negociado com
o Fluminense, onde também teve passagem apagada. Voltou ao Amazonas,
onde se tornaria treinador.
RONALDO
MARQUES (1980-1983)
Jogador
de boa técnica, desde cedo mostrou faro goleador, ao marcar o gol do
Flamengo logo em sua estreia, aos 17 anos, em um amistoso contra o
Itabuna-BA, em 1980. No Estadual, aproveitou uma suspensão de Nunes
e marcou o gol da vitória flamenga na difícil partida contra o
Goytacaz, em Campos. Após esse início fulminante, foi tratado como
uma joia em lapidação pelo Departamento de Futebol do Flamengo. Mas
nos anos seguintes, Ronaldo não conseguiu ter uma sequência
adequada de jogos, embora costumasse até marcar gols nos poucos
instantes que desfrutava em campo (a principal queixa dava conta de
sua certa lentidão em campo). Ao final da temporada de 1983, foi
dispensado, e ainda rodou por alguns clubes (foi reserva no Santos
campeão paulista de 1984) antes de finalmente estourar, marcando
gols e sendo decisivo no Bahia, na Portuguesa e no Cruzeiro, suas
melhores passagens.